sábado, 31 de dezembro de 2011

Bom Ano Novo

Recomeça….
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…

Miguel Torga


Mais uma vez Torga vem falar por mim.
Talvez porque tudo precisa de recomeço, incluindo eu, escolhi este belo poema.
Vamos todos tentar, recomeçar alguma coisa.
O Ano possível e, até um dia destes
Maria

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Natal Antigo


Nem luzes iluminando luxos e miséria
Nem árvores monumentos valendo alguns milhões
O Natal antigo era uma festa séria
Com bacalhau e couves, um bolo e coscorões.

À noite antes da missa quem era pequenino
Punha um sapato junto da chaminé
Ia dormir sonhando ver Jesus menino
Deixar um livro, uma boneca, um chocolate até.

Descalço e em camisa sem frio na manhã fria
Corria a ver o que o Menino tinha lá deixado
Se era a boneca que há tanto tempo lhe pedia
Se era o livro há meses namorado

As mãos tremiam o coração estalava
E lá estava a boneca o livro tão esperado
Com a boneca ao colo o livro devorava
E era tão feliz nesse Natal Passado.

Maria

Para todos um Natal Feliz.
Calculo que para a maioria de vós, será um Natal menos farto, menos luminoso. Mas os mais velhos já viveram Natais assim.
Eu vivi muitos e, foram muito felizes.
Dêem mais amor e menos prendas. O amor não custa dinheiro.
Para os meus amigos, toda a amizade que cabe no coração da vossa
Maria

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Mão, punho, manga de casaco

De há um tempo para cá, tenho um sonho recorrente que, me dá cabo do juízo. É meio surrealista, estranho, sem explicação nenhuma. Apenas um sonho parvo.
Estou num cemitério, num funeral com muita gente, nuvens pesadas a ameaçar borrasca. Depois, alguém, não sei quem, vem ter comigo para me apresentar um homem. Aí, começa o mistério.
Um nome murmurado, uma mão forte e morena que, aperta a minha com força, um punho branco de camisa, uma manga escura de casaco e, uma voz que apenas diz, um “muito prazer” sumido.
Quando tento ver a cara, acordo. Se tivesse tido o sonho só uma vez, já tinha esquecido. Mas repete-se com alguma frequência.
Ora eu, que nunca me preocupei com o significado dos sonhos, que não lhes dou importância, ando às voltas com este. Já estou farta de tentar relacioná-lo com alguma coisa da minha vida e, nada.
De quem será a mão, o punho, a manga a voz, embora baixa, lembra-me alguém mas, não sei quem. É a minha única pista, para este sonho parvo.
E se eu fosse à Maya?
Até um dia destes
Maria

sábado, 10 de dezembro de 2011

Gracias à La Vida Ellis Regina



Obrigada à Vida por tudo o que me tem dado.
Até um dia destes
Maria

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Serões de Antigamente

Nesse tempo não havia televisão em Portugal. Havia telefonia, um aparelho que não tinha imagens, só som.
No inverno, à roda da braseira, sentados à volta da mesa de jantar, esperávamos ansiosos, as nove da noite, hora do folhetim. Boas obras, interpretadas por bons actores. Assim, conheci “As minas de Salomão”, “A paixão de Jane Eyre”, “Os Fidalgos da casa Mourisca”, “A Cidade e as Serras” e, muitos outros livros. Não nos faziam falta as imagens. Actores famosos, interpretavam de tal forma os personagens que, a imagem não fazia falta. Havia um dia da semana, salvo erro, a quarta-feira, em que tínhamos o “Teatro das Comédias” de Álvaro Benamôr. Eram peças, geralmente de autores portugueses, contemporâneos ou, mais antigos. Gil Vicente, Almeida Garrett, Marcelino de Mesquita, Júlio Dantas, Ramada Curto etc. Aos sábados começava a sessão antes de jantar. Era o programa infantil da Madalena Patacho. Meninos da nossa idade contavam histórias. Desses meninos, lembro: João Lourenço, Isabel Wolmar, Morais e Castro e muitos mais. Das histórias, eram sobretudo, as “Aventuras dos cinco” de Enid Blyton que me fascinavam. À noite, havia os “Serões para trabalhadores” que, incluíam cantigas, fados e passatempos em que “uma nota de 500, não se podia deitar fora”. Ao Domingo à tarde vinha a bola e, às vezes as toiradas. Durante a semana, ainda havia programas de Fado, Concertos pela Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, etc.
Eram serões, em família. O meu pai fazia paciências com cartas, a minha mãe fazia renda, o mano estudava, eu perdia-me a imaginar o que ouvia, a pequenina, às vezes, adormecia no colo da mãe, com o dedo na boca.
Veio a televisão e, adeus serões a cinco. Ao princípio, apesar das falhas, delirei com ela. Era uma telefonia com imagem. Dava bons programas em directo, coisas que interessavam a todos. Agora, é o que temos. Gosto de ver a RTP Memória. Parece que vai desaparecer.
Quero a minha Telefonia de volta! Mas para quê, se também não presta?
Livros, sempre amados, lidos e relidos, só vocês me tiram deste marasmo. Só vocês me dão os momentos de distracção que necessito.
Enquanto tiver livros e vista para os ler...
Até um dia destes.
Maria