sábado, 31 de dezembro de 2011

Bom Ano Novo

Recomeça….
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…

Miguel Torga


Mais uma vez Torga vem falar por mim.
Talvez porque tudo precisa de recomeço, incluindo eu, escolhi este belo poema.
Vamos todos tentar, recomeçar alguma coisa.
O Ano possível e, até um dia destes
Maria

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Natal Antigo


Nem luzes iluminando luxos e miséria
Nem árvores monumentos valendo alguns milhões
O Natal antigo era uma festa séria
Com bacalhau e couves, um bolo e coscorões.

À noite antes da missa quem era pequenino
Punha um sapato junto da chaminé
Ia dormir sonhando ver Jesus menino
Deixar um livro, uma boneca, um chocolate até.

Descalço e em camisa sem frio na manhã fria
Corria a ver o que o Menino tinha lá deixado
Se era a boneca que há tanto tempo lhe pedia
Se era o livro há meses namorado

As mãos tremiam o coração estalava
E lá estava a boneca o livro tão esperado
Com a boneca ao colo o livro devorava
E era tão feliz nesse Natal Passado.

Maria

Para todos um Natal Feliz.
Calculo que para a maioria de vós, será um Natal menos farto, menos luminoso. Mas os mais velhos já viveram Natais assim.
Eu vivi muitos e, foram muito felizes.
Dêem mais amor e menos prendas. O amor não custa dinheiro.
Para os meus amigos, toda a amizade que cabe no coração da vossa
Maria

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Mão, punho, manga de casaco

De há um tempo para cá, tenho um sonho recorrente que, me dá cabo do juízo. É meio surrealista, estranho, sem explicação nenhuma. Apenas um sonho parvo.
Estou num cemitério, num funeral com muita gente, nuvens pesadas a ameaçar borrasca. Depois, alguém, não sei quem, vem ter comigo para me apresentar um homem. Aí, começa o mistério.
Um nome murmurado, uma mão forte e morena que, aperta a minha com força, um punho branco de camisa, uma manga escura de casaco e, uma voz que apenas diz, um “muito prazer” sumido.
Quando tento ver a cara, acordo. Se tivesse tido o sonho só uma vez, já tinha esquecido. Mas repete-se com alguma frequência.
Ora eu, que nunca me preocupei com o significado dos sonhos, que não lhes dou importância, ando às voltas com este. Já estou farta de tentar relacioná-lo com alguma coisa da minha vida e, nada.
De quem será a mão, o punho, a manga a voz, embora baixa, lembra-me alguém mas, não sei quem. É a minha única pista, para este sonho parvo.
E se eu fosse à Maya?
Até um dia destes
Maria

sábado, 10 de dezembro de 2011

Gracias à La Vida Ellis Regina



Obrigada à Vida por tudo o que me tem dado.
Até um dia destes
Maria

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Serões de Antigamente

Nesse tempo não havia televisão em Portugal. Havia telefonia, um aparelho que não tinha imagens, só som.
No inverno, à roda da braseira, sentados à volta da mesa de jantar, esperávamos ansiosos, as nove da noite, hora do folhetim. Boas obras, interpretadas por bons actores. Assim, conheci “As minas de Salomão”, “A paixão de Jane Eyre”, “Os Fidalgos da casa Mourisca”, “A Cidade e as Serras” e, muitos outros livros. Não nos faziam falta as imagens. Actores famosos, interpretavam de tal forma os personagens que, a imagem não fazia falta. Havia um dia da semana, salvo erro, a quarta-feira, em que tínhamos o “Teatro das Comédias” de Álvaro Benamôr. Eram peças, geralmente de autores portugueses, contemporâneos ou, mais antigos. Gil Vicente, Almeida Garrett, Marcelino de Mesquita, Júlio Dantas, Ramada Curto etc. Aos sábados começava a sessão antes de jantar. Era o programa infantil da Madalena Patacho. Meninos da nossa idade contavam histórias. Desses meninos, lembro: João Lourenço, Isabel Wolmar, Morais e Castro e muitos mais. Das histórias, eram sobretudo, as “Aventuras dos cinco” de Enid Blyton que me fascinavam. À noite, havia os “Serões para trabalhadores” que, incluíam cantigas, fados e passatempos em que “uma nota de 500, não se podia deitar fora”. Ao Domingo à tarde vinha a bola e, às vezes as toiradas. Durante a semana, ainda havia programas de Fado, Concertos pela Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, etc.
Eram serões, em família. O meu pai fazia paciências com cartas, a minha mãe fazia renda, o mano estudava, eu perdia-me a imaginar o que ouvia, a pequenina, às vezes, adormecia no colo da mãe, com o dedo na boca.
Veio a televisão e, adeus serões a cinco. Ao princípio, apesar das falhas, delirei com ela. Era uma telefonia com imagem. Dava bons programas em directo, coisas que interessavam a todos. Agora, é o que temos. Gosto de ver a RTP Memória. Parece que vai desaparecer.
Quero a minha Telefonia de volta! Mas para quê, se também não presta?
Livros, sempre amados, lidos e relidos, só vocês me tiram deste marasmo. Só vocês me dão os momentos de distracção que necessito.
Enquanto tiver livros e vista para os ler...
Até um dia destes.
Maria

