sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Mãos Vazias

















Levei a vida inteira a tudo dar.
Amor, ternura, sem troca nem razão.
Sofri tudo, sem muito me queixar
Amei o mundo, a todos dei a mão.

Agora, a saudade, a solidão
São a minha grande companhia,
Aqueles a quem dei a minha mão,
Nada põem na minha mão vazia.

Nem um carinho, nem uma lembrança
Eu sinto já, da parte de alguém
Nem sequer um riso de criança
Eu ouço nesta terra de ninguém.

E olho então as minhas mãos vazias,
Roço-as uma na outra para sentir
Algum calor nas tristes mãos tão frias
Que não têm outras mãos para as cobrir.

Maria

Até um dia destes
Maria

sábado, 15 de setembro de 2012

Era uma vez... em 1800


A história começa em 18... e vem até aos dias de hoje. Vou resumir por várias razões:
                              1ª Não sou o Camilo Castelo Branco.
                              2ª Era uma grande estopada.
                              3ª Ou eu ficava maluca ou alguém ficava, tal é o emaranhado da história toda.
Em 18... vieram de Colares dois irmãos em busca de uma melhor vida. Um emigrou para o Brasil à procura da árvore das patacas. O outro ficou em Lisboa e encontrou a dita árvore. Casou com uma menina filha de um agiota, herdou o negócio e fê-lo prosperar. Camilo fala dele num dos seus livros. Foi ele quem liquidou a herança do pai do escritor. Tiveram duas filhas, belas moças. Chamavam-se respectivamente: Bonifácia Dinis e Adelaide Olímpia. Só ponho os nomes para que a história fique clara.
Um belo dia chegou do Brasil o tio emigrado. Vinha rico e solteiro. Os dois irmãos logo resolveram juntar as duas fortunas. Foi dito à pobre da Bonifácia que iria ser esposa amantíssima do tio. Claro que a menina nem teve tempo para pensar, quanto mais para dar a sua opinião. Casou, teve três meninos e morreu. Entretanto o agiota tinha morrido e a Adelaide foi morar com a mana e o tio-cunhado-tutor. Ela criava e tomava conta dos sobrinhos, ele tomou conta dela. Tomou tão bem, que ao fim de uns meses nasceu uma menina. A pobre Adelaide viu-se com uma filha, bastante dinheiro e uma quinta no termo do Lumiar. Já doente, por lá foi ficando com a filha e duas velhas criadas. Os sobrinhos visitavam-na, ajudando-a a suportar a solidão, o abandono do tio-cunhado-tutor-amante, que entretanto já casara de novo e tinha outra filha. Ela morreu, a menina foi entregue à irmã mais velha. 
Pensam que acabou? Não. Agora é que vem o melhor.
Há tempos, o meu Filho comprou uma casa. Sabem aonde? Precisamente no sítio onde a minha bisavó escondeu a sua vergonha e mágoa de abandonada. Como sei? Possuo ainda a escritura dessa quinta em nome da minha avó. Mas é só a escritura, a quinta é hoje um aglomerado de casas. Quer dizer: o meu filho comprou uma ínfima parte, daquilo que um dia foi da minha família.
E diz a outra que não há coincidências!
Estão a ver que eu não sou o Camilo? Se fosse, esta história teria dois volumes, pelo menos.
Até um dia destes
Maria         




domingo, 9 de setembro de 2012

Resto


















Paula Rego


Sou resto de trapo
De um vestido velho
Deitado no lixo.
Sou caco de espelho
Que reflecte a luz
Duma forma estranha.
Sou resto de nada
Pois nada vivi
Sou resto que resta
Da vida que teima
Em viver em mim.

Maria

Até um dia destes
Maria

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Pela luz dos olhos teus



Com muitos beijinhos da
Tia

Até um dia destes
Maria