quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 23


Foi este o nome da primeira história e vai ser o da última. Esta é mais carta do que história.
Entre a primeira e a última, a Maria cresceu, passou os anos rapidamente, através dos animais que por aqui passaram.
Neste momento já é a Maria com 64 anos, mulher, mãe, avó e amiga quem escreve.
Foi muito bom voltar atrás, rever velhos amigos, mas o Ano Velho vai acabar e vem aí um Ano Novo em folha. Espero que para todos seja um Bom Ano. Para os meus pequeninos fica a promessa de voltar na Páscoa. Estudem, brinquem, procurem ser felizes e fazer felizes os outros. Tentem aprender a gostar de ler.
Há histórias e livros de vários escritores que estou certa de que iriam gostar.
O Nabão já falou em 2: “Bichos” de Miguel Torga e “Cão como nós” de Manuel Alegre. Vou falar-vos de mais alguns: “Cinco réis de gente”, “Arca de Noé III classe”, “O livro de Marianinha” e o “Malhadinhas”, de Aquilino Ribeiro; “A menina do Mar” e “O Cavaleiro da Dinamarca”, de Sophia de Mello Breyner Anderson; “Constantino, guardador de porcos e de sonhos” de Alves Redol. E tantos, tantos outros, portugueses e estrangeiros. Ler é ver o mundo sem sair de casa. Isto não é sermão, é um simples conselho de alguém que sempre viveu e continua a viver no meio dos livros. O Nabão tem razão: eu gosto tanto de livros, como ele de “Línguas de gato”.
Para os mais velhos: A velha Maria deseja para vós, o que deseja para ela: Paz, Amor, Amizade, Saúde e alguns Euros para gastar.
Para todos vão beijinhos e a Amizade da
Maria


Bom Ano Novo

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 22


Qualquer pessoa pode ter um aquário. Desde aquelas taças redondas com um peixinho dourado lá dentro, até aquários grandes com várias espécies misturadas. É bonito, dá um certo ar de frescura e dizem que acalma.
Um dia, o meu marido e o meu filho mais velho, mergulhadores experientes, resolveram ter algo mais: um enorme aquário de água salgada. Construíram-no com todos os requintes, puseram filtros de limpeza, bombas de oxigenação, areia e algas. Resolveram que a água teria mesmo que ser do mar. Aqui começou a odisseia. Foram à Ericeira buscar cerca de 25 garrafões de água do mar. A seguir foram as caçadas no Portinho da Arrábida dos peixes, que tinham que ser pequenos e variados. Mais não sei quantas viagens, mais algumas aventuras.
Um dia apanharam um pequeno polvo que vieram pôr dentro de um garrafão, ao pé de mim. Estava eu, como é hábito, a ler, sinto uns pingos a caírem-me numa perna. Julguei que era o Vasco a salpicar-me e refilei. Pouco depois, sinto uma coisa subir-me a perna, olho e dei um salto, gritei, assustei as pessoas à minha volta. Era o polvo, o lindo polvinho agarrado à minha perna.
Vieram peixes, polvo, uma pequena santola, caranguejos, uma garoupa pequenina, que eu adorava e um peixe esquisito chamado marachomba. Tudo pequenino. Estava lindo de verdade.
Uma noite estávamos a ver televisão, olho para o chão e vejo o que me pareceu ser uma enorme aranha. Não era. Era um carangueginho lindo e esperto, que se tinha evadido do aquário. Voltou para lá, mas gostando do passeio, voltou e vinha com os irmãos. Isto, mais o facto de se comerem uns aos outros e à humidade que a água provocava, obrigaram-nos a novas viagens ao Portinho, para os devolver ao seu verdadeiro lugar.
Foi giro enquanto durou, mas jurei nunca mais ter aquários. Mas que era bonito, era.
Até amanhã com o último desta série.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 21


Hesitei muito antes de vos contar esta história. Primeiro porque acaba mal, segundo porque ainda me custa falar da Mimosa. Depois pensei que ela merecia aparecer aqui.
Encontrei-a na rua, perto de casa, com muitas feridas, uma patinha tão mal que quase se via o osso, uns restos de coleira e cheia de fome e sede. Não sei porquê, entre imensas pessoas, veio ter comigo e com o meu filho. Demos-lhe de comer e fomos com ela ao veterinário. Não era bonita, mas era alegre e simpática. O Nabão aceitou-a, num misto de desprezo e desconfiança. Pouco depois eram inseparáveis. Comia muito e depressa ficou gordinha e as feridas sararam. Tinha alguns defeitos: era porquinha, roía tudo. Uma noite quando cheguei a casa, tinha terra até à porta da rua, vasos virados em cima das carpetes e dos sofás. Outra vez comeu metade dos carapaus do jantar. Não era fácil lidar com ela. Quando lhe ralhava, em vez de ficar envergonhada, ficava tão contente, que dava vontade de rir. Era muito meiga, deixava o Nabão brincar com ela, brincava com tudo.
Uma manhã saiu de casa com o dono e o Nabão e não voltou. Uma bruta, com cara de mulher, carregou no acelerador, quando devia travar, bateu-lhe na cabeça, matou-a e fugiu. O meu marido vinha branco, o Nabão parecia aparvalhado, cheirava tudo o que era dela. Tive de deitar tudo fora. Ele durante dias parecia procurá-la em casa e na rua. Nós ficamos tristes, muito tristes, sobretudo o meu marido que assistiu a tudo.
É triste o fim da história. Mas houve partes boas. Ela foi feliz uns anos, deu-nos alegria e não sentiu a morte. Tudo e todos acabam um dia. A minha Mimosa durou pouco, mas foi feliz. Eu é que ao fim de tanto tempo, ainda choro quando penso nela. Sinto saudades da minha cadelinha, pouco bonita, um pouco burrinha, mas muito simpática e meiguinha.
Até amanhã com...

domingo, 28 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 20


Já uma vez contei a história do meu mocho sábio, que se chamava Arquimedes. Vou fazer um breve resumo para aqueles que não viram.
O Arquimedes, Memé para os íntimos, era um pequeno “mocho galego”, de grandes olhos, manso e meigo. Sendo uma “ave de rapina” nada tinha a ver com elas. Andava solto, pousava em nós, dava bicadinhas meigas que nunca feriram ninguém. Era brincalhão, como um gato ou um cão pequenos.
Ora nessa altura tinhamos também um passarinho muito pequenino, um “bico de lacre”, chamado “Piu-Piu”. Já era velhinho, mas vivia feliz na sua gaiola, vizinha da do mocho.
Um dia de verão saímos e deixei as janelas abertas, para eles ficarem mais frescos. Levantou-se vento e, quando chegamos a gaiola do passarinho estava no chão, partida e vazia. Ficamos muito aflitos, procurámos o passarinho por todo o lado e... nada. Todos desistiram, mas eu ouvia o piar baixinho, do meu Piu-Piu. Diziam-me que eu estava a ouvir coisas, para desistir, mas eu continuei à procura. Ao fim de um bocado encontrei-o. Sabem onde? Encostado à gaiola do mocho, todo encolhidinho, mas vivo e sem uma ferida sequer. Ele procurou o amparo do amigo e este não lhe fez mal.
Nenhum animal é mau por querer. Esta ave de rapina, que em liberdade teria comido o pequeno passarinho, aqui com a barriguinha cheia, nem o bicou.
Dois amigos estranhos? Não. Estranhos são os humanos que não respeitam os animais, nem os outros humanos.
A história de hoje é inteiramente verdadeira. Há quatro testemunhas dela: eu, o meu marido e dois dos meus filhos.
O Memé já contei como morreu. O outro morreu com catorze anos, o que para um pássaro daqueles é muito tempo.
Até amanhã com...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 19


Como sabem, há cães de várias raças. Uns são unicamente cães de companhia, outros são cães de guarda, pastores, policias, até.
Conforme as raças, a educação e o temperamento dos cães, são usados para os mais diferentes “trabalhos”. Como são grandes amigos do homem, até há alguns que são “guias” de pessoas invisuais, ajudam outras pessoas com deficiências, procuram pessoas desaparecidas, enfim, são úteis.
Este de quem vou hoje falar, era um “Epagneul Breton”, cão de caça, por vocação e educação. De ascendência francesa, mas nascido no Alentejo, foi desde pequenino, habituado a caçar. Era bom no seu trabalho, muito leal ao dono e obediente. Fora da caça era um animal dócil, amigo das crianças, adorava queijo Alentejano e bolos.
Os anos passaram, o Pipo deixou de ir à caça e o dono também.
De vez em quando, para provar que ainda servia para alguma coisa, apanhava um rato e ia pô-lo à entrada da porta, para os donos verem.
Há uns meses começou a andar triste, não comia e a dona foi com ele ao veterinário. O Pipo já tinha 19 anos, era um cão velhinho. O doutor ainda lhe deu vitaminas, mas uma manhã, quando a dona ia a sair, chegou-se a ela, olhou-a e adormeceu para sempre. A dona chorou horas. Ainda agora quando se fala dele, chora.
O Pipo foi um cão feliz. Correu o seu Alentejo atrás de caça, ajudou o dono a apanhá-la, teve comida, abrigo, carinho e quando chegou ao fim, acabou junto da dona que gostava muito dele.
Eu não concordo com a caça, já o disse. Mas gostava do Pipo e tive pena dele e da dona. Por isso contei esta história, um bocadinho triste, mas a vida também nem sempre é alegre.
Até amanhã com...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 18