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Não coma. Veja o Masterchefe


Num país onde a fome é cada vez mais, onde todos os dias se ouvem previsões catastróficas, sobre o dia de amanhã, onde fecham todos os dias, Restaurantes por falta de clientes e impossibilidade de manter os preços, onde as donas de casa fazem uma tremenda ginástica para por a comidinha na mesa, onde os carros do supermercado saem cada vez menos cheios, vindo a bolsa mais vazia, onde cada vez mais se recorre à sopinha dos pobres, há algo que aumentou nos écrans da TV: os programas de culinária. Sempre os houve, é verdade. Mas não havia comparação possível. Que saudades da Maria de Lurdes Modesto e das suas receitas simples, bem confeccionadas, usando ingredientes que, todos conheciam! Que saudades da Filipa Vacondeus, mais virada para a cozinha regional portuguesa, cozinha rica e saudável! Devo-lhes muito do que sei e, não cozinho mal, dizem. E houve o Mestre Silva, simpático, brincalhão que preparava bons pratos e petiscos.
Uma vez por semana, lá vinha a receita que, era escrita numa qualquer folha de papel, para uma próxima experiência culinária.
Agora tudo mudou. Para a gente não ter a mania de experimentar as “delícias” dos muitos Masterchef, alguns estrangeiros, estes aparecem trajados a rigor, usam linguagens estranhas, ingredientes estranhíssimos, caríssimos, de que nunca ouvimos falar, utilizam máquinas para tudo, numas cozinhas de sonho. Depois de muita correria, idas ao forno e ao fogão, alguns ao microondas, estafados, transpirados, ofegantes, aparecem com três pratinhos, maravilhosamente decorados e coloridos: uma entrada, um prato principal, uma sobremesa. Tudo em pouca quantidade, por causa da austeridade, acho eu. Devem querer mostrar que os olhos é que comem, será?
O facto é que no tempo dos outros, as senhoras corriam para a TV à hora da Teleculinária.
Agora se fossem fazer isso, ninguém comia, porque mal acaba um, num programa, logo começa outro no vizinho.
Será que os senhores da televisão, ouviram a frase da Maria Antonieta: “Não têm pão? Comam brioches”? o que no nosso caso se puderia traduzir para: “Não tens açorda, come Haute-cusine”.
Cada um come o que gosta e pode, mas não chateiem. Já chegam as telenovelas, a bola. Mas isso fica para outro dia.
Até um dia destes
Maria

sábado, 12 de novembro de 2011

Timor, vinte anos


Para que nunca esqueçamos.

Até um dia destes
Maria

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Diálogo de Olhos

- És tu?

Sou eu.

- Quantos anos passados e, eu nunca esqueci os teus olhos.

Não? Porquê se esqueceste o resto?

- Não, não esqueci, lembro-te muitas vezes. E tu esqueceste?

Ás vezes, nem me lembro que exististe. Outras, lembro vagamente, alguns momentos.

- Estás a mentir. Lembra-te que sei ler nos teus olhos.

Não, não soubeste. Se tivesses sabido...

- Que veria, diz!?

Quando importava, não leste nada. Agora não vale a pena.

- Achas que é tarde? Eu não te esqueci. Esqueceste tudo?

Não houve nada para esquecer. Nada se passou.

- Estás a mentir!

Vês? Nunca soubeste ler nos meus olhos.

