sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Cartão Vermelho



Pessoas a morrer de fome e outras de fartura
Pessoas com inúmeras casas e outras a viver na rua
Falta de respeito pelas ideias dos outros e tentativa de impor as suas.
Tráfico de mulheres e trabalho escravo.
Abuso, violação e rapto de crianças.
Experiências com animais.
Abate de animais para adornar as Barbies deste mundo.
Implantes de silicone.
Deslealdade, mentira e batota.
Tentativa de me obrigarem a comer sapos.

Até um dia destes e façam o favor de ser felizes.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Irmãos


Quando há quase 65 anos cá cheguei, tu estavas à minha espera.
Se os bebés percebem e eu acho que sim, fiquei feliz porque tinha um irmão. A que nasceu entre nós, tinha partido, mas estavas tu. Roubei-te um pouquinho da atenção dos pais, mas penso que não te ralaste muito. Fomos irmãos, amigos, cúmplices.
Íamos ao cinema ver filmes de cow boys, passeávamos, trocávamos confidências e tu e o resto da malta tinham uma paciência infinita com a miúda das tranças. Quando a nossa irmãzinha nasceu, fomos companheiros de quarto por uns tempos.
Ela era a boneca pequenina, de dedo na boca, caracóis e engraçada. Nós continuávamos a ser quase inseparáveis.
Ensinaste-me tanto! Contigo aprendi a gostar do “Cavaleiro Andante”, do “Mosquito”. Depois da condessa de Ségur. “O evangelho duma avó”, “O bom diabrete”, “O Brás”. A seguir veio Simenon e o seu “Maigret”, Saint-Éxupéry e “Terre des Hommes”.
Um Natal apresentaste-me Torga e “Os novos contos da Montanha”.
Foi uma das melhores prendas que recebi. Viciei-me nele.
Nos intervalos havia os filmes de Eddie Constantine. Um dia destes vamos revê-lo, juro.
Mas houve mais. As tuas visitas quando os meus filhos nasceram, a ternura que tens por eles e que eu retribuo com o mesmo amor pelo teu.
Houve as dores divididas. A perda, tão cedo, da nossa mãe, o tempo de angústia do fim do nosso pai, o abraço enorme do dia da morte dele. E mais coisas que sofremos a meias.
E os momentos felizes: Paris, Itália e as lembranças da nossa infância feliz em Tomar. E a nossa menina (Por mais que faça, vejo-a sempre pequenina, de caracóis e dedo na boca). Agora todos juntos de novo, como sempre, como na foto que vai acima e que publico sem vossa autorização. Aconteça o que acontecer, será sempre assim: Tu, o protector, nós as protegidas.
E sabes Irmão? Com tudo isto, acho que já sou capaz de dizer no meio da Corredoura em Tomar, no alto do Parque Eduardo VII em Lisboa, no cimo da Torre Eiffel em Paris, Eu AMO-VOS, meus irmãos. Admiro-vos.
Até um dia destes e façam o favor de ser felizes. Eu hoje estou.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Vindimas


Era por esta altura que as vindimas eram feitas na quinta.
Desde manhãzinha, homens, mulheres e crianças, munidos de cestos e tesouras, invadiam as vinhas. Iam-se cortando os cachos vermelhos ou dourados, depenicando um ou outro bago, enchendo os cabazes pequenos, vazando-os depois nos grandes cestos víndimos, que eram transportados às costas dos homens até à adega. Esta era grande com telhado de duas águas e uma porta. De um dos lados estavam os toneis, do outro grandes tabuleiros para a fruta, a batata e a cebola, ao fundo uma enorme dorna de pisar vinho, uma escada que dava para a plataforma onde estava a prensa de esmagar as uvas e a balança. Nessa parede havia uma porta que dava para a escada exterior por onde subiam os homens com os cestos. Lá no alto, o meu pai, calças de cotim, botas e boina basca, caderno na mão e lápis atrás da orelha, pesava, assentava o peso das uvas, dava de beber aos homens que vazavam os cestos na prensa. Tudo aquilo abanava com o motor. O sumo ia correndo. O dia ia correndo. Os cestos iam chegando cada vez mais lentos.
À noite, entre cantigas e brincadeiras, uma parte do mosto era pisada à moda antiga, na dorna velha. O cheiro embriagava um pouco as cabeças mais pequenas. No fim, a ceia. Broa de milho fresca, chouriço, toucinho.
No outro dia era o rabisco. Nós miúdos, íamos pela vinha fora, procurando um cacho esquecido, que nos deliciava.
Era assim há perto de 60 anos.
A foto junta, tem muitos mais. É do tempo dos meus avós. Nela estão minha mãe, a mais pequenina ao pé do cesto e as irmãs, vestidas de vindimadoras. Deve ter à volta de 100 anos.Até um dia destes e façam o favor de ser felizes.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