Pois é verdade. Eu Nabão tenho que confessar, que pirateei o Blogue da minha dona, Maria. É que sinceramente, ando aqui à volta há uns poucos de dias à espera que ela escreva sobre mim e nada. Agora apanhei-a distraída e resolvi contar eu, a minha história.
Nasci na Areia, perto de Cascais. A minha mãe chama-se Estrelinha e o meu pai é um cão lá do sítio. Quando nasci, nasceram mais três manos, mas como nascemos em Agosto e estava muito calor, dois deles não resistiram. A dona da minha mãe levou-me para a “Feira da Boca do Inferno”, para ver se me arranjava dono.
Eu mal me aguentava nas pernas, mas acho que era muito giro.
A minha dona e o meu dono Vasco acharam-me graça, fizeram-me festinhas e eu olhei para eles com uns olhinhos redondos e meiguinhos. Quando a dona da minha mãe perguntou à minha dona se me queria, ela pegou-me ao colo e... Isto é o que ela conta, que eu não me lembro nada. Depois foi comprar leitinho para cachorrinhos, levou-me ao veterinário e eu passei a ser um cão muito cheio de mimo. Também foi giro porem-me um nome.
Calculem bem, que me queriam chamar “Chocolate”. Já viram nome mais esquisito? Lá por ser castanho, tinha de ser “Chocolate”! A minha sorte é que a minha dona detesta chocolate. Como está sempre a pensar na terra dela, que é Tomar, resolveu chamar-me “Nabão”, que é o nome do rio de lá. Eu já o vi e é lindo, como eu, aliás.
Até agora só contei o que ouvi. Agora sou eu mesmo a dizer quem sou.
Primeiro: Tenho 10 anos, tenho as vacinas em dia, sofro um bocadinho do estômago, o que é um problema, porque sou guloso, gosto de comer tudo e só me querem dar ração para não engordar, mas eu finto-os. Chego à rua e atiro-me à coisa mais nojenta que vejo e como-a. Levo uma sapatada, mas logo a seguir faço o mesmo. Em casa é pior. Vocês sabem o que são línguas de gato? Eu adoro, mas parece que me faz mal, se comer muitas.
Mas eu dou-lhes a volta. É tão fácil levar estes donos a certa, que às vezes, se eu soubesse o que é vergonha, ficava envergonhado.
Por exemplo: dou uns ganidos baixinhos, que a minha dona traduz para: “ o Nabão quer fazer chichi”, levam-me à varanda, eu faço ou finjo que faço e os donos limpam e dizem: “o Nabão é lindo”. Eu dou umas corridas, dou umas voltas e fico a olhar para a lata das línguas de gato. Lá me dão uma ou duas. Outras vezes chego ao pé deles, com uma borracha, um lápis, um lenço de papel na boca, mostro bem e se me tentam tirar as coisas, rosno com ar ameaçador. Aí, eles que são burrinhos de todo, dizem: “Nabão, toma bolinho”. Geralmente só quando vejo o bolinho é que largo o resto. Mas já me têm enganado. Fingem que vão dar e depois de terem o que querem, não dão. Azares!...
O que me vale é que vem cá a casa uma senhora, ajudar a dona e como gosta muito de mim, lá vai dando mais uns bolinhos.
Com isto tudo sou um cão feliz. Vou à rua com o dono, tenho papa, remédios, cobertores e montes de mimos.
Cá para mim, eu acho que eles são meus pais. Os da Areia nem os conheço.
Segundo: como sou um cão (dizem) decente, tenho de confessar alguns defeitos. Sou ciumento, tenho mau feitio, acho que mando nos donos, já tive a mania de morder, quando fico sózinho vingo-me, fazendo chichi onde não devo, mas sou meigo, amigo dos donos. Quando a dona está doente ou triste não saio de ao pé dela. Sei muitas palavras e percebo tudo o que me dizem. Não falo a língua deles, mas sei fazer-me entender muito bem.
E pronto. Este sou eu, Nabão, “Cão como nós”. A propósito, vocês já leram um livro com este nome? É de um tal Manuel Alegre. A dona gosta muito deste e de outro chamado “Bichos” que um grande escritor, chamado Miguel Torga escreveu. Eu não sei ler, mas se soubesse lia-os. Experimentem! A Maria passa a vida com os livros às voltas. Acho que ela gosta tanto deles, como eu das minhas “línguas de gato”.
Quero desejar a todos um Bom Natal, com algumas prendas e muito AMOR.
Beijinhos para todos do Nabão.

P.S. Ai que lá vem a chata da dona ver o que eu estou a fazer!...
Adeuzinho. Um dia volto.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 17


A Tina Turra é uma caturra muito velhota e rezingona, que é do meu filho mais novo. Deu-lha a irmã no seu aniversário e ele adora-a. Já tem 13 anos. Gosta de assobiar e sabe muitas músicas. Desde árias clássicas à “raspa”, assobia tudo. Como berra muito alto, foi baptizada com o nome de Tina Turra, por causa da Tina Turner. Além de tudo também tinha umas belas pernas.
Foi casada com o Ike Turro, mas enviuvou. Depois disso nunca mais teve companheiro, mas acho que não lhe faz falta.
Eu gosto de a arreliar um bocadinho e ela não gosta lá muito de mim. De quem ela gosta mesmo é do Vasco. Vive na casa dele e deve pôr a cabeça em água às vizinhas.
Dizem que as caturras duram muito e eu espero que seja verdade.
Apesar de tudo gosto dela, mas acho que podia fazer menos barulho.
Até amanhã com...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Um Ano


É verdade. Faz hoje um ano, que por brincadeira, por desafio e convencida que iria acabar rapidamente, pela primeira vez escrevi qualquer coisa aqui.
Tudo começou com uma brincadeira do amigo Bicho. Resolvi fazer um Blogue, dar-lhe um nome, uma imagem. Só iria durar enquanto me divertisse. O pior é que se tornou depressa num vício, mas um vício bom. Redescobri o gosto de escrever, arranjei uma maneira de me entreter e acima de tudo, arranjei amigos.
Embora acima de tudo, escreva para mim, gosto de saber que mais alguém me lê. Por isso também escrevo para é eles e a eles agradeço os muitos momentos bons que tenho passado escrevendo coisas minhas e lendo ou vendo coisas deles. Por aqui têm passado histórias, desabafos, momentos felizes e infelizes, brincadeiras, palavras amigas.
A todos vós agradeço a simpatia com que me acolheram.
Ao Kim agradeço os ensinamentos e os conselhos.
Ao Bicho, quase impulsor deste blogue, agradeço as belas fotos que nos mostra e o empurrão que me deu.
Para todos um abraço amigo, desejos de um “Bom Natal” e prometo que vou tentar melhorar o mais possível este espaço.
Mais uma vez a gratidão da
Maria
Até um dia destes.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 16


O Pantufa é filho de uma cadelinha chamada Rijuca, muito simpática. Andava por perto do trabalho do actual dono, era pouco bonito, mas fez-se um canito giro e simpático, como a mãe. É muito mansinho e nem se importa que lhe tirem a comida da boca. É obediente e dócil. Há tempos foi atropelado, partiu uma patinha, teve de levar um ferro e ficou a andar um pouco de lado. Isso não o impede de correr, brincar e saltar para a carrinha do dono, onde se deita no chão muito sossegado. Anda solto, dá-se bem com qualquer cão conhecido. É esperto e conhece muitas palavras. Ladra se vê estranhos, mas basta dizerem-lhe: “deixa” e ele cala-se. Se lhe dizem: “fica”, ele fica mesmo.
Dorme numa casinha na varanda e quando lhe dizem: “vai para a casinha”, ele vai mesmo.
Gosta de correr atrás dos gatos para brincar e ajuda a apanhar galinhas fujonas. Enfim, é um cãozinho tão simpático, que até a minha filhota que não gosta muito de cães, gosta dele. Eu acho-o muito engraçado.
E por enquanto, são estes os companheiros da minha neta: João Coelho, Narizinho, Pérola e Pantufa. Falta falar das senhoras galinhas, mas as galinhas não têm grandes histórias.Até amanhã com...

sábado, 20 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 15


A Pérola também estava numa garagem com dois irmãos. Teve sorte de ser muito simpática e brincalhona e foi a escolhida da minha neta. Ao princípio era um bocado reguila e fazia disparates. Depois com a convivência com o Narizinho, acalmou, é meiguinha, mas continua a fazer das suas.
A espertalhona sabe abrir gavetas e lá vão os novelos de lã, carregadores de telemóveis que rói e ficam sem concerto. Faz chichis e cocós na caixa, mas não tapa. O bom do Narizinho é que os tapa por ela. Corre atrás de tudo o que rebola, mia aos donos quando chegam e quando eles acordam salta para a cama também a miar. Gosta de festinhas, mas não que a agarrem.
Como gatinha que é, gosta de estar à janela. Se calhar é como uns versos muito antigos, que dizem assim:

O gato à sua janela
Vai dormindo, vai pensando e vai sonhando;
Oh minha linda casinha
Tu és minha muito minha
E nada melhor que ela.
O gato à sua janela
Vai dormindo, vai pensando e vai sonhando.

Será que os gatos pensam?
Até amanhã com...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 14


O Narizinho nasceu numa garagem. Através de um anúncio foram buscá-lo, levaram-no para casa e reparando no seu belo nariz cor-de-rosa, deram-lhe o nome de Narizinho. A minha menina adorou-o. É muito meiguinho, nunca se zanga, nem quando leva as vacinas. O veterinário diz, que ele é um gato passarinho. Pouco tempo depois, teve uma companheira gatinha e teve que fazer uma operação, para evitar que a casa se transformasse num mar de gatinhos.
Engordou muito, porque essa operação faz isso aos gatos. Além disso é muito molengão. É tão gordinho que quando está sentado de lado, mal se destinguem as pernas. Pensa que a dona pequenina é mãe dele, chucha no cabelo dela, enquanto lhe vai mexendo no pescoço, com as patinhas. Adormecem abraçados e ele fica quietinho com um boneco de peluche.
É giro e simpático e eu acho-o engraçado, por causa de ser assim gordinho.
Os donos é que não gostam, porque ele come muito.
Até os animais têm problemas com o peso. Acho que o deviam pôr num ginásio, mas não sei se ele ia gostar.
Até amanhã com...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 13


O João entrou na vida da minha neta há oito anos. Foi-lhe dado pela mãe. Ela queria um cão, mas a casa em que moravam não tinha condições para isso. Assim, recebeu o coelho, que podia viver numa gaiola e era suposto ser anão.
O pai era um belo coelho de raça “cabeça de leão” e garantiram que ele ficaria igual. Por ser de boas famílias, a dona pequenina resolveu dar-lhe nome de pessoa (João, um nome que a rodeava por todos os lados), Coelho, para o distinguir dos inúmeros Joões, que há na família dela.
O belo coelhinho cresceu, cresceu e de anão, não tem nada.
É grande, gordo, pacífico. Gosta de viver na gaiola, quando o soltam, volta para lá, assim que pode. Já foi operado a um tumor, ficou sem pêlos na barriga e usou uns fatinhos de lã, para não ter frio. Safou-se e lá continua. É muito branquinho, não faz barulho, mas quando tem fome, dá grandes e ruidosas patadas no fundo da gaiola, para chamar à atenção dos donos.
Gosto dele. Faz feliz a minha menina.
Até amanhã com...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 12


Ora hoje vem o Tomé. Pequeno sultão porquê? Porque é, até agora, o único macho no meio de quatro cadelas. O Tomé é a última (?) aquisição da matilha do meu neto. É um Spitz alemão, filho de uma cadelinha chamada Maria e de um canito chamado Gaspar, parecido com a mãe, ainda muito novinho, alegre, brincalhão como qualquer cachorrinho. Entrou numa família só de cadelinhas e deu-se bem. Respeita a Duna como sua mãe, brinca com a Java, é bem tolerado pela condescendente Tuca e esperemos que Fräulein Vega, atendendo ao facto de ambos serem de raça e terem a origem alemã, seja tolerante com ele.
É um animal esperto, vivo e bonito.
Brinca muito com a Java, “ajuda-a” a tirar os cobertores das casotas, (acho que é para arejarem), mete-se com as outras quando têm paciência para o aturar. Gosta de bolachas e há tempos apanhou um rato e foi mostrar aos donos, para provar que não era só a Tuca que sabia caçar.
Ainda é muito pequenino para ter grandes histórias, mas é um espertalhão.
Acho que um dia ainda vai dar que falar.
Hoje é o último dia deste grupo. Amanhã começará outro mais variado. Depois verão.
Até amanhã com... Só digo que não é cão.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 11