- Agora não quero ler.

Desvia os olhos.

- Não quero desviar. Quero lembrar.

Eu nada tenho a esquecer. Adeus.

Hoje, viajei pela imaginação.

Até um dia destes,

Maria

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Carta a meu Pai

Esta carta foi escrita há dez anos, alguns dias antes da sua morte.
Ainda sob a influência da morte do Amigo Moa, decidi publicá-la.
Meu pai nunca a leu. Levou-a para o crematório e foi cremada com ele.
É triste, como triste estava, quando a escrevi, como triste estou hoje.

Meu querido Pai:

Nesta carta que, nunca lerás mas que, é escrita para ti, para mim, para todos os que amaste e, te amaram, tentarei contar quem foste e, quem és agora.
Foste o bebé mais bonito da minha avó, o homem belo e forte que, a minha Mãe amou até à morte, o Pai nem sempre tolerante, nem sempre compressivo mas, muitas vezes o companheiro alegre e meigo, o Pai que, não podendo comprar brinquedos, os fazia à força de algum engenho e muito amor, o Avô que, todos os netos adoraram.
Foste alguém que, ganhou o pão de cada dia, sem pensar muito no dia seguinte. Alguém que, perdendo o pai muito cedo, cedo teve que trabalhar, instruir-se, fazer-se homem, sempre só.
Tinhas uma enorme cultura, conseguida por ti.
Foste aquele que, era o centro das atenções, na mesa do café, no emprego, na família. A mesa das refeições, não era só para comer. Ao mesmo tempo, servia de aula de História, de Literatura, até de política. Sempre disseste que eras Socialista mas, a tua política era sempre, contra tudo. Querias um mundo onde todos fossem iguais.
Eras forte, o último argumento era teu, fosse palavra ou, um murro na mesa. Tinhas que ter sempre razão.
Agora Pai, com quase 92 anos, (será que os farás?) estás frágil, com foste ao colo da tua mãe mas sem o seu carinho a acalentar-te, ainda bonito, como o jovem que minha Mãe amou mas, sem a força que, a fazia sentir-se protegida. És ainda, o Pai que adoramos mas, a quem não pudemos ajudar.
Ver-te assim, entregue, sem ouvir, sem falar, apenas uma queixa quase imperceptível, um gemido fraco, dói muito, meu Pai.
Perdoa-me mas, já só posso pedir a Deus, à minha Mãe e a avó que, te levem depressa.
Não é falta de amor, meu velhinho querido. Quero que adormeças depressa e despertes entre o amor das duas. Quero puder falar de ti aos meus netos, contar-lhes como eras, sem esta dor que me rasga a alma.
Fica tanto para dizer de ti! Mas, hoje não, Pai.
Agora, só queria chorar.
Gosto muito de ti. Por isso, quero que partas.
Adeus Pai. O Adeus mais triste e doloroso da minha vida.
Um penúltimo beijo e, todo o meu amor.
O último será Depois.
O meu amor por ti será eterno.
Tua
Filha.

Até um dia destes, amigos.
Abreijos
Maria

domingo, 16 de outubro de 2011

Dorme meu amigo, dorme



Não consigo escrever nada que te defina. Ofereço-te esta canção que te ouvi cantar um dia.
Até um dia destes, André Moa, meu poeta, meu amigo
Abreijos
Maria

domingo, 2 de outubro de 2011

Um Puzzle Incompleto


Ontem tentei recrear na medida do possível, os aniversários de meu Pai. Juntei o máximo de descendentes que pude.
Fiz almoço de Festa, com a mesa enfeitada, o Bolo de aniversário, a alegria e a ternura que sentimos uns pelos outros, mesmo depois de longas separações.
Correu tudo bem, estávamos felizes, eu pelo menos estava, apesar de algumas peças que faltaram, por absoluta falta de disponibilidade. Faltava a minha maninha mais nova, retida nos Açores, a minha filha retida no Algarve pelo trabalho, a minha nora (filha), igualmente a trabalhar e, os meus dois sobrinhos, filhos da mana.
Conseguimos ser nove. O mano e a cunhada, o sobrinho mais velho ( grande alegria, meu Janico), os meus dois filhos rapazes e os netos queridos.
E claro, faltava a peça principal, o aniversariante, por razões óbvias.
O meu puzzle ficou bonito, mesmo com os tais buraquinhos , causados pela falta das tais pecinhas.
Para o ano, se me der na cabeça, pensarei nisto mais cedo, recuperarei algumas das peças que faltaram, talvez junte outras.
Soube-me a pouco, soube-me a tanto.
Eu sei que ficarias contente, Pai.

