Foi há muitos anos. Na mesma Igreja onde já tinha sido baptizada, onde ia à Missa quase todos os Domingos, onde entrava muitas vezes para ver os santinhos bonitos, desfiar umas orações, com uma fé cega, como desejava ainda sentir.” A minha Igreja”, como lhe continuo a chamar, a mesma que ainda hoje, é a minha primeira visita, quando vou a Tomar. São João Baptista, a minha Igreja, é linda, a mais linda Igreja do mundo, para mim, claro. Lá dentro volto a ser a mesma menina do retrato.
Hoje não vou contar nada. Está muito calor, estou cansada, não tenho vontade de escrever. Sorte a vossa, porque eu pedi ao Guerra Junqueiro uma poesia, que diz o que eu não sei dizer.
Minha mãe
Minha mãe, minha mãe! Ai que saudade imensa
do tempo em que ajoelhava, orando ao pé de ti.
Caia mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se, voando em torno dos seus lares,
suspensos do beiral da casa onde eu nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
dormia quieto e manso o impávido lebreu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,
e a lua branca, além, por entre as oliveiras,
como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu.
E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço
vendo a lua subir, muda, alumiando o espaço
eu balbuciava minha infantil oração,
pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
que mandasse um alívio a cada sofrimento,
que mandasse uma estrela a cada escuridão.
Guerra Junqueiro
E pronto ficamos assim. Bom dia de praia.
Até um dia destes.
Hoje não vou contar nada. Está muito calor, estou cansada, não tenho vontade de escrever. Sorte a vossa, porque eu pedi ao Guerra Junqueiro uma poesia, que diz o que eu não sei dizer.
Minha mãe
Minha mãe, minha mãe! Ai que saudade imensa
do tempo em que ajoelhava, orando ao pé de ti.
Caia mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se, voando em torno dos seus lares,
suspensos do beiral da casa onde eu nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
dormia quieto e manso o impávido lebreu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,
e a lua branca, além, por entre as oliveiras,
como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu.
E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço
vendo a lua subir, muda, alumiando o espaço
eu balbuciava minha infantil oração,
pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
que mandasse um alívio a cada sofrimento,
que mandasse uma estrela a cada escuridão.
Guerra Junqueiro
E pronto ficamos assim. Bom dia de praia.
Até um dia destes.