quinta-feira, 26 de março de 2009

Amarante, Princesa do Tâmega



Amarante, nasceu à sombra do seu belo Convento, mirando-se vaidosa, nas águas do Tâmega, rio lindo, afluente do Douro.
A cidade, dividida ao meio pelo rio, é linda. Deve ter uma “cidade nova”, igual a todas as outras, mas tive a sorte de não a ver.
Assim, a Amarante de há 45 anos, pareceu-me igual.
De um lado do rio, o Convento, o adro empedrado, uma fonte, pequenas casas, senhoras que vendem bolos e linhos da região.
Do outro, a velha pastelaria do “Zé da Calçada”, minha velha conhecida, doutros tempos. No Inverno era muitas vezes, o destino dos nossos passeios de Domingo. No andar de cima tinha uma bela sala de chá, com vista para o Tâmega, onde se bebia chá de folhas e se comiam “Lérias”, “Pingos de Tocha”, “Foguetes”, bolos de ovos deliciosos. Mais a cima, havia um Restaurante, que fazia a melhor “cabidela” do mundo, um arroz da mesma ave e “papas de sarrabulho”. Se não pensarmos num dos ingredientes, comuns aos três pratos, eram deliciosos.
Depois, havia o rio, umas vezes sereno, outras correndo desenfreado, parecendo ter pressa de chegar ao Douro.
A ponte que liga as duas margens, foi testemunha das “Invasões Francesas”, como se prova num dos pilares.
O resto, as fotos mostram.
Amarante continua a ser, “A Princesa do Tâmega”.
Além das jóias de arquitectura e gastronómicas, foi berço de dois pintores famosos, Amadeo Souza Cardoso e António Carneiro e de dois grandes escritores, Teixeira de Pascoaes e Agustina Bessa Luís. Deles falarei um dia.
Hoje, foi apenas “Amarante à vol d’ oiseau”.
Até um dia destes.

11 comentários:

Kim disse...

Bem linda esta princesa.
Estive lá apenas uma vez e lembro-me aiinda de ter almoçado num restaurante mesmo em cima do rio. Lembro-me também de ter visitado o Museu Sousa Cardoso e o meu filho mais velho (que é artista plástico) ter ficado incrédulo com o facto dos quadros estarem ali à mão de semear sem qualquer tipo de vigilância por perto, nem câmaras de vigilância. Chamámos à atenção disso e encolheram os ombros.
E Alegre me fiz triste.
Beijinhos Marie!

Maria disse...

Kim:
Neste nosso maravilhoso País, é sempre assim. Não há o mínimo cuidado, com aquilo que tem valor, além do desconhecimento quase total dos nossos grandes artistas.
Quem sabe aí, quem foi "Amadeo", "António Carneiro" ou "Pascoaes"? Conhecem de nome a "Agustina", por ser actual.
Nem o Google se safa. Hoje, ao procurar António Carneiro, "descobri" que ele tinha um filho chamado Ricardo, também pintor. Ora, eu conheci bem, a nora dele. O filho pintor, marido dela, chamava-se Carlos. O outro, músico bem conhecido chamava-se Cláudio.
Pelos tristes concursos de televisão, vê-se bem a ignorância de coisas que no nosso tempo eram elementares.
Cultura, agora, é saber a vida de "artistas" de telenovela, ler revistas "cor-de-rosa" e, quando dizem gostar de ler, a resposta é invariável: M.R.P.
Tomar conta do património? Para quê?
Dizem que a janela do Convento de Cristo está em perigo. Preocupação, para quê? Com uma caixilharia de aluminio e uns vidros, fica optima.
E como tu... E Alegre me fiz trite.
Beijinho

Carla D'elvas disse...

Querida Maria:

Gosto de Amarante, a terra do S. Gonçalo :)
Gonçalo, é também, o nome do Martim!
Adoro a Agustina, a maior romancista Portuguesa viva.
E do Amadeo,também, apesar de ter morrido muito jovem, a sua obra tornou-se imortal. O ano passado andei á procura de um quadro dele.
São caros. E raros :(
Enfim...

Está uma noite linda, lá fora!... vou ali... e já volto ;)

Beijinhos dos 4 :)

Maria disse...

