quarta-feira, 9 de junho de 2010

Fonte da Prata


Havia em Tomar há sessenta anos uma fonte chamada da Prata.
Ficava num largo e era por assim dizer, a entrada de Tomar Cidade.
Não seria arquitectonicamente muito rica, mas era um sinal de boas-vindas a quem entrava na terra, vindo de Lisboa. A água corria alegremente, dava um ar de frescura e matava a sede. Dizia-se que quem dela bebesse, voltaria sempre a Tomar. Nós, tomarenses desses tempos, bebendo-a todos os dias, ficávamos presos à terra para sempre. Em casa dos meus pais, ia-se buscar água à fonte, numa bilha de barro para beber. Era, como lhe competia, insabor, inodora, incolor e fresca, muito fresca.
Dava de beber a todos. Servia de ponto de encontro a “sopeiras” e “magalas” do quartel de Infantaria 15, aquele cuja guarnição se negou a ir para a 1ª Guerra Mundial, e voltou de lá formando à direita de todos os exércitos Aliados, após a Batalha de “La Lys”, devido ao comportamento exemplar e heróico dos seus homens.
Um dia alguém embirrou com a pobre fonte, diziam ter a água enquinada, e tiraram-na de lá. Depois de passar por vários sítios, está agora meia escondida, próxima do seu lugar antigo. Faz pena, como faz pena as voltas que já deram ao largo. Já lá esteve um Tabuleiro enorme, uma Fonte Cibernética (seja lá isso o que for) e agora está de novo em obras. O que vai lá nascer, não sei. Mas vi o que poderia ter sido. Numa maqueta que é o sonho de um homem e passou a ser o meu. Além de bela, aquela praça, contaria toda a História dos Descobrimentos e da influência da Ordem de Cristo nestes e na História de Tomar. Não aproveitaram o projecto. É belo demais para as sumidades que regem Tomar.
Não sei o que lá vão fazer. Daqui em diante, quando chegar ali, fecho os olhos e imagino que a maqueta está lá.
Obrigada T.C. por me ter mostrado e explicado o seu sonho lindo.
Tomar está a cair aos poucos. A parte velha da cidade está decrépita. Mas é bela ainda e tem o Rio, o meu Nabão cantante e belo.
Foram uns bons dias. A comida e a bebida ainda são saborosas, o sino ainda toca, o rio continua a correr e a Janela ainda não caiu.
Até um dia destes. Eu vou sonhar com o sonho do meu amigo.

13 comentários:

Unknown disse...

Mariazinhitamiga

Nem quero acreditar!!!!!!! Ressuscitaste, sem ser Lázara!!!! (Um destes dias conto-te a estória do Lázaro, com o). Nem aqui, muito menos na NOSSA Travessa não te punha os óculos em cima ákanos. O Santartista que me perdoe a expressão, mas eu sou assim...

Nabão sou eu - em esperar que me contasses tudo da viagem. E Tomar(a) eu que assim fosse, ainda que já esteja decrépito, eu?...

A Raquelinha ontem mesmo completou çatenta! Ou seja, já dormi com uma septuagenária. Eu disse DORMI. E não foi muito difícil. Um homi tem de habitar-se, com u, a tudo. Até porque é um animal de hábitos. Porra, são os frades, que, ainda por cima, tal como os curas, têm braguilha até ao pescoço.

Prontos, sem s. Uma opinião, nunca um conselho: uma vez por outra passa lá pelo meu covil. A saudadje mata a gentje, môrenaaaa, a saudadje é dor pungetje, môrenaaaaa.

Qjs prós homis e abs para tu. Chiça, inté já minganei por falta de hábito. Mau, lá recumeçam, com o, as confusões

PS - Esta da tua terra é prima da outra das Sete Bicas? É só pra caber...

Maria disse...