Hoje vou falar de novo na Java. Já é conhecida por maus e bons motivos, primeiro desapareceu, depois quando já desesperávamos de a voltar a ver, apareceu, magoada e assustada, mas voltou.
A vida dela tem muita semelhança com a de algumas pessoas. Tem tido dias maus, dias bons, mas ao contrário de muita gente, não se tornou revoltada nem agressiva, pelo contrário parece cada vez mais grata a tudo o que de bom lhe é dado.
Foi adoptada em Setúbal, onde uma Associação de protecção a animais, a “Patas Amigas” tentava arranjar donos para cães, que de outra forma seriam provavelmente abatidos. Era difícil olhar os olhos dela e resistir. Foi juntar-se às três, de que falei antes. Tem uma doença na tiróide, uma glândula que nós também temos e que quando não trabalha bem, tem de ser tratada diariamente. Conto isto para vocês saberem que os animais têm doenças como nós e precisam de tratamento. Quero com este reparo alertar-vos para o facto de que ter um animal em casa, não é só dar-lhe de comer. Precisam de vacinas e tratamento continuado, quando estão doentes.
A Java tem isso tudo, mais o amor dos donos. Quando ela desapareceu, eles não só a procuraram dia e noite, como puseram anúncios nas lojas, nos postes das ruas, na rádio. Um senhor viu-a, Alimentou-a e reconhecendo-a num anúncio, apressou-se a contactar os donos e entregá-la. Tudo acabou bem para ela de novo. Está já boa, continua o tratamento e cada vez está mais meiga e amiga dos donos. A Java tem uma história bonita como ela.
Apenas um ponto foi feio: a falta de cuidado e profissionalismo da veterinária.
Mais uma vez, a Java, eu e os donos agradecemos a todos os que se preocuparam com ela e de um modo particular ao senhor que a achou.
E pronto. Mais uma história, mais um dia.
Até amanhã com...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 10


A Vega é uma linda cadela da raça alemã “Hovawart”, o que, ao que me disse o dono, quer dizer: cão de quinta, ou seja, cão de guarda. Parece ser das raças mais próximas dos lobos.
Quando foi para a casa onde mora, já lá estavam a Duna e a Tuca. Era ainda pequenina e dava-se bem com as outras. Quando cresceu, tudo mudou. É meiga com os donos, mas como é muito ciumenta, começou a agredir as outras. Vive separada delas, porque é muito maior e elas não se podem defender. Com as pessoas até é meiga. Alguns cães de raça e até rafeiros são por natureza mais agressivos do que outros.
Vive numa boa casa, com espaço para passear e correr, mas um dia achou que uma bela cadela de raça não devia viver paredes meias com rafeiras. Então, resolveu fugir. Não foi muito longe. Encontrou uma casa maior do que a outra, sem rafeiros à vista e entrou. Durou-lhe pouco a mania das grandezas, pois o dono foi buscá-la de volta a casa. Acho que, apesar das rafeiras, ela se sentiu bem, por voltar ao seu cantinho e aos donos.
Coisas de estrelas, é o que é. Hoje, além da Duna e da Tuca, tem mais dois companheiros, a Java, já vossa conhecida e o Tomé. Mas isso é para outro dia. Até amanhã com...

domingo, 14 de dezembro de 2008

Separar o trigo do joio

Se há coisa com que francamente embirro, é a publicidade desenfreada.
É a televisão a bombardear-nos com 20 minutos de anúncios, entre os programas, é a caixa do correio cheia até cima de papéis, é o telefone a tocar às horas mais inconvenientes, com ofertas de toda a qualidade de produtos, são as pessoas que nos abordam na rua e nas grandes superfícies, para nos tentar com propostas mais ou menos interessantes.
Tanto assim é, que mudei de telefone, pus um anúncio na caixa do correio e nego-me a responder às pessoas que me abordam.
No entanto, há excepções. Nesta altura do Natal, as Associações de Ajuda Humanitária, aproveitam para dar a conhecer as mesmas e de caminho conseguir alguma ajuda em troca de um boneco, uma casinha, postais (no caso da SADM - Sociedade dos Artistas Deficientes Manuais). Aí o caso muda de figura. São pessoas, que nada ganhando dão um pouco do seu tempo, para ajudar essas Associações. A esses não respondo com a negação habitual. Posso às vezes nem dar nada, mas tenho sempre uma palavra de estímulo, de apreço pelo seu trabalho.
É só isso que vos peço. Se não puderem, não comprem. Mas não passem indiferentes, parem para ouvir por um momento, aquilo que eles vos dizem.
Eles, os voluntários dessas Associações e as próprias Associações, merecem-no. Afinal, o Natal é uma época de partilha, de amor, de Paz.
Há anos, alguém pediu-me como prenda de aniversário, que depositasse a quantia que ia gastar, numa conta de uma dessas Associações. Quem sabe se alguns daqueles a quem vocês vão dar uma lembrança, não gostariam de ver no sapatinho o comprovante de uma dessas dádivas?
Isto não é sermão, nem lição de moral. É apenas um humilde alerta, de uma pessoa igual a vós.
Até um dia destes.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 9


Esta é a segunda cadelinha dos meus filhos e neto.
A Tuca, foi encontrada na estrada que liga Lamego à linda Igreja de Nossa Senhora dos Remédios. Era pequenina, estava suja, ferida e com fome. O irmão da minha nora levou-a para casa e a mãe lavou-a, tratou-a, deu-lhe comida e uma casa para morar. Ela gostava daqueles donos, da vida que levava, dos passeios pela rua. Tinha uma amiga, a Chula, que morreu muito velhinha. Teve filhotes, que um belo “Collie”, chamado Fangue mesmo sem ser pai dos cachorrinhos, a ajudou a criar. Enfim, a vida corria-lhe bem e era feliz. Mas havia uma coisa estranha. Quando o meu filho e a mulher iam a Lamego, a Tuca ficava muito contente e quando eles vinham embora, ela arranjava maneira de entrar para o carro, assim como se quisesse boleia. Quando o meu neto foi baptizado, os avós de Lamego vieram a Lisboa e trouxeram a Tuca. Foi um dia lindo e bem passado, de que tenho saudades. Mas vamos à Tuca. No dia seguinte eles voltaram para Lamego, sem a Tuca. Tinham combinado, deixar a cadela escolher. Abriram a porta do carro, ela foi fazer festas aos donos, mas não entrou. Foi direitinha aos novos donos, aqueles que ela escolheu. Aqui há uma coisa muito bonita, feita por duas pessoas boas e amigas dos animais. Os pais da minha nora gostavam muito da Tuca, tanto que a deixaram escolher o sítio onde queria ser feliz.
Agora vive com a Duna e os outros, com os donos. É muito meiga, afectiva, mas gosta de ser independente. Gosta de apanhar ratos do campo e pássaros, gosta de vadiar, mas também gosta de se aninhar no colo dos donos e receber festas e mimos. É a mais pequenina de tamanho, mas é muito esperta.
Até amanhã com...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 8


A Duna é uma das rafeirinhas dos meus filhos e neto.
Está com eles há muito tempo, sendo a 1ª do grupo de cinco que hoje têm.
Ainda o meu neto não tinha nascido, trouxeram-na do Porto. Era pequenina, muito linda e meiga. Quando estava a dormir, parecia um peluche fofinho.
Às vezes, quando eles iam de férias, ela ficava comigo. Ficámos boas amigas. Ainda agora, quando me vê fica muito contente e tenta estar ao pé de mim. Além de bonita, é esperta. Desde muito pequenina, quando alguém tenta tocar nas coisas da dona, ela rosna e fica sentada ao pé a tomar conta.
Se alguém se chega perto da comida dela, faz o mesmo.
Com as outras 3 cadelas tem uma relação cordial, mas mostra sempre que é a chefe da matilha. Há pouco tempo, eles levaram para casa mais um cão. Desta vez, foi um cãozinho pequenino e de raça. Ora a mestra Duna, que nunca teve filhos, adoptou-o. Deixa-o comer do prato dela, deixa-o deitar-se próximo, mas quando ele começa a abusar das brincadeiras, mostra-lhe quem é que manda. Basta uma ligeira rosnadela e tudo entra na ordem.
Já está velhinha, um bocadinho gorda, mas continua linda.
Esqueci-me de dizer que o meu Nabão está apaixonado por ela desde a primeira vez que a viu. Ela não lhe dá confiança, mas basta alguém dizer o nome dela, para ele arrebitar as orelhas e desatar a ladrar. Depois, quando não a vê, fica triste. Ai amor, amor! Até um cão sofre, por um amor não correspondido. Duna querida: Ao menos uma vez, agora que ambos estão velhinhos, dá-lhe um pouquinho de esperança, sim?
Até amanhã com...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Carta às Mães

(clique no título para aceder ao site APCD)


Hoje não há história e o que vou escrever, não é para os pequeninos.
Está a decorrer uma campanha para angariação de fundos da “Associação Portuguesa da Criança Desaparecida”. Em troca de 5 Euros, dão-nos uma casinha e um panfleto. Parei um pouco a falar com a voluntária que estava numa superfície comercial, bastante grande e concorrida. Vi-a dirigir-se a várias pessoas e ninguém, mas ninguém, lhe deu nada, nem uma palavra.
Apenas olhares indiferentes, ou um gesto negativo de cabeça.
Será que, entre tanta gente não havia pais? Será que se havia estão convencidos que a eles nunca poderia acontecer o mesmo? Ou o egoísmo tem mais força do que eu penso?
Sou mãe e avó. Já fui filha um dia. Sei que perder os pais é uma dor horrível, já passei por ela. Mas é a lei da vida. Agora um filho não é o mesmo. Perder um filho é antinatural. Se perdê-lo por morte é uma dor imensa, não saber dele, não saber se está vivo ou morto, não saber como e onde está, deve ser a maior tortura infligida a um ser humano.
Se virem as casinhas, por favor, não fiquem indiferentes.
Lembrem-se que as coisas más não acontecem só aos outros, também nos podem bater à porta.
Até um dia destes

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 7



Há uma ideia generalizada que, cães e gatos, se dão sempre mal. Quase sempre é verdade, mas há excepções. A história de hoje é a prova, de que nem sempre é assim.
O meu pai, levou-me um dia, um rafeirinho bebé, que ainda só bebia leite.
Era preto, com uma mancha branca no pescoço, que parecia uma gravata.
Improvisei um biberon e, dava-lho, como se estivesse a alimentar um bebé humano. Tive que lhe dar um nome. Ora, havia uma história de que eu gostava muito: “Pinóquio”, um menino de madeira, a quem crescia o nariz, quando mentia. Foi o nome que escolhi. O Pinóquio já teria uns três meses, quando um dia, apareceu no quintal, um gatinho cheio de fome e frio. Dei-lhe de comer, aqueci-o e, adoptei-o. Também tive de lhe dar um nome. Quem sabe a história do Pinóquio de madeira, sabe que ele tinha um amigo, um grilo, que lhe dizia ao ouvido as coisas marotas que ele não devia fazer.
Então o gato, ficou a chamar-se Grilo.
Cresceram juntos, comiam juntos, dormiam juntos, brincavam juntos. Na verdade, quando se tratava de comer, o gato comia primeiro e, só depois, deixava o cão chegar-se ao prato. Dormia deitado nas patas do cão, aconchegado à barriga dele. Durante o dia todo, não se largavam, sempre a brincar, um com o outro.
O Pinóquio, era muito manso. Ao contrário do Tejo, eu podia tirar-lhe a comida da boca, que ele nem refilava. Quando o meu filho mais velho nasceu, deitava-se no chão ao pé da cama dele e, só deixava chegar-se quem conhecia. A única vez que o vi zangado, foi na noite do nascimento dele. Ele nasceu em casa e, foi lá uma senhora ajudar. Eu tinha dores, chorava, dei uns gritos e, o Pinóquio convencido, que era a senhora que me estava a fazer mal, atirou-se ao rabiosque dela e, se eu não o chamo, tinha-lhe dado uma dentada. Depois acalmou.
Ele e o meu sobrinho eram grandes amigos. Um dia, fomos dar com os dois sentados na escada do quintal. O meu sobrinho tinha 6 anos e já sabia ler. Então, pegou no livro da escola e, resolveu ensinar o Pinóquio a ler, também. Ficou desiludido. Por mais que tentasse, o Pinóquio não aprendia nem uma letra. Só sabia um ditongo: “ão”.
Era pouco, para o pequeno professor.
O Pinóquio, morreu já velhinho e o Grilo foi embora. Sem o seu amigo, fugiu em busca de outra vida mais livre.
E pronto, meus amigos acabou mais uma história. Às vezes, os animais ensinam as pessoas. Aqueles que são considerados inimigos de nascença, tornam-se amigos e, aprendem a viver juntos e em paz. Era bom, que com os homens, isso fosse possível. Talvez... um dia. Quem sabe?
Beijinhos e até amanhã.