História de um par de meias


Há coisas em que as mulheres não mudam. Vi isso hoje no Post da Ritinha. Ela, menina ainda, conta a história de uma camisola. Fiquei um tanto perplexa por ver tanta sensibilidade e romantismo numa mocinha. Depois, dei comigo comovida, porque me lembrei que há 41 anos, guardo dentro de uma caixa umas velhas meias de vidro.
Meias mesmo. Daquelas que se usavam com tiras de elástico (ligas), ou as mais sofisticadas prendiam com os elegantes cintos de ligas.
Houve um Natal, em que tínhamos pouco dinheiro e o meu marido me ofereceu um par de meias de vidro. Fiquei contente pela lembrança, usei as meias e, quando, já bem usadas tinha pensado deitá-las fora, não fui capaz. Guardei-as até hoje. Quando as encontro no meio de arrumações, dobro-as com ternura e volto a guardá-las.
E sabes Ritinha? No fim de tantos anos, também lembro o dia em que as recebi e quem mas deu. Não podia esquecer porque ele é ainda hoje o meu marido, o meu amor, o pai dos meus filhos e avô dos meus netos.
Como eu desejo, que daqui a muitos anos, olhes para esse camisola com o mesmo amor! Beijinhos querida.
Até um dia destes e façam o favor de ser felizes.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Uma noite em Roma


Éramos quatro. Vínhamos com os olhos cheios de beleza, de Milão, Veneza, Pádua, Assis, Pisa, Siena e Florença. Florença, meu amor, Florença, onde vou voltar. Chegados a Roma, foi um corrupio, para conseguirmos ver o máximo possível. Uma noite, depois de jantarmos, não sei o quê, fomos à “Piazza di Spagna”, subimos as escadinhas que vão dar à Igreja “Trinità dei Monti”, sentámo-nos na esplanada de um pequeno bar, pedimos quatro “Limoncello” e, cada um ficou a sonhar os seus sonhos, enquanto conversávamos. Eu e o meu irmão lembrávamos o filme “Férias em Roma” com Audrey Hepburn. A minha cunhada, pensava em toda a arte que Roma encerra. O meu marido, com ar sonhador, esperava ver a Laetitia Casta, descer as escadas, bela e sedutora, sentar-se à mesa com ele e, em voz doce, pedir: “Un Limoncello, per favor”. Não teve sorte, coitado. Tirando eu e a minha cunhada, os únicos seres do sexo feminino, eram umas inglesas já entradas, tão bem bebidas que, uma delas, teve direito a ambulância e tudo.
Nós, bebemos mais um copinho daquele Amalfitano néctar e dispusemo-nos a voltar para o hotel. Fomos direitos ao metro mais próximo e, vimos um cartaz a anunciar “Greve”. Fartámo-nos de andar, até aparecer um bem aventurado táxi, que nos levou ao descanço merecido. No dia seguinte, havia mais Roma para ver.
Tenho de confessar que este post é repetido. Publico-o hoje porque queria escrever alguma coisa que tivesse a ver com o meu irmão sem entrar em lamechices. É tudo o que ele menos precisa.

Assim, lembrando os nossos dias felizes em Itália, fico a sonhar repeti-los.

Boa noite irmão e cunhada.

Até um dia destes e façam o favor de ser felizes. Eu vou tentar.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Torga e o Douro


Falar em Torga é dizer Douro.
Lê-lo, é conhecer a luta dura
Do homem contra o xisto.
É ver transformada a terra pura
Em terra mãe de vinha.
São socalcos esculpidos com enxada
Talhados como quem faz uma escada
Direita ao céu.
Terra dura regada e adubada
Pelo suor e o sangue
Que o homem lá verteu.
E lá no fundo o rio
Dourado e belo e frio,
Ora correndo em saltos
Ora espreguiçando-se cansado
De vir de longe do berço onde nasceu.
E o rabelo passa carregado
A caminho de Gaia, o seu porto
Com pipas desse vinho consagrado
Que sendo do Douro, vai ser rebaptizado
Como vinho do Porto.

Maria 03-09-2009

Até um dia destes e façam o favor de ser felizes.