Henriquamigo
Só hoje abri o computador desde que cheguei. O raio da mania das limpesas dá cabo de mim. Ainda por cima a "tecnica de serviços domésticos" está mais velha do que eu, e farto-me de trabalhar.
Aqueles dias em Tomar foram muito bons. Comi como uma Abadeça, bebi, revi coisas e gentes que me trazem o passado de volta. Fiquei triste com algumas monstruosidades que vi, mas a terra é tão linda que consegue resistir a tudo.
Ontem esqueci-me de dar os parabéns à Raquel. Espero que tenha tido um dia feliz e que esteja melhor. Um beijinho muito amigo para ela.
Estou a escrever à pressa porque ainda tenho coisas para acabar.
Ao contrário da maioria das pessoas, a saudade dá-me uma certa felicidade. Aquela terra está cheia de saudades boas. Volto e encontro a Maria de bibe e tranças, as pernas ficam mais leves, a comida sabe bem. E há o rio. O meu rio que mesmo com todos os disparates que fazem continua lindo e me canta a mesma canção de sempre. E as imagens dos meus pais jovens e felizes. E o meu irmão, que passado tantos anos, ainda é para mim, o mais belo rapaz de Tomar. E a mana pequena de caracóis e nariz arrebitado. E histórias antigas que fazem rir.
E novamente aquele rio, que me corre nas veias e me faz bater o coração com força.
Não há remédio amigo. A Maria só deixará de ter saudades no dia em que ela passar a ser saudade.
Abraços dos homens, beijinhos e parabéns para a Raquel e queijinhos para tu.
Maria.
PS: Vou daqui a pouco ao teu blogue.

Osvaldo disse...

Olá Maria;

Primeira, desculpa mas tenho andado um pouco "arredado". Algumas viagens, entre elas uma a Portugal incluindo uma passagem rápida por Lisboa, como deves saber e o tempo voa.

Quanto à tua Fonte de Prata, é pena que certas autoridades autárquicas, para mostrarem (de)serviço acabem por fazer asneiras que depois não sabem refazer e o pior é que acabam sempre por fazer asneira atrás de asneira e pontos de referências artisticos e culturais de lugares desaparecem como D. Sebastião, que ninguém mais lhe põe o olho em cima.

Beijinhos para ti, Maria e um abraço para os teus dois homens.

da Anita e Osvaldo

Ps.- vou te escrever um destes dias um mail para se organisar algo para Setembro em Tomar.

Unknown disse...

Suponho que o sr. T.C. terá bebido muita aguinha da Fonte da Prata.
Se bebeu, quem sabe, não terá a mágica água influenciado na sua ideia para a nova fonte.
Deixassem-no tornar real o seu projecto. Sempre seria feito por alguém que conheceu a antiga Fonte da Prata.
Na volta, vão buscar um arquitecto estrangeiro para fazer uma coisa a que vão chamar fonte...
Beijo.

Kim disse...

Infelizmente, por todo o lado, cometem-se erros de lesa pátria.
Não é só o teu Nabão que tem a seus pés estas desgraças. Assim é também na nossa Lisboa e não só.
Bem-vinda Petie Marie!

Maria disse...

Osvaldo
Eu também tenho andado fugida. Primeiro a ida a Tomar, a seguir a casa para limpar e por fim, uma certa preguiça de pegar no computador. Ainda nem comentei o teu post, nem o do André, nem da Laurinha.
Pensei em todos vós em Tomar, e imaginei onde vos levaria. Mesmo com defeitos ainda é linda.
Abraços do João e do Vasco e beijinhos para ti e Anita.
Maria

Maria disse...

Vasco
As asneiradas do Sr Paiva e seus apaniguados são irreparaveis. Só não mudaram o Rio porque ele não deixa. Não sei nem quero saber, o que vão fazer na rotunda. Mais uma bisarma horrorosa na certa. Eu prefiro a imagem que o amigo do teu padrinho tão bem imaginou.
Sabes que eu tenho sempre facilidade em sonhar o que quero.
Beijinhos.
Mãe

Maria disse...