P.S. Hoje a história é especialmente dedicada ao meu querido amiguinho Martim.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 6


Pois foi. Um dia houve um Tejo no Porto. É claro, que não era o Rio. Todos sabemos que, o rio do Porto de chama Douro e, é lindo.
Este Tejo, era um cão, um belo “Serra da Estrela” de pêlo curto, castanho dourado, com algumas manchitas brancas na barriga. Quando o deram ao meu pai, era bebé, gostava de colinho, de festas, de brincar. Parecia maluco a correr pelo quintal, parava de repente, punha-se a desafiar as pessoas e, depois desatava de novo a correr, até estar com a língua de fora. Comia que se fartava, quando bebia água fazia um grande estardalhaço, molhando tudo o que estava à volta.
Claro que, eu já não lhe conseguia pegar ao colo, mas ele punha as patorras nos meus ombros, encostava o focinho à minha cara e dava lambidelas.
Cresceu muito, mas continuava maluco de todo. Só o meu pai e eu, não tínhamos medo dele. Não era mau, mas as vizinhas tinham medo dele, por causa das corridas e saltos, que dava. O meu pai, mandou-lhe fazer um belo canil, com um parque vedado com rede alta. Mesmo assim, o Tejo tinha artes de subir para cima da casota, pular a rede e, lá começavam as maluquices e, lá vinham as vizinhas mandar vir e, lá tinha a Maria ou, o pai, de o meter outra vez na casota.
Uma noite, o meu pai, quis mostrá-lo a um amigo. Fomos ao quintal, abri-lhe a porta, ele saiu, mas não levantava a cabeça. Estava escuro e eu não reparei, que ele estava a roer um osso. Toquei-lhe na cabeça e, ele atirou-se a mim, mordeu-me os braços e os ombros. O meu pai, agarrou-o pela coleira, puxou-o e, só aí, ele viu quem é que tinha mordido. Furioso, o meu pai, bateu-lhe. Ele gania e, eu cheia de dores, só pedia ao meu pai, para não lhe bater. Por fim, lá ficou na casa dele, ganindo baixinho. Eu fui-me deitar, já com as feridas tratadas. De manhã, fui-lhe dar de comer, como todos os dias.
O meu pai, não queria, mas eu sabia que, ele não vira quem tinha mordido.
Quando abri a porta do canil, ele veio ter comigo, com a barriga pelo chão e, uns olhos onde havia um pedido de desculpas. Gania, tentava lamber-me as mãos que na véspera tinha mordido. Sabem? Ele não teve culpa. Nenhum, ou quase nenhum cão, gosta que lhe toquem, quando está a comer.
Continuámos amigos e, nunca mais mordeu ninguém.
O meu Tejo, não era mau e, gostava de mim e eu dele.
Foi mais um amigo que me deu alegria, companhia, amor. Só me fez chorar duas vezes: Quando se roçou no chão, a pedir desculpa e, no dia, em que o perdi.
Também, quem é que se lembra, de chamar Tejo, a um cão nascido no Porto? É claro que, o cão ficou traumatizado! :)
Beijinhos.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 5


Quando um dia cheguei à quinta, no princípio de Agosto, fui à vacaria e vi que, uma das vacas estava gorda, muito gorda. Fui ter com o senhor que tomava conta das vacas e, perguntei: “Senhor Zé, porque é que aquela vaca está tão gorda?” Ele riu-se e, respondeu: “A vaca está gorda, porque vai ter uma vitelinha, não tarda”. Então pedi-lhe, que me dissesse, quando a vitelinha nascesse. Passado dois ou três dias, o senhor, veio-me chamar, porque a bichinha estava a nascer. Eu e os meus irmãos, fomos logo a correr.
Quando chegámos, a vaca, lambia a cria toda e esta, deitadinha, parecia muito feliz com os mimos da mãe. Passado um bocado, a vaca, começou a dar marradinhas na barriga da pequenina e ela, tentou levantar-se. Caiu, levantou-se, tremia em cima das patas fininhas, voltava a cair e, lá ia a mãe vaca ajudar. Ao fim de uma hora, já se equilibrava. Ao fim de duas, já dava uns passitos trôpegos. A mãe, não a largava, sempre atenta. Por fim, a vitelinha chegou-se às grandes maminhas da vaca, meteu a boca e, começou a mamar. Quando acabou, deitou-se, a mãe, deitou-se encostada a ela e, adormeceram. Ainda ficámos um bocado a olhá-las, discutindo o nome da bebé. Chamámos-lhe Malhadinha, nome pouco original. Íamos vê-la todos os dias. Só queria saber contar, como era lindo, vê-la mamar, dormir, encostar-se à mãe, para ela a lamber! Foi crescendo, crescendo e, no ano seguinte, era já uma bela vaquinha. Esta é a história da vitela Malhadinha, que há muitos anos, a Maria conheceu.
Espero que tenham gostado. Amanhã, virá outro bicho.
Beijinhos.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 4


Na casa do Porto, já havia quintal. A desculpa da minha mãe, deixou de valer.
Um dia, o meu pai apareceu, com uma bolinha preta e branca, que lhe cabia no bolso. Só se viam as orelhas e os olhos. Uns olhinhos, espertos e meigos.
A Maria, tinha por fim, um cão, que por acaso, era uma cadela.
E agora, tenho de contar, uma coisa um bocadinho triste. O meu pai gostava de ir à caça. Avisou logo que, não queria que eu amimasse muito a cadela, para depois a treinar. Calei-me muito caladinha e, sempre que podia, lá andava eu, com a cadela ao colo. Ela cresceu e, um belo dia, fomos de férias. No dia seguinte, o meu pai, arranjou as armas, o lanche e, participou que, ia levar a Fly, para se habituar. Ora aí, toda a gente ficou pasmada, porque a Maria, pediu para ir também. O meu pai, um bocado espantado, lá disse que sim. Lá fomos os três, de manhãzinha, pelos pinhais fora. Ele de vez em quando, dizia: pouco barulho. E nós, caladinhas. Nisto, apareceu um coelho grande, com enormes orelhas. O meu pai fez pontaria e, eu tive um grande ataque de tosse, a Fly desatou a ladrar e, o coelho fugiu. O senhor caçador, ficou furioso, mas não ralhou. Segundo coelho, segundo ataque de tosse, a Fly a ladrar e, novo coelho salvo. Claro que o meu pai, percebeu e, não gostou. No outro dia, foi só com a Fly, julgava ele. É que a Maria, ia atrás escondida e, cada vez que, ele dizia: Busca, Fly, busca, a Maria, assobiava baixinho e, a Fly fugia e, vinha ter com ela. Resultado: Nem a cadela foi à caça, nem a Maria, viu matar os bichinhos.
Esta morreu novinha. Antigamente, não havia vacinas para os cães. Algumas, nem sequer para os meninos. A Fly, apanhou uma doença, chamada “tosse do canil”. Assim como não havia vacinas, também não havia cura. Hoje, quase todos os cães e gatos, são vacinados, desparasitados, tratados, quando estão doentes. Naquele tempo, não era assim. Por isso, fiquei sem a minha querida amiga. Morreu, deitada nos meus joelhos, a olhar para mim, mas nem estava triste. Morreu feliz, ao pé da dona, vendo-a e ouvindo as palavras meigas, que lhe dizia. Chorei, nesse dia, chorei muitos dias, já passaram muitos anos e, ainda tenho saudades dela. Mas foi bom enquanto durou. Para mim e para ela.
Até amanhã, talvez. Ainda não sei com quem.
Durmam bem. Beijinhos.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 3


Este, nasceu em Tomar. Como já disse, a minha casa só tinha varanda, portanto, o Nerhu, vivia em casa, tinha um caixote com areia na varanda e, levava os dias, à procura do sol, nas janelas de casa. Não era muito manso, mas era esperto. Tinha a mania, de dormir comigo. Eu não me importava, mas a minha mãe não queria. Começou a fechá-lo na cozinha. No outro dia, lá estava ele na minha cama. Isto aconteceu, muitas vezes. A minha mãe, dizia que, era eu que o ia buscar. Eu disse que não, jurei, chorei. Ninguém acreditava. Até que, eu me lembrei, que a brincar, punha muitas vezes, a pata dele, em cima do fecho da porta, carregava e, a porta abria. Ele aprendeu. Então, todas as noites, trepava para a mesa da cozinha, punha a pata no fecho, carregava, a porta abria e, lá ia ele ter comigo. Claro que, a partir daí, a porta ficava fechada à chave, para grande desgosto do gato e da Maria.
Ora, quando fomos para o Porto, a casa tinha quintal. Ele descobriu a rua e, começou a dar os seus passeios. Deve ter arranjado algumas namoradas, porque, quando mudámos de casa e o levámos, ele fugiu para a casa antiga.
Três vezes tentámos, três vezes fugiu. De vez em quando, ainda o víamos na rua, deixava fazer festas, mas se tentávamos agarrá-lo, fugia. Acho que ele deve ter casado e teve alguns meninos.
Voltámos a mudar de casa, para mais longe e, nunca mais o vi.
Espero que tenha sido feliz e, tenha tido meninos.
Beijinhos e até amanhã. Com quem? Logo veremos.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria 2


O Kiss, nasceu em Coimbra e, era um cão de casa. Um dia, os donos não puderam continuar a tê-lo e, deram-no a pessoas que sabiam que, o iriam estimar. Quando chegou, era um “cão de água”, clarinho, lindo, que só comia carninha e leite e, procurava a companhia das pessoas e o calor do fogão.
Um dia, olhou pela janela e, viu a Ria. Logo que pôde, esgueirou-se, por uma porta aberta e, foi descobrir o mundo. Tinha pinhais, caminhos, a Ria, as regueiras e, se calhar, alguma cadela jeitosa, por quem se apaixonou.
Andou tudo doido, à procura dele. Já era noite, chegou ele, todo sujo, com um rato na boca e, um ar muito feliz. A cauda dele, parecia um moinho de vento. Deram-lhe banho, trataram alguns arranhões, feitos nas silvas e, ele foi deitar-se ao pé do fogão. O pior, é que o Kiss, provou o sabor da liberdade, respirou o ar dos pinhais, tomou banho na Ria e, gostou. No outro dia voltou à mesma vida. À noite, voltava. Às vezes chegava, com fitas verdes, penduradas. Sabem o que eram as fitas? Moliço, a alga da Ria, tão boa para adubar as terras, mas que dava um trabalhão para tirar do pêlo do Kiss. Gostava de crianças e, nós gostávamos dele. Era muito brincalhão. Se atirassem um pau à água, ele ia buscá-lo. Corria e brincava connosco. Só tinha um defeito: comia ratos. Eu, nessas alturas zangava-me com ele.
Já foi há tantos anos! O Kiss, morreu velhinho, mas foi um cão feliz. Sempre fez o que quis.
Podem ver na foto, como ele era bonito, mesmo quando andava sujo.
Até amanhã, com... Não digo. Amanhã saberão.
Beijinhos.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Era uma vez a bicharada da Maria













O primeiro bicho, não é cão nem gato.
Era a Maria pequenina que, já gostava de bichos.
Hoje voltou, para contar as histórias dos seus amigos.