Até um dia destes
Maria

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Senhora da Lanterna

Florence Nigtingale, nasceu em Florença em 1820, filha de boa família inglesa. Moça e bonita não se conformou com o papel que a família e a época, lhe tinham traçado: Esposa e mãe. Ela queria mais e, por isso arrostando com a ira dos familiares, tornou-se enfermeira.Num tempo em que esse papel cabia a cozinheiras, prostitutas e mulheres de extracto social baixo, Florence, a jovem Florence, começou a visitar hospitais e ficava horrorizada com a maneira como eram tratados os indigentes que, tinham o azar de ir parar a esses antros. Conseguiu que Charles Villiers, presidente do “Poor Law Board (Comité de lei para os pobres a ajudasse a reformar as Leis dos Pobres, que deu a estes mais cuidados.Em 1846, Flrence visitou Kaiserwerth, um hospital pioneiro e dirigido por uma ordem de freiras católicas na Alemanha, ficando muito impressionada pela qualidade do tratamento de médicos e religiosas, o que a levou a tentar implementar as mesmas práticas em Inglaterra.Em outubro de 1854, parte com 38 voluntárias treinadas por ela para os Campos de Scurit, na Turquia Otomana.Quando voltou a Inglaterra em 1857 e, de acordo com documentos da época, ela era a grande heroína da Guerra da Crimeia.Foi aí que ganhou o nome de “Senhora da lanterna”. Os feridos esperavam as suas visitas nocturnas com ansiedade. Quando viam a luzinha ao longe, sabiam que logo iriam receber lenitivo para as dores e para a alma. Uma mão fresca pousaria nas testas febris, uma palavra terna acalmava-os.Infelizmente, voltou da Crimeia, diminuída fisicamente, após uma Febre tifóide.Nem isso parou Florence. Continuou a formar enfermeiras, a tentar melhorar as condições de tratamento dos doentes internados nos hospitais.Em 1883, recebeu a Cruz Vermelha Real, concedida pela Rainha Victória e, em 1907 tornou-se a primeira mulher a receber a Ordem de Mérito.Morreu aos 90 anos, deixando uma vida cheia de exemplos.Esta é a história da Senhora da Lanterna.Florence Nigtingale, uma das minhas heroínas.

Até um dia destes.

domingo, 18 de setembro de 2011

Uma luzinha no telhado


Na esquina da minha rua há uma casa normal, igual a todas.
Quando vou fumar o cigarro da noite, olho o telhado da casa e vejo uma luzinha brilhante, viva, que me faz voltar atrás nos anos.
Lembra-me a casa em que morei no Porto. Tinha um quarto no sótão, com uma janela no telhado. Dormi lá muitas vezes. Quando a casa se enchia de gente, a minha avó dormia no meu quarto e eu e a minha prima Margarida íamos dormir para lá. Sentiamos-nos independentes, senhoras do nosso cantinho, onde, longe de todos, podíamos fumar, conversar, sonhar com a nossa ida para Paris, viver numa mansarda e fazer sei lá o quê. Em sonhos consegue-se tudo. Ouvíamos Brel, Aznavour, Brassens, Piaf. Falávamos em francês para treinar. Chorávamos lendo “Bonjour Tristesse” de Françoise Sagan. Ai Margarida que partiste ! Não tivemos mansarda em Paris, não nos perdemos pelas suas ruas e praças, não vimos os bateaux-mouche no Sena. Quando lá fui, pensei tanto em ti, minha querida Margot. Lembras-te? Era o teu nome na mansarda de casa dos meus pais. Até o nome mudámos. Moi, Claire, toi, Margot.
Olho aquela luzinha e não consigo deixar de imaginar. Quem lá mora? Duas meninas tontas e sonhadoras como nós? Um idoso que arfa ao subir a escada e não consegue dormir? Uma pobre família, com filhos pequenos? Quem? Olho a luz e, fico à espera de saber quem é. Já pensei perguntar a algum vizinho. Não.
Não quero saber. Eu ainda gosto de sonhar. A realidade pode não ter nada de bonito. O sonho pode tornar-se pesadelo. Vou continuar a olhar a luzinha no telhado e pensar em mais ideias. Ela está lá e faz-me companhia nas noites em que acordo sem sono. Quando vou dormir, posso dizer: Boa noite luzinha no telhado.
Até um dia destes.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