Carlinha:
Amadeo, o grande pintor, deixou pouca obra e esta, está muito dispersa. Há em Amarante, a "Casa Museu Souza Cardoso", que tal como o Kim notou, nem segurança tem.
Além disso, cada vez menos gente o conhece, a ele, à sua Obra e à sua vida. E ele, foi "só", contenporâneo de Amadeo Modigliani e outros bem conhecidos, com quem trabalhou e conviveu em Paris. "Os Galgos", "O Cavaquinho" e outros, são uma maravilha.
Mas neste país, esquecem-se os "Génios", sobretudo os que morrem cedo. E ele acabou muito novo.
Beijos para os 4

Carla D'elvas disse...

Bom dia amiga :)

Gosto da "Cozinha da Casa de Manhouce" , "Cabeça" e "Entrada".

O Senhor morreu de pneumonia, não foi?

Beijinhos :)

Maria disse...

Carlinha:
Amadeo, nasceu em Amarante, dia 14/11/1887. Morreu em Espinho, dia 25/10/1918, com Pneumónica, doença que nessa altura matou muita gente. Era uma espécie de gripe, proveniente, ao que parece, da Ásia.
Na Wikipédia, encontras todos os promenores desta doença.
Também gosto muito dos quadros que referes.
Beijinhos

Kim disse...

Um dos meus filhos também se chama Gonçalo e às vezes chamo-lhe Gonçalo de Amarante, por causa do S.Gonçalo e porque no dia do baptizado o padre fez alusão a isso.
Pensava que Amadeo tinha morrido em Paris mas estava a confundir com Mário Sá Carneiro.
Ainda sobre Amarante, gostava muito do Alegre da "Trova do vento que passa". Hoje, nem tanto.

Maria disse...

Kim:
Ou eu não percebi, ou estás a fazer confusão.
O Alegre é de Águeda, a terra de que herdei o meu segundo nome.
Como poeta e escritor, continuo a admirá-lo. Como político "E Alegre se fez Triste", como diz um poema dele.
Tenho pena, mas já o grande Camões dizia: "Oh glória de mandar, oh vã cobiça". Por isso, ele, Camões, quando morreu foi "embrulhado num lençol para Santa Ana" ( fala de Telmo Pais, no Frei Luís de Sousa, de Garrett) e, este provavelmente, irá em grande estilo, para o Panteão.
Desculpa Kim. Ou é por ser Domingo, ou a mudança da hora, hoje deu-me para armar em "culta".
Isto passa.
Beijo

O Bicho disse...

Para mim, Amarante é uma espécie de porta de entrada em Tras-os-Montes.
Já passei por lá umas dezenas de vezes: de carro, de roulote, de autocarro e de comboio; para almoçar, jantar, dormir, beber uns "canecos", acampar e até, imaginem, para tomar banho no Tâmega - e de todas as vezes, gostei e pensei sempre em voltar.

O Bicho disse...

Confesso, não conheço bem Amadeo; gosto da Agostina, desde "A Sibila"; há muitos anos, tentei ler o Pascoaes mas não entendi e desisti;
fico-me pela poesia de uma figura bem mais pacata - O SENHOR ABADE DE JAZENTE:

Amor é um arder, que se não sente;
É ferida, que dói, e não tem cura;
É febre, que no peito faz secura;
É mal, que as forças tira de repente.
..
Brutos penhascos, rústicas montanhas,
Medonhos bosques, hórrida maleza,
Que me vedes, coberto de tristeza,
Saudoso habitador destas campanhas.

beijinhos e continuação de bons momentos aí pelo NORTE.

Maria disse...

riBicho:
Tens razão. O Pascoaes é um tanto díficil de assimilar.
Esqueci-me do Abade de Jazente. O poema é lindo.
Este passeio, foi "organizado" pelos Reformados. Acho que foi o último que fui, pelo menos enquanto o Teves lá estiver. O homem não se pode aturar. Deve estar convencido que ainda estamos no tempo da "Outra Senhora". Conseguiu estragar tudo.
Vê os "Galgos" do Amadeo. São uma maravilha.
Beijo