Há dias, prometi a um dos meus amigos mais novos, que no mês do Natal, contaria “Histórias de Bichos”. Como gosto de cumprir o que prometo, vou fazê-lo. Serão histórias verdadeiras, sempre que possível com fotografias verdadeiras, do herói do dia. Vão aparecer, cães, gatos e outros animais.
A todos conheci, melhor ou pior.
Quando aparecer, o título que está em cima, já sabem que é para vocês.
Hoje, só vou explicar o porquê, desta ideia. A Maria, que hoje é uma cota com netos, já foi pequena e, tinha uma Avó que, contava histórias que, a Maria menina, adorava. Essas histórias hoje, já não têm nada a ver com vocês. Por isso, me lembrei dos nossos amigos, os senhores bichos. Todos vocês gostam deles e, eu também.
Eles, sempre fizeram parte da minha vida. Quando vivia em Tomar, só tive gatos. As casa não tinham quintal e, a minha mãe não gostava muito de cães. Só nas férias, via cães e outros animais e, brincava com eles.
O herói de amanhã será um cão, muito especial. Depois... Não vou dizer.
Assim, será surpresa.
Até amanhã. Durmam bem. As férias estão a chegar.
Beijinhos.

domingo, 30 de novembro de 2008

Anne Frank e Hélène Berr


Nasci pouco antes do fim da Guerra. Aquela Guerra, feita para acabar com todas as Guerras e, que afinal, só as fomentou. Por qualquer razão, sempre me despertou a curiosidade, sempre quis, de uma certa forma, tentar “vivê-la”, através de livros, filmes, até de conversas com pessoas que dela soubessem alguma coisa. Durante anos, lidei com gente de diversas nacionalidades que, a tinha vivido. Quando o Campismo, elegeu o nosso País, “O país por excelência” para acampar, tínhamos uma quinta no Norte.
Começaram a aparecer turistas, de caravana ou tenda, primeiro muitos franceses, ainda marcados pela guerra, depois outros, entre os quais um casal Checo, que veio vários anos seguidos. Ambos de origem judaica, ambos marcados no corpo e no espírito, por todos os horrores vividos. Foi ela, que depois de longas conversas, me apresentou “Anne Frank”. Eu tinha 13 anos, como Anne quando “mergulhou”. Devorei o “Diário”, reli-o muitas vezes. Era-me fácil imaginar, o que teria sido a vida daquela menina como eu, com os mesmos sonhos, as mesmas dificuldades de crescer, uma grande imaginação. Não conseguia, era imaginar, o que seria viver fechada, sem poder falar, cantar, correr, tudo aquilo que eu fazia tão naturalmente. O livro, a história, de Anne Frank, tem-me acompanhado sempre. É sempre com o mesmo espírito, com que o li aos 13 anos, que volto a lê-lo.
Há dias, vi na montra de uma livraria, um livrinho, que tinha uma faixa a dizer: “Hélène Berr, a Anne Frank, francesa”. Como já disse, várias vezes, detesto estes rótulos. Mesmo assim, comprei o livro. E, claro, não é Anne Frank francesa. É Hélène Berr, uma judia francesa, mais velha do que a outra, mais madura, com uma vivência da guerra, quase totalmente diferente. Tinha 22 anos, quando começou o “Diário”, nunca viveu em nenhum anexo, escreveu-o propositadamente, para ser lido. É um testemunho muito fiel, do que foi a vida de uma mulher jovem, consciente do que poderia acontecer a ela e, a todos os outros, na mesma condição. Uma jovem que, se revolta, por ter de usar, pregada à roupa, a asquerosa estrela amarela, imposta a todos os judeus, da França ocupada e, que mesmo assim, consegue estudar, sair com amigos, ajudar crianças separadas dos pais e, internadas em instituições, que se vê separada do rapaz que amava, que vê os amigos a pouco e pouco, serem presos e deportados, que espera, consciente a sua vez, de o ser, também. E o dia chega. Primeiro, Drancy, nos arredores de Paris, depois Auschwitz, por fim, Bergen-Belsen. Os pais morrem em Auschwitz, ela sobevive mais um ano depois, morre em Bergen-Belsen.
Coincidências entre as duas histórias? Existem, sim. Ambas começaram os respectivos “Diários”, quase ao mesmo tempo, morreram, com poucas semanas de diferença, de tifo, em Bergen-Belsen, pouco tempo antes da libertação do campo. Quem sabe, talvez se tivessem cruzado. Quem sabe, não terão até, trocado algumas palavras. Mas, as coincidências, terminam aqui.
São dois testemunhos diferentes, duas histórias diferentes, de duas jovens diferentes.
Ambos horríveis, na sua verdade, ambos impressionantes de sinceridade.
Mas nem Anne é a Hélène, holandesa, nem Hélène é a Anne, francesa.
Leiam os livros. Ambos valem a pena. Neste mundo, onde hoje vivemos, em que a vida de um ser humano nada vale, em que morrem de novo, velhos, mulheres, crianças, gente inocente que, todos os dias, sofre na carne e na alma, a dor da perda, de familiares e haveres, é indispensável saber, que outros, já passaram pelo mesmo. Quantas Annes e Hélènes, estarão, neste momento a sofrer, o que estas duas sofreram, naquela que afinal, não foi “A guerra para acabar com todas as guerras”?
Até um dia destes.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Claustro do Mosteiro de Santa Clara


Este Mosteiro fica em Vila do Conde. É muito bonito.
A foto é muito antiga, foi tirada em 1959.
Como podem ver, (mal) o Claustro tem ao centro uma fonte. Na altura, não tinha água enquinada, porque não tinha água. No entanto, quatro jovens noviças, cheias de fé, resolveram tomar banho, lá dentro. Quatro não. Uma delas, menos crente ou, mais exibicionista, resolveu ficar em cima do muro.
Perdoai-lhes amigos, pois só tinham quinze aninhos.
Hoje, devem todas ser Madres e avós. Nessa altura, eram apenas, quatro “mocinhas inconscientes” que de tudo se serviam para brincar.
Oh Bicho, vê se lá vais e, tiras uma fotografia decente, pois a fonte é linda.
Juro que, as “irmãzinhas”, não vão lá estar, a estragar a beleza da fonte.
Até um dia destes.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O Miguel voltou

E tudo acabou bem, felizmente.
Falando por mim, mãe e avó, confesso que, me senti aliviada e grata, por tudo ter acabado bem.
Bem vindo, à tua casa, aos braços dos teus pais e irmão e, aos corações que, estes dias, sofreram por ti e, pela tua família.
Teresa, o seu rosto hoje, demonstrava bem, a alegria e o alívio, por ter o seu menino de volta. Sinto-me feliz, por si.
Senhor Vasco Ferreira: obrigada por mais uma vez, ter mostrado que, os portugueses, continuam a ser solidários e, se preocupam com os outros.
Tudo o que é mau, acaba sempre, por nós ensinar alguma coisa. Talvez, agora, quando alguém desaparecer, o que aconteceu com o Miguel, faça as pessoas pensar que: ”A união, faz a força”. Não vale a pena, lamentar, dizer frases bonitas. É preciso é agir. Aquilo que, às vezes parece inútil, não é. Mais uma vez se provou que, televisão, jornais, simples e-mails, Blogues, notícias, passadas boca a boca, podem ajudar a resolver um problema grave.
Agora, deixemos o Miguel viver a sua vida e resolver os seus problemas. O nosso papel, termina aqui. Felicidades, Miguel.
Até um dia destes.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Encontrem o Miguel


Miguel:

Estejas onde estiveres, dá notícias. Seja o que for que, se tenha passado, comunica com a tua Mãe. Nada se pode comparar à angústia que ela sente.
Volta, ou pelo menos, diz alguma coisa.

Procurem em cada rosto, o Miguel. Pensem nos vossos filhos e netos e, no horror que, a família dele deve estar a passar. Ele pode estar em qualquer lado e, pode precisar de ajuda. Apesar dos dezanove anos, ainda é um menino, um menino com mãe que, neste momento, deve estar desfeita.
Para ela, toda a minha solidariedade de mãe e, uma palavra de esperança: o Miguel vai aparecer. Somos muitos a procurá-lo e a torcer, para que tudo acabe bem e, em breve, o Miguel volte para onde deve estar: os braços ansiosos para o abraçar, da mãe, do irmão e dos outros familiares.
Volta, Miguel, por favor.
Até logo. Hoje, só vou pensar no Miguel.
PS - Se clicar no título desta mensagem irá encontrar o apelo da família.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