"Adeus de Miguel Torga

É tempo de terminar com este mergulho no mundo dos Poetas. Escolhi Torga, o "meu poeta". para o fim.
Vou levar uns dias, para conseguir sair desta névoa de poesia em que ando mergulhada.
Depois, voltarei com novas histórias e, de vez em quando, um Poeta, uma música.
Gostei desta interpretação de Luís Gaspar.
Espero que gostem.
Até um dia destes
Maria

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Alexandre O'Neill, Alain Oulman e...Amália

Um dos meus poetas preferidos, um dos meus compositores preferidos e Amália.


Segue o Poema:

Gaivota

Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
morreria no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.

Alexandre O'Neill

Até um dia destes
Maria


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Agostinho Neto dito por Mário Viegas

Sem procurar, por mero acaso, descobri este poema.
Achei-o tão bonito que tive de o partilhar convosco.



"Não me peçam sorrisos" de Agostinho Neto, dito por Mário Viegas.
Até um dia destes
Maria

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Florbela e Eunice-Duas Mulheres Alentejanas

Este tempo cinzento, já começa a dar-me vontade de um chá e biscoitos, à tarde.

Convidei hoje, Duas Senhoras que muito admiro.

Por coincidência, as duas nasceram no Alentejo. Florbela em Vila Viçosa, corria o ano de 1894, Eunice na Amareleja, em 1928.

Florbela morreu nova, Eunice, felizmente vive e, é a grande Senhora do Teatro e da Televisão. Também declama, como vão ver.

Eu vou beber o meu chá e, perder-me a ouvir Eunice dizer alguns poemas de Florbela.

Laurinha amiga:

Hoje deixo-te apenas o nome dos poemas. São vários e levava muito tempo a passá-los

  1. 1Amiga
    2. De joelhos
    3. Sem remédio
    4. Fanatismo
    5. O meu orgulho
    6. Saudades
    7. Ódio?
    8. Versos de orgulho
    9. Rústica
    A um moribundo

Procura-os no livro, sim?

Eis o duo imbatível.




Bom Fim de Semana.
Até um dia destes.
Maria

terça-feira, 30 de agosto de 2011

"Fim" de Mário Sá Carneiro por Luís Represas

Outro poeta meio esquecido e pouco divulgado. Hoje é Luís Represas quem o apresenta.
Em baixo segue o poema por escrito.




Fim
Quando eu morrer batam em latas
Rompam aos saltos e aos pinotes
façam estalar no ar chicotes
Chamem palhaços e acrobatas
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à Andalusa
a um morto nada se recusa,
eu quero por força ir de burro. 
  Mário de Sá Carneiro
Até um dia destes
Maria

domingo, 28 de agosto de 2011

Cesário Verde dito por Mário Viegas

Cesário Verde, o poeta de Lisboa, anda muito esquecido. Morreu novo e foi pena, pois muito havia a esperar dele.
"De tarde", um belo poema com certa malícia, conta a história de um piquenique de burguesas. Com este calor, será bastante refrescante ouvi-lo.



De tarde

Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas.


Até um dia destes

Maria





quinta-feira, 25 de agosto de 2011

"Não sei Ama onde era" Fernando Pessoa dito por Mário Viegas

Esta Poesia lembra-me a infância. O tempo em que a menina sonhadora que eu era, pedia à Avó: "Conta uma história Vó" e, a Avó contava.
Fernando Pessoa dispensa palavras. Mário Viegas também. Poesia pouco conhecida do poeta, acho-a linda.



Segue o poema por escrito.

Fernando Pessoa

Não sei, ama, onde era,

Não sei, ama, onde era,

Nunca o saberei...

Sei que era Primavera

E o jardim do rei...

(Filha, quem o soubera!...).

Que azul tão azul tinha

Ali o azul do céu!

Se eu não era a rainha,

Porque era tudo meu?

(Filha, quem o adivinha?).

E o jardim tinha flores

De que não me sei lembrar...