Kim, meu amigo
As asneiras que se fazem naquela terra davam um livro. A parte antiga parece bombardeada. Agora tiveram a peregrina ideia de lavar a Janela do Convento. Acho que parte dos tomarenses e não só, temem que ela caia de tanta limpeza.
Se deixassem em paz aquilo que lá está há séculos e se limitassem a reparar em termos os estragos do tempo, era bem melhor.
Mas os "iluminados" que lá aparecem vindos do nada, cheios de projectos mégalomanos é que sabem.
Beijinho
Maria

Laura disse...

Maria; já se nota isso pelo País todo, a cada nova obra deturpam, eu aceito o modernismo, o clássico aliado ao antigo, mas, que façam melhor e nunca pior! Que consultem o Povo antes de apresentar o projecto definitivo e ouça ideias, mas, não, eles é que mandam, sempre o homem com a mania que tem o poder sobre tudo e todos e depois a cidade fica cada vez mais velha e mais feia...É pena, adoro ver lugares bonitos, sitios com beleza.
Por exemplo o nosso parque da Ponte, antigamente era muito fechado, árvores a mais, verdes, um lago bem sujo tornaram-se o lugar preferido dos toxicodependentes, eu que gostava de lá ir com os miúdos, deixei, começaram a surgir assaltos e agressões, ficou abandonado, graças a deus, voltaram a cuidar dele, é lindo, cortaram árvores puseram relva lugares de calma e sossego, o lago está lindo, mas, ah, que nervoso, lembraram-se que está na moda montar cafés e restaurantes em cima das águas, é bonito mas tirou um pedaço de volume ao lago, coisa que detestei, se tinham espaço noutro lado qualquer, enfim, já lá está... gosto de ver água até à imensidão.. Pois é, nem todos estamos satisfeitos e nada podemos fazer..só que se os de Tomar se juntarem um dia a reclamar, as coisas tomarão outro rumo...
Um abraço apertadinho da tua flor de linho..e Tomar já está na mira!
laura

Maria disse...

Laurinha
Claro que não sou contra o progresso, desde que melhore o que está e faça coisas úteis. Não é o caso. Deixam cair e às vezes atiram abaixo o que está bem, para fazer asneirada de criar bicho.
Beijinhos
Maria

Laura disse...

Claro que é isso que sinto também...melhorar mas em qualidade e coisas bonitas mas de preferência manter a fachada antiga, cópia o que for...se fazem mais feio e que nada tem a ver com o local, mas que asneira...
Um beijinho e hoje é sexta feira...até parece que trabalho e folgo mais mas lá vou ás minhas voltas. Um xi da laura

Andre Moa disse...

Quem me dera tomar o que Tomar nos dá apesar da tal desfeita de nos tirarem a água.
Com tanta coiaa necessária a fazer, o que dará a estes crânios camarários para estragarem o que está bom?
Como única consolação apenas te poderei lembrar, cara Maria, que isso acontece, infelizmente, por todo o lado. Por todo o lado português.
Beijinhos
André Moa

Maria disse...

André
O ano passado estive em Olivença e fiquei feliz por ela ser de Espanha. Com um ar muito português, ruas com nomes portugueses. Há dias soube que as ruas todas vão voltar todas a ter o antigo nome, em português. Eu, que não vou muito à bola com espanhóis, o meu sangue é meio galego, fico contente porque alguma coisa nossa ficará igual, embora seja espanhola.
Cá, só vemos ruínas, castelos a cair, ruas e pontes que mudam de nome, sem se saber porquê.
Em Tomar, por exemplo, a velha Rua da Judearia, que ainda tem os ferros das correntes, com que a fechavam à noite, tem agora o nome de um senhor que eu nem sei quem foi. É nesta rua que fica a "Sinagoga das oito bilhas", que hoje está investida no seu papel, mas já foi armazém e quase caiu.
Beijinhos para ti, Teresinha, Susana e Campeão.
Maria