São Francisco de Assis




Durante os dias em que a Java esteve desaparecida, lembrei-me muito de São Francisco de Assis. Ele é, dizem, o protector dos animais.
São Francisco, nasceu em Assis, na Umbria, entre 1181 e 1182. A família era rica. Os seus primeiros anos, foram vividos no meio do luxo e da riqueza.
Um dia adoeceu e, quando se curou, Francisco havia mudado. Converteu-se, abdicou de toda a riqueza terrena e, começou uma vida errante, pregando o Evangelho de Cristo, em palavras simples, acessíveis a todos. Chamava Irmão, a qualquer criatura. Para ele, animais, sol, lua, água, todos eram irmãos. Falava com as pombas, tem uns versos lindos, a elas dedicados.
Fundou a Ordem dos Franciscanos, dedicada aos pobres, aos enfermos e, que vivia com o mínimo possível. Santo António, era Franciscano e, também fazia sermões aos animais, por exemplo aos peixes.
Estive em Assis. Além de ser uma cidade bonita, paira no ar, uma mística, muito especial. A Igreja tem três andares e é linda. No andar de baixo, repousa o Santo.
Mas, há sempre um mas em tudo. Houve três coisas de que não gostei.
A primeira, foi a existência de uns microfones que, a todo o momento diziam ser proibido falar. Ora, quem estava a fazer barulho, eram eles e os vendedores de recordações, dentro da própria igreja, mais ninguém. Segundo, não se podiam tirar fotografias dentro da Igreja. Eu sei que, já é hábito isso acontecer com os flash, estraga as imagens, mas sem as luzinhas, não entendo. A terceira, peço que não pensem que estou a brincar com os sentimentos religiosos de ninguém, mas foi um letreiro enorme, fora do Templo, a proibir expressamente, a entrada a animais. Vou explicar: é evidente que, não concordo que se fizessem romagens à Igreja, de numerosos grupos de animais. Mas, se um cão, um gato, um pássaro ou, uma das pombas que ele tanto amou, entrarem por acaso, o que lhes vão fazer? Matam-nos? Eu acho, que o Irmão de toda a Humanidade, não ia gostar.
Comprei em Assis, fora da igreja, duas pequenas imagens. Uma de São Francisco, com um cão ao pé, outra, de Santa Clara. Gosto muito deste Santo. Ele, como eu, amava os animais. Para ele, eram criaturas de Deus, como nós.
Até um dia destes.

sábado, 22 de novembro de 2008

Java de volta


Para tudo é preciso ter sorte, até para ser cão.
A história da Java, é a prova viva, desta velha frase.
Os meus filhos, grandes amigos de cães, já tinham em casa, três cadelas; Duna, Tuca e Vega. Um dia em Setúbal, numa das muitas feiras de animais que, felizmente se vão fazendo, na tentativa de evitar abater animais abandonados, encontraram uma cadelinha, magra, com ar de ter sido atirada à rua, como muitas outras, porque deixam de ser pequeninas, engraçadinhas e, os donos descobrem que, dão trabalho, roem coisas, precisam licenças e vacinas e, além de tudo, estragam as férias.
Os olhos meigos e tristes da cadelinha, comoveram-nos e, passaram a ter quatro, em vez de três. A bicha, parecia perceber, que eles a tinham salvo da morte certa. Dócil, com nenhuma das outras, humilde, terna. Quando olhava a dona, os olhos escorriam mel, de tanto amor. Chamem-me louca, não me importo. Os animais amam e, melhor que nós. Só pedem em troca, comida, carinho e água.
Mas voltemos à Java. Foi engordando, foi vacinada, foi tratada. Há dias, ficou na veterinária para ser operada. Telefonaram a saber dela, tudo tinha corrido bem e à noite, iria para casa. Quando a foram buscar, foi-lhes dito que, a cadela tinha ido à rua fazer as suas necessidades e, teria fugido. Isto passou-se terça-feira passada. Todos estes dias, os donos a procuraram, dia e noite, puseram anúncios, pediram ajuda e, nada. Vários telefonemas, mas nunca era a Java. Eu já temia pela vida da bichinha e, pela saúde dos donos. Hoje de manhã, recebi um telefonema do meu filho, com lágrimas na voz. “Mãe, a Javinha apareceu!” Eu confesso, tremi. Queria saber como, mas não conseguia perguntar. Só consegui dizer “Como?” “Está bem, Mãe. Um senhor, ontem viu-a com fome, deu-lhe de comer, abrigou-a e, hoje viu o anúncio e ligou-nos. Ela está bem, só assustada.” As lágrimas já me caíam pela cara, não conseguia falar. Eles foram com ela à “competentissima” veterinária que, além de “magnanimamente”, só lhes cobrar a operação, ainda tentou dar-lhes conselhos acerca da coleira. Santa alma! Deixa fugir um animal recém operado, cobra a operação e, fica de consciência tranquila.
O Senhor que a achou, pobre, inválido, salvou-a sem interesse. Ainda há bondade.
A Java, pela segunda vez, foi salva. Está em casa, quente, alimentada, acarinhada. Os meus meninos, vão descansar, enfim. Eu vou agradecer, toda a vida, aquele Senhor, que a recolheu.
Esta história é dedicada, primeiro ao meu neto, um dos donos da Java. Segundo à minha neta, que gosta muito dela. Terceiro ao meu amiguinho Martim, filho da Carla e ao Miguel, filho do Bicho. Por fim, para todos os meninos e, pessoas com alma de meninos: aqueles que, sabem amar um animal.
Por favor! Quando virem um cãozinho, um gatinho pequenino, lembrem-se de que não é um peluche, que nas férias se deixa em casa. Pensem bem, antes de o levar para casa. Nem todos têm a sorte da Java. Às vezes morrem.
Até um dia destes.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Santa Maria do Olival




A História da bela Igreja, parece ter começado em meados do século VII.
São Frutuoso, bispo de Braga, terá mandado edificar dois conventos beneditinos, um para homens, outro para mulheres. A Igreja seria comum.
Com a passagem dos mouros, só parte da Igreja terá resistido.
Quando Gualdim Pais resolveu fazer ali, a primeira Igreja Templária, terá aproveitado o que restava da Igreja, para construir a nova. Isto, passou-se já na segunda metade do século XIII.
A Igreja divide-se em três naves. Passada a bela porta, descem-se 8 degraus que, nos levam à Igreja. Por cima da porta, existe, uma bela rosácea que, juntamente com as frestas das capelas laterais e os vitrais rasgados em ogiva, do Altar Mor, iluminam toda a igreja, de uma luz doce, calma, que deixa ver, sem lâmpadas artificiais, toda a grandeza e maravilha que é. No Altar Mor, uma imagem linda e rara, da Senhora do Leite. Não é uma estátua, é uma mulher jovem, com o seu bebé nos braços, que lhe dá o seu leite e o seu amor. A forma, como o segura, a ternura da mão da Mãe, segurando o pésinho do filho, são tão humanas, que emocionam.
Outra imagem, também pouco vulgar, é a que está na terceira capela. Representa: Santa Ana, Mãe de Nossa Senhora, Nossa Senhora, quase menina e, Jesus pequenino ao colo da sua Mãe. Sou capaz de ficar a olhar para Eles, horas.
Mas vamos ao resto.
A Igreja foi Bailia, isto é, Igreja principal. Teve casa do capítulo, enquanto o Convento não se acabava. Foi sepulcro de vários mestres, incluindo Gualdim Pais.
D. João III, resolveu fazer obras na Igreja, destruiu túmulos, guardando apenas, algumas lápides, entre elas, a de Dom Gualdim. Depois das descobertas, todas as Igrejas feitas no Ultramar, eram dependentes de Santa Maria, sua Bailia. Mais tarde, cerca de 1525, Dom Diogo Pinheiro, Bispo do Funchal, onde por sinal nunca pôs os pés, ficou sepultado no único túmulo visível, existente na Igreja.
Vindo para fora, vê-se a torre sineira, separada da Igreja. Já agora, torre sineira ou vigia? Talvez as duas coisas. No lado Sul, sobre as capelas laterais, existe uma varanda coberta que, segundo me foi dito, servia de abrigo aos Romeiros de Santiago. Está feita de forma que, nem vento agreste, nem sol a mais, lá entram.
É tudo o que de momento sei de Santa Maria. Prometi fotografias, vou cumprir.
Perdoem, a fraqueza de conhecimentos. Dei-vos o que sei. Não seria capaz de entrar em questões, mais ou menos imaginárias, que tantos livros têm vendido.
A minha Igreja, é esta. Não me peçam mais.
Até um dia destes.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Sem Eira Nem Beira


Lembrei-me de Lamego, hoje. Terra linda, como a minha, terra em que parafraseando um apresentador da nossa T.V., já fui muito feliz. Foi lá que, o meu filho se casou, na Sé, com uma Lamecense de gema, que eu amo como uma filha.
Foi lá, que conheci a família dela, gente boa, hospitaleira, afectiva. O meu Compadre, era pessoa muito querida e considerada, em Lamego. Foi o grande impulsionador do grupo “Sem Eira nem Beira”, de que era a Alma, o sangue, a alegria. Talvez por isso, quando há seis anos, morreu, o grupo desapareceu.
Daqui, quero enviar, toda a minha Saudade, para alguém, que conheci pouco tempo, mas estimei e admirei muito. Para a família, sobretudo para a filha que considero minha, um beijo e uma lágrima, sem palavras. Para os amigos, um pedido: Não deixem morrer, o grupo que ele tanto amava.
Até um dia destes.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Voltei a casa


Estava curiosa para ver a Exposição do Dr. Fernando (Nini) Ferreira. E, a verdade é que estava cheia de Saudades (para mim, Saudade, é sempre com letra grande) da minha terra.
Mal lá chego, esqueço-me da idade, das dores. Volto a ter tranças, bibe aos quadradinhos, apetece-me correr, saltar, pisar as folhas douradas que, atapetam as ruas... Depois, vem o reverso: a procura dos que já não existem, as casas vazias que, conheci habitadas e, onde tinha amigos, as diferenças, da própria terra.
Parei em Santa Maria e, fiquei apavorada. Depois, entrei e, vendo a Igreja igual, serenei um pouco. Tirei as fotografias que queria e, vim embora, fugi daquele barulho, daquela ponte, daquela Santa Maria, sem olival.
Fui ao “Templário”, comprar uns livros. Passei na Fonte da Prata, vi o Rio, já com alguma água. No Mouchão, não entrei. Aquela ponte, para blindados, irrita-me, faz-me sentir mal. Fui a São João, a minha igreja, vi a casa onde nasci, a Nabantina, comprei mais uns livros e, vim para Lisboa.
As fotografias, irão aparecendo, pouco a pouco.
Até um dia destes.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Racismo


Vou hoje falar de racismo, coisa que, tinha jurado não fazer. Não gosto de temas polémicos e, muito menos de polémicas. Mas às vezes, a revolta obriga-nos a fazer coisas que não queremos.
Ontem, uma das nossas preclaras estações de televisão, pôs no ar, um programa que, à partida, pensei ser educativo, isto é, viesse trazer alguma informação útil, para um tema delicado e, mal esclarecido. A desilusão foi total. Tirando dois casos, contados na integra, o resto, como de costume, foi... nada. Perguntas estúpidas, respostas estúpidas, exemplos claros de como não esclarecer um problema.
Não sou, nunca fui racista. Quando era miúda, ensinaram-me uma coisa que, não sei se era oração ou simples poesia. É curta, mas diz muito:

Minha mãe, quem é aquele, pregado naquela cruz?
Aquele, filho, é Jesus, é a Santa Imagem dele.
E quem é Jesus?
É Deus e, é Ele que nos cria
Quem nos dá a luz do dia
E fez a terra e os céus.
E morreu?
Para mostrar, que todos somos irmãos
E devemos dar as mãos
Uns aos outros, irmãmente.

