quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Adeus Júlio, força querida Soledade


Eram assim as Camélias do meu jardim do Carvalhido. Seriam elas que gostaria de levar ao Júlio.

Queria estar aí contigo, abraçar-te muito, levar flores de saudade ao Júlio. De uma certa forma estou. Tenho pensado muito em ti, amiga.
Este ano e tal foi uma luta horrível para ambos e para a vossa filha.
É muito tempo. O Júlio teve força para lutar, porque tu, mulher forte e valente, estavas lá. Porque a vossa filha estava lá.
Agora, amiga, vais ainda passar dias muito dolorosos. Unam-se as duas na vossa dor comum, que mais ninguém pode partilhar. Estou certa de que era isso que o Júlio queria.
Não tenho jeito para frases feitas. Acho que não aliviam nada. Por isso, envio para as duas um grande abraço, beijos e toda a amizade de que sou capaz. Para ti Júlio, um beijo de despedida e o desejo de que repouses como mereces.
Da vossa
Maria

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Alerta Patos Bravos!

Ontem, entre muita coisa, deram-me um livro que adorei. Fala dos primeiros Patos Bravos, mostra inúmeras casas de Lisboa feitas por eles.
Li e vi o livro até bem tarde.
O violento tornado que assolou a minha terra fez-me ficar acordada, pensando nos meus patrícios que ficaram sem casa, no Jardim Escola que tão bem conheci, nas árvores arrancadas. Depois de os homens começarem a estragá-la e deixar degradar, faltava o Tornado para completar a obra.
Já não há Patos Bravos, meus amigos? Vieram todos para Lisboa?
A nossa terra e a nossa gente precisam de vós.
Fiquei tão triste que o simples facto de fazer anos ontem, que nasci aí, me magoou.
Ajudem a nossa terra a voltar ao esplendor de antigamente. Vai ser preciso o trabalho e a ajuda de todos.
Senhores políticos, Tomar não é só o Convento e os Tabuleiros. É uma cidade com História, além de ser povoada por gente que sofre e precisa de casas, de comida, de muito amor.
Até um dia destes.

Peço desculpa a Pedro Fernandes e ao Templário, por ter usado um vídeo vosso. Grande abraço para toda a equipa do jornal

Maria

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Mulheres

Conheci-a nova. Não muito alta, não muito gorda, um rosto bonitinho, onde uns olhos azuis claros tinham por vezes um olhar vago. Muito loira, a pele branca. Era simpática mas, às vezes, havia qualquer coisa estranha. Casada, dois filhos, loiros como ela. O marido, relojoeiro, teve sempre um ar de quem comeu e não gostou, antipático, quase não falava a ninguém, a não ser para discutir quando estava quente do vinho. Era bruto com ela e com os putos. Eles mostravam medo do pai.
Ela fazia o trabalho de casa, fazia as compras, criava os filhos.
Cada vez estava mais apática, um olhar vago, uns modos estranhos. Alguém descobriu que se estava a tratar no Júlio de Matos. Caridosamente, começaram a referir-se-lhe como “Maria maluca”. Cada vez falava menos, fechava-se em casa, o filho mais velho, relojoeiro como o pai, saiu de casa. O mais novo, já um pouco desequilibrado, meteu-se na droga. Um dia perguntei ao homem como estava a mulher, que já não via há tempos. Que estava no hospital, maluca de todo. Brutalmente, sem um pouco de pena. Ele é que era a vítima!
Reformou-se, passando a vida no tasco. Um dia teve uma trombose. Quando veio para casa mal andava. Ao 2º ataque ficou totalmente incapacitado. Agora a “Maria maluca” vai todos os dias a uma associação de reformados buscar a comida dele, dela e do filho. Leva mais de meia hora a andar 50 metros. Gorda, desfigurada, doente, arrasta o saco pela rua, parando de 2 em 2 passos. Ele está acamado, o filho fuma o dia todo, tabaco e droga. Ele não quer ajudas de ninguém. E é a mulher, que um dia foi bonitinha e hoje é um trapo, que aguenta tudo. Quando a vejo do alto do meu 4º andar, arrastando-se, olhando sem ver, penso nas outras “Marias malucas” que proliferam por esse mundo. E dói-me, dói-me muito.
Igualdade? Protecção da mulher, onde? Algumas nem direito têm de ser malucas!
Pobre “Maria maluca”! Pobres de todas elas!
O tempo que está, faz-me tão mal!
Até um dia destes.