terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Cheiros e cheirinhos

Tenho uma memória olfactiva muito grande. Qualquer aroma me faz lembrar alguém, um local, um momento.
Hoje senti um leve perfume que me lembrou a minha Mãe. O cheiro dela está sempre presente mas, foi um leve cheiro a rosa que me despertou. Ela fazia uma água de rosas com folhas delas, álcool, tintura de benjoim e água. Era o seu perfume, misturado com o do creme Nívea e o Pó de arroz Thaber e, claro, o cheiro a mãe, esse cheiro que nós nunca esquecemos, porque é único.
Depois, lembrei-me de outros aromas: o cheiro a pinhal, a Ria, a moliço. A casa da quinta que cheirava a lenha a arder, a comida, a bolos, a camas com colchões de palha de milho, lençóis cheirando a lavado e alfazema, grossos cobertores de papa. Quartos cheirando a cera, aos perfumes e pós das tias, o cheiro de cada uma. De manhã o perfume dos sabonetes Confiança, que todas usavam, enchia a casa de mistura com cheiro a manteiga acabada de fazer, pão quente, café e chá. Era bom.
Lembro o cheiro da Maria do Céu, a empregada que fazia a manteiga, cheiro a leite, a avental branco muito limpo, onde às vezes me encostava quando estava triste ou me ralhavam.
A minha Avó cheirava a lavanda. O meu Pai a sabão e Pó Avelar para os dentes. Perfume não era para homens, dizia. Cheirava a tabaco e a Pai.
O meu marido, antes de se tornar num anti-tabagista chato, cheirava a Clan ou a Negritas. É raro pôr perfume mas gosto do cheiro dele e conheço-o a léguas.
Ficava aqui o dia todo a falar dos cheiros que gosto e, dos que não gosto
Só falta dizer que sou infiel aos perfumes que uso. Há três que são imutáveis: “L’Air du Temps” de Nina Ricci, “Calèche” de Hermès e “Intuition” de Estée Lauder. Depende do dia e da disposição.
Tenho-os sempre. O fornecedor? O meu marido, claro.
Até um dia destes.