O que quero dizer com isto, é que esse Jesus disse, “dar as mãos” e, não “dar com as mãos”.
Depois de muito disparate, mostraram um caso concreto: Uma jovem mãe, negra,
foi a um parque infantil com o filho de 3 anos. Só havia um baloiço. A criança apoderou-se dele, brincando alegremente até aparecer um homem, branco, com o seu filho. Este, queria o baloiço. O outro, não estava disposto a largá-lo. O paizinho, terno, vendo o filho com uma valente birra, arrancou, literalmente, a outra criança do baloiço, com tanta delicadeza que, ele caiu e, feriu um lábio. A mãe, resolveu ir à esquadra mais próxima, apresentar queixa. Foi aconselhada “delicadamente”, a não o fazer. Teimou. Entretanto, a avó do menino, pregou um par de estalos no homem. (Abençoadas mãos). Aí, foi ele que, quis apresentar queixa. Aceitaram a queixa dele e, a da mãe. Tudo certo? Tudo errado. O julgamento da avó, já foi feito e, ela foi condenada a pagar 600 Euros. O julgamento do homem, ainda não se realizou. Racismo? Não. Apenas esquecimento.
Mas não nos iludamos. O racismo existe em todas as raças e, até entre pessoas da mesma raça. Aqui há anos, uma conhecida minha, filha de negro e de branca, estando na minha casa, teve a saída mais parva que, já ouvi. Eu tinha chegado à janela e, vi que chovia. Vinha uma mãe, com um bebé muito pequenino ao colo, ambos a apanhar chuva. Comentei: Coitadinho do bebé, vai à chuva. Ela, chegou-se à janela, olhou e, com o ar mais desprezível do mundo, respondeu-me: “Ora! É só um pretito, tem pele de sapo”. O respeito que eu devia à pessoa que, com ela estava, não me deixou dizer o que queria. Mas a partir desse dia, passei a olhá-la com o mesmo desprezo, com que ela olhara a criança.
Tenho vizinhos negros. Trato-os da mesma forma que os outros, como eles me tratam a mim.
Raças diferentes? Seria estupidez negar uma coisa evidente. Culturas diferentes? É claro. Mas não serão culturas diferentes as dos países da Europa?
Agora, o que eu não tenho dúvidas, é que tirando a cor da pele, o resto é igual. Órgãos, sangue, doenças, dores, sentimentos, até as lágrimas, como disse Gedeão.
Deixemo-nos de prégar contra o racismo, passemos às obras. Demos as mãos.
Que linda seria uma cadeia de mãos, de todas as cores, unidas no mesmo desejo de Paz.
Até um dia destes.

sábado, 15 de novembro de 2008

Papoilas


Um campo de papoilas sob o brilho,
Da luz dum sol de Primavera,
Lembrava colchas de retalhos muito antigas.
Cada folha cosida a outra folha,
Com ponto pequenino, feito à mão,
Parecia um pequeno coração
Ligado a outros, a muitos mais de mil.
Eram as colchas ricas de noivado,
Tecidas de ternura e ilusão,
Quase mantos de sedas e de brocados.
Agora, o tempo é escuro. Só lembram sangue,
O sangue, que cobre a terra de amargura
E deixa sobre ela, tanto corpo exangue.
Já ninguém faz as colchas de noivado.
Os corações, não batem já de amor.
As bombas caem, não há campo em flor,
Restam só corpos mortos, chacinados.
E é assim, que eu vou entristecendo,
Já não há alegria, nem beleza
Nos campos de papoilas sobre o mundo.
Já não consigo ver as colchas de noivado.
Só dor e um desespero, bem profundo.
Maria

Até um dia destes.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A ausência da dor


Depois de uma semana, cheia de dores, antiinflamatórios, antibióticos, analgésicos, visitas ao dentista, noites sem dormir, hoje por fim, vi-me livre do dente, das dores etc. Espero dormir.
Estes dias, deixaram-me mergulhada num estado de estupidez profunda. Só conseguia sentir dor, na minha cabeça só existia a palavra dor, da minha boca só saía a mesma palavra. Além disso, havia dentro da minha cabeça, um vazio total que, não me deixava pensar, devido às inúmeras drogas ingeridas.
Hoje, já consigo pensar, mal, mas consigo. Pelo menos, deu-me para pensar, como é delicioso não ter dores. É quase um prazer. Adormecer, acordar e, não ter dores. E a dor de dentes é a dor mais chata que há, juntamente com a de ouvidos.
Eu, que tive três filhos, que fui operada ao osso de um braço, apenas com anestesia local. Eu que já parti braços, pernas e cabeça e, me aguentei à bronca, não aguento dores de dentes. E tenho medo dos dentistas, dos aparelhos, das brocas, da cadeira. Esta Dentista era, uma doçura, mas mesmo assim, prefiro não a ver mais.
Estou farta de comer gelados. Acho que, vou comer uma sopinha e, depois vou dormir, para pôr o sono em dia.
Amanhã, talvez esteja mais inspirada.
Até um dia destes.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Os meus vizinhos



Quando mudámos para o então “Bairro Novo”, junto ao edifício do “Colégio Nun’Álvares”, já lá existiam várias moradias. Uma delas, pertencia ao Dr. Fernando (Nini) Ferreira e sua esposa, a Senhora Dona Irene.
A casa era grande, com um belo quintal, onde cheirava a relva, rosas e outras flores. Tinha um belo canil, onde morava a Diana e o seu companheiro, do qual não me lembro o nome. Eram ambos muito bonitos e bem tratados. Tinham água corrente, porque segundo o Dr. me explicou, os cães não devem beber águas paradas.
Às vezes, chamavam-nos lá para casa. A Senhora, era doce, como eram doces os seus bolos e compotas. Ele, mais sisudo, dava-nos pouca conversa. Mas, ao ver a minha adoração pelos cães, fez uma ligeira concessão e, por vezes, lá falava comigo. Um dia, andavam a fazer os açudes, portanto seria Maio, perguntei-lhe como eram feitos. Havia no quintal, um pequeno canal que, levava a água aos cães.
Ele, mandou-me apanhar tronquinhos, pequenos ramos, areia e, logo me construiu um mini açude, em diagonal, com vara real e o resto.
Mais tarde, descobri no seu livro “O Rio, os Açudes e as Rodas”, toda a história, que naquele dia, há tantos anos, ele me ensinara.
A Senhora D. Irene, chamou para lanchar. Pouco depois, ele voltou com um belo e enorme livro. Chegou ao pé de mim e, perguntou: sabes que, há uns animais que também fazem açudes? Não, eu não sabia. Então, cheio de paciência, explicou-me que, noutros países, havia um animal, chamado castor, que os fazia, usando praticamente a mesma técnica. Nunca mais me esqueci. Nem da lição, nem dele, nem da sua doce esposa.
Queria falar de Fernando Ferreira. Mal o conheci, por isso deixo a outros esse trabalho.
Eu falei dos meus vizinhos. Uns vizinhos especiais.
Perdoem-me os dois a ousadia. Foi mais uma recordação feliz, do tempo em que eu era uma menina feliz.
Até um dia destes.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Feira da Golegã


Vivendo perto, foi feira onde nunca fui. Não por falta de vontade, mas porque era sempre em dia de São Martinho dia 11, que meu Pai ia à Golegã. Não ia só, claro.
Ia ele e, todo o seu grupo, sem mulheres e sem criancinhas. Era um dia para homens. Saíam de Tomar, relativamente cedo, assistiam ao desfile dos cavalos, bebiam uns copitos, comiam e feiravam. O remorso, de terem deixado mulher e filhos, em casa, ia aumentando à medida que os copinhos iam desaparecendo.
Então, compravam pequenos presentes. Bolos e tecidos, para as senhoras, pequenos brinquedos, (sempre-em-pés, bonecos que se mexiam por meio de imanes, outros articulados com cordéis) e fiadas de pinhões, parecidas com colares. Meu Pai, chegava a casa tarde, alegre dos copinhos e do convívio dos amigos, feliz, por encontrar a família. A Mãe, não conseguia dormir sem o sentir chegar. Ele entrava, beijava-a e, de seguida ia aos nossos quartos, dar o beijinho da noite e, deixar as lembranças trazidas. Eu tive sempre o sono leve. Assim que ele entrava, sentava-me à espera do beijinho e, do resto. Um ano, ele chegou, fez os mesmos gestos do costume, mas... em cima da minha cama, havia uma manta.
Uma manta ribatejana, tecida à mão, quente, colorida. A minha Mãe, sempre justa, comentou: “E os outros dois?” Ele, explicou: “ As mantas são caras, só dá para uma por ano. Para o ano, será para um dos outros, para o outro ano, para o outro e, a última, será para nós”. A minha Mãe, não ficou satisfeita. “Mas porque é que a primeira foi para ela?” “Porque, ela é a única Ribatejana, a única tomarense”. Todos acataram a sua vontade. Nos anos seguintes, vieram as outras mantas. Mas a minha era, ou melhor, é, a mais bonita.
Quanto aos pinhões, acabavam sempre com mofo. Eu não era capaz de comer o meu belo colar.
Não quero deixar de falar do Santo do Dia. Verdade, lenda, as duas coisas?
Segundo sei, Martinho, teria sido um soldado romano. Um dia frio, deparou-se-lhe um pobre homem, quase nu e, cheio de frio. Martinho, não hesitou. Tirou a grossa capa que, o abrigava, cortou-a ao meio e deu metade ao pobre. Dentro em pouco, o sol descobriu e, aqueceu a terra e os homens, por uns dias. De aí virá, o famoso “Verão de São Martinho”.
Quanto à ligação do santinho, com vinho e bebedeiras, não sei a explicação.
Espero que, a “Feira da Golegã”, corra bem. Ainda não foi este ano que, fui ver os meus queridos cavalos.
Até um dia destes.

sábado, 8 de novembro de 2008

Um ramo de lírios brancos


Como há treze anos, um ramo de lírios brancos e, uma grande saudade.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Lobo Antunes, dor de dentes e eu


Há quem diga que não há coincidências. Não concordo.
Compro a revista “Visão” porque de 15 em 15 dias, publica uma crónica de Lobo Antunes. Nas outras semanas compro-a, porque o senhor do quiosque ma guarda amavelmente. Ontem, era dia de crónica. Ontem, acordei com uma dor de dentes enorme. Não vou descrevê-la pois calculo que, todos sabem como é.
A revista veio e, ao abri-la na página 16, a crónica de Lobo Antunes aparece, parecendo escrita para mim : “A cadeira do dentista”. Entre gemidos e sorrisos, li-a, com a avidez de sempre. Só ele me faria rir. E ainda por cima, o meu escritor, tem medo dos dentistas como eu. A crónica é uma delícia. Leiam que vale a pena. Lobo Antunes, vale sempre a pena. O dente dói um pouco menos. Já reli a crónica. Talvez vá ler, talvez vá dormir. Tomei um comprimido, a dor abrandou e, eu tenho medo da cadeira do dentista. Nisso, sou igual a Lobo Antunes, o que já é uma consolação, a bem dizer.
Até um dia destes.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Milu


Morreu ontem Milu. Talvez este nome diga pouco aos mais novos. Mas, como ela própria disse, no dia em que foi homenageada e condecorada com a “Ordem de Santiago da Espada”, foi alguém, na sua terra. Velhinha, cega, doente, mas ainda bonita, Milu, enfrentou um público, que já não via, com o mesmo à vontade com que entrava nos filmes e peças de teatro, que fez. Bonita ainda, com a perfeita noção de quem era.
Trabalhou desde os sete anos na Rádio. Pouco mais velha, entrou no filme “Aldeia da Roupa Branca”, de Chianca de Garcia, ao lado de Beatriz Costa. Depois, foi a bela e romântica Luisinha, de “O Costa do Castelo”, ao lado desse monstro sagrado, que foi António Silva e, de Curado Ribeiro, o mais belo galã, do nosso cinema. Depois de vários filmes em Portugal, rumou a Espanha, onde se manteve, alguns anos. Voltou. Se possível, mais bela ainda. Fez teatro de revista. No Teatro Monumental, fez “A Casa das cabras”, peça que, fez escândalo na época.
Continuava a cantar, ao seu jeito muito próprio. A última vez que fez cinema, foi no filme “Kilas, o mau da fita”, de Fonseca e Costa”, com Mário Viegas e Lia Gama, entre outros. Bela, ainda. Foi criticada por aparecer pouco vestida. A velha mania nacional, de ter de dizer mal de alguma coisa.
Nada disto afectava, pelo menos aparentemente, Milu. Era uma mulher corajosa, capaz de viver à frente do seu tempo.
Morreu ontem. Se é verdade, que nos últimos momentos, toda a nossa vida nos lembra, os olhos cegos de Milu, viram, as luzes da ribalta em que viveu, quase toda a sua vida. É costume, quando um actor morre, ser aplaudido antes de baixar à terra. Por isso, a minha despedida de Milu, actriz, cançonetista, mulher valente, é uma grande salva de palmas. Até um dia destes.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

“Aracnofobia”


Aracnofobia é a forma bonita e erudita de chamar ao: medo, pavor, pânico, repugnância, miaúfa, das aranhas. Ora, o protector de todos os animais, sofre disto. O mais pequenino aranhiço, provoca-lhe, autênticos ataques de nervos.
Cá em casa não há disso. Quando alguma se atreve a fazer a sua teia nalgum canto, logo é exterminada. Cabe dizer que, eu tenho pena. Acho as aranhas horrorosas mas, a sua teia é das coisas mais perfeitas que já vi.
Um dia, em Lagos, onde estávamos acampados, tratei do pequeno almoço, pus a mesa, sentámo-nos e... a minha filha, ainda pequenina, disse muito calma e doce: “Paizinho, tens uma aranha na cabeça”. Convém dizer que, ela adorava pregar partidas. O pai riu-se e, ela voltou: “Paizinho, é verdade, tens uma aranha na cabeça”. O pai, começou a desconfiar, levou a mão ao cabelo e, saltou uma enorme aranha, gorda e peluda. Saltou a aranha, saltou a mesa, tudo o que estava em cima voou e, aterrou no chão de terra. Ele foi a correr aos balneários, despiu-se, tomou diversos banhos, exigiu roupa, sem aranhas e, fez-me esvaziar a tenda, sacudir colchões e sacos cama, ver toda a roupa de vestir. Isto tudo era acompanhado das gargalhadas dos filhos, dos meus protestos e, do pavor genuíno, dele.
Depois, fomos tomar o pequeno almoço ao Bar do Parque.
Moral da história: Até os mais acérrimos defensores dos animais, têm medo de algum.
Agora, olhem para a teia de aranha da fotografia. Não é uma maravilha? Eu acho.
Até um dia destes.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Arquimedes, o Mocho sábio


Desde muito pequenino, o meu filho mais velho, adorava mochos. Deve ter herdado essa mania de meu Pai. Eu, também sempre os achei umas aves giras e, tenho uma razoável colecção de mochos de todas as qualidades e feitios. Desde peluches a outros, dos mais variados materiais e tamanhos. Meu Pai dizia que, eles eram o símbolo da sabedoria. O meu filho inventou uma brincadeira, ainda mal falava. Sentava-se ao meu colo, encostava a testa à minha e, dizia: “Mãe, fefa os oios”. Eu obedecia. A seguir, dizia: “Mãe, abe os oios”. Eu abria. Então, ele gritava: “Moço”. Aí, era suposto, eu mostrar medo e, tudo acabava com grandes gargalhadas. O meu filho cresceu (meu Deus, como os filhos crescem depressa!).
Um dia, chegou a casa com uma caixa esburacada, mandou-me sentar, fechar os olhos, abrir as mãos e disse: “Mãe, abre os olhos, quando eu disser”, enquanto me depositava nas mãos, uma coisa macia, palpitante de vida. Abri os olhos e, ele disse a palavra mágica: “Mocho”. Era o Arquimedes, um pequeno mocho galego ou, para os versados em ornitologia um “Athene Noctua”.
Tinha uns grandes olhos, penetrantes, inteligentes. Tínhamos que o alimentar com carne crua picada, dar-lhe água a conta-gotas. Quando cresceu, já comia outras coisas: fígado cru, peixe cru e, berbigão, o seu prato preferido. Viajou, acampou, fez parte da família. Andava solto pela casa, pousava-nos na cabeça, dava bicadinhas ternas, nas pálpebras do dono. Quando o aborreciam, vinha ter comigo, escondia-se no meu pescoço.
Uma vez, no Rio Fundeiro, perto do Castelo do Bode, lembrou-se de experimentar a liberdade. Esvoaçou uns metros e, foi pousar nuns ramos chamando aflito: “chuau, chuau”, até que o dono o agarrou. De seguida, foi para a gaiola, feliz, alegre, por ter voltado aos seus. Não gostara daquela liberdade. Uma vez, dava o meu marido cursos de Informática e estava a corrigir uns testes. Mestre Memé ( era o seu deminuitivo), passeava feliz pela casa. Curioso, aproximou-se, olhou os testes com atenção e, não gostou do que viu, num deles. Claro, que teve que dar a sua opinião. Como não sabia escrever, resolveu defecar (termo caro, digno de um Mocho Sábio), em cima do teste. Foi o cabo dos trabalhos para conseguirmos disfarçar a opinião do Mestre. Por fim, uns pingos de café e uma esfregadela, resolveram tudo. Só tenho pena, de não ter visto a cara do meu marido, quando explicou ao aluno que, tinha entornado café no teste. Diga-se de passagem, que o dito teste, merecia a classificação dada pelo Mocho.
Foram seis anos de vida em comum. Ele foi feliz, nós também. Um dia, de manhã, o meu marido foi dar com ele morto, ainda com os seus lindos olhos abertos. Eu, não quis vê-lo. Acho que todos chorámos. Uns mais às claras, os outros discretamente. Perdêramos um amigo. Mas ficaram as lembranças dele, as gargalhadas que nos fez dar, a alegria com que enchia a casa, as fotografias.
Até um dia destes.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

É para a Esposa?


Entrei numa florista para comprar umas flores, para por nas fotografias dos meus mortos. À minha frente, estava um senhor, de bom aspecto, que olhava para as flores, com um olhar, perfeitamente baralhado. A florista resolveu ajudar. “O Sr. Deseja?...” O homem, lá respondeu titubeante: “Queria 40 rosas, para amanhã”.
“Muito bem. São então 40 rosas. E a cor?” Mais atrapalhado ainda, ele disse: “pois isso é que não sei”. A florista paciente, tornou-lhe: “Se me disser a quem se destinam, talvez possa ajudá-lo. Algum parente, amigo?” O homem, muito vermelho respondeu: “São para a minha esposa, faz amanhã 40 anos.” A florista disse-lhe então ser a rosa vermelha, a mais própria. O cliente, hesitou e, por fim, perguntou: “E se misturasse algumas brancas?” A senhora concordou, fizeram as contas, acertaram a hora de entrega e, ele saiu. Eu comprei as flores, vim embora, perdida de riso, porque toda aquela cena, me lembrara outra, passada há muitos anos com meu Pai.
A seguir à guerra, era difícil arranjar as então chamadas, meias de vidro. A minha Mãe, adorava-as tanto, como detestava as de fio de Escócia que, se usavam na altura. Meu Pai veio a Lisboa e, quis fazer-lhe a surpresa de lhe levar 2 pares de meias de vidro. Dirigiu-se à “Loja das meias”, onde foi atendido por uma menina de bata de seda, salto alto, lábios pintados de vermelho. Delicadamente, pediu as ditas meias. A sofisticada empregada disparou-lhe: “São para a sua esposa ou, quer melhor?”
Ora, eu hoje, sabe-se lá porquê, quando vi o senhor atrapalhado na escolha das flores, lembrei-me desta história. Foi contada durante anos sempre no meio de gargalhadas. Um dia, ele contou a resposta dada à petulante empregada: “São para a minha esposa, sim. E das melhores, se faz favor.”Até um dia destes.

domingo, 2 de novembro de 2008

Elegia


Quando nasci, havia em cima da cómoda do quarto dos meus Pais, uma moldura oval, com pequeninas rosas ouro velho. Dentro, um rostinho de bebé, muito pequenino.
Assim que comecei a andar, a minha Mãe dizia: “Não mexe no retrato da menina”.
Eu não mexia, mas olhava. Olhava a menina, a jarra com uma flor branca, os olhos de minha Mãe, que se enchiam de lágrimas, quando o fitava. Ficava triste, mas nada perguntava. Quando íamos a Ovar, a Mãe comprava um pequenino ramo de rosas brancas e, dirigia-se a um sítio que, eu achava bonito. Tinha casinhas, canteiros com flores, velinhas. Então, ela abria uma das casinhas. Lá dentro, havia prateleiras com grandes caixas negras, cobertas de belas colchas de Damasco. Uma, porém, era diferente. Pequenina, coberta de seda e tule brancos. Em cima uma jarrinha. A Mãe, chorava, sacudia as colchas da caixinha, limpava-a com cuidado, arrumava tudo, punha água e as flores na jarra, sempre a chorar, fechava a porta e, íamos embora. Eu perguntava: “Mãe, o que é isto? Porque estás a chorar?”. E a resposta era sempre a mesma: “É a menina, filha, é a menina”.
Um dia, mais crescida, soube tudo. Entre o meu irmão e eu, houvera a “menina”.
A menina do retrato, a menina da caixa, a menina das flores brancas, a menina que fazia minha Mãe chorar, era a minha irmãzinha morta, quatro meses antes de eu nascer. Nascera em Tomar, na mesma casa, no mesmo quarto, na mesma cama que eu. Morrera em Ovar.
A partir daí, passou-se qualquer coisa na minha cabeça. Por um lado, a pena de não a ter conhecido. Por outro, um medo horrível, de a minha Mãe, gostar mais dela e, preferir que, fosse eu a morta. Chegava a sonhar com ela. Diziam que, nós éramos parecidas. Eu via-me no caixão. Durante anos sofri esta tortura. O amor dos meus Pais, mostrou-me que, uma coisa nada tinha a ver com outra. Mas, acho que só acreditei, quando tive os meus filhos e vi, que nenhum filho é mais amado do que outro. E, sobretudo, nenhum ocupa o lugar de outro.
Teve uma estreia triste, a minha casa nova. Hoje é “Dia de Fiéis Defuntos”. Já tenho muitos na minha alma, mas a primeira, foi aquela “menina”, que eu não sabia quem era, nem que estava morta.
Amanhã será um dia melhor.
Até um dia destes.