Flores de tantas cores...

Penso e fico a chorar...

(Filha, os sonhos são dores...).

Qualquer dia viria

Qualquer coisa a fazer

Toda aquela alegria

Mais alegria nascer

(Filha, o resto é morrer...).

Conta-me contos, ama...

Todos os contos são

Esse dia, e jardim e a dama

Que eu fui nessa solidão.


Até um dia destes

Maria



quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Natália Correia em casa de Amália

Esta é a primeira poetisa a aparecer. Admiro-a como mulher, poetisa, lutadora. De novo em casa de Amália, Natália Correia e "A defesa do poeta". Gosto muito deste poema. Espero que gostem, também.



Até um dia destes
Maria


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

David Mourão Ferreira e de novo Amália

Parece que todos os poetas vão dar a Amália. Quem melhor, para transmitir os seus sentimentos?
Com música de Alan Oulman, o francês que deu volta ao fado e poema de David Mourão Ferreira, o "Abandono" ou "Fado de Peniche", na Voz do Fado.



Como podem ver, trata-se de um ensaio onde há pequenos enganos. Para que leiam o poema em toda a sua beleza, cá vai ele:


Abandono

Amália
(David Mourão-Ferreira / Alan Oulman)

Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar
Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.

Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.

Apreciem, vale a pena.

Até um dia destes

Maria



sábado, 20 de agosto de 2011

Retrato de Amália feito por Ary dos Santos

Mais um poeta. Gravação feita em casa da nossa Fadista.


Bom fim de Semana e... Até um dia destes.
Maria

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Manuel Alegre em Nambuangongo

Gosto deste poema. Fala de coisas que todos nós, os do meu tempo, gostaríamos de não ter vivido mas, vivemos. Uns lá, outros aqui, a todos nos marcou. Quem não perdeu alguém, amigo ou familiar? Quem os não viu, voltar marcados no corpo e no espírito? É triste. Também vós, os mais novos, tiveram lá pais ou tios.
Mas é para os que passaram pelas guerras de África, de um ou outro lado, como Alegre diz, que segue esta postagem. Dito pelo poeta, no local onde tudo se passou.



Até um dia destes
Maria

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Mãezinha

Mais um poeta. Hoje elegi António Gedeão. Porque gosto especialmente deste poema, porque os meus pais fariam hoje anos de casados, porque quero partilhar convosco, algo que me diz muito. Queria publicar o video do Mário Viegas mas, não encontrei. Dos que vi, escolhi este, dito por Vitor D`Andrade, de que gostei muito.
Deixo-vos com ele e Gedeão.
Eu vou almoçar com o meu irmão. Vamos festejar uma data que nos diz muito, apesar da ausência dos nossos pais.

Até um dia destes
Maria

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Não tenho tempo

Não sou eu que não tenho tempo. É o titulo de um poema do poeta brasileiro, Neymar Barros, adaptado para português de Portugal, antes do acordo ortográfico. Dito por Victor de Sousa.


Às vezes, não temos tempo.
Até um dia destes
Maria

sábado, 6 de agosto de 2011

Um Poeta Esquecido

José Régio dito por João Villaret.
Quem se lembra deles?
Até um dia destes

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Hoje Avó, sou eu que conto a história


Minha Avó
Quando era pequena, gostava que tu me contasses histórias. As das princesas que casavam com príncipes, tinham muitos meninos, moravam em belos palácios e, viviam felizes para sempre.
Quando já mais crescida te pedia histórias, a resposta era, às vezes: “Minha neta, queria que casasses com um homem bom, que tivesses meninos, que tivesses a tua casinha e, fosses feliz.”
A vida deu-me um marido bom (tu sabes), três meninos, dos quais tu ainda conheceste dois, uma casa alugada e quase vazia. Fui feliz mesmo assim. Agora, Avó querida, outra parte do teu desejo realizou-se: a casa é minha. Paguei-a ontem.
Já tenho a casa cheia, mais dois meninos, os meus lindos netos, só falta “ser feliz para sempre”. Ninguém é inteiramente feliz, nem feliz para sempre. Mas estou contente Avó.
Olha Avó, tudo o que me desejaste se cumpriu. Esta é a tua prenda de anos.
A tua benção, minha Avó.
Tua
Neta.

Kim, amigo
Beijinho pelo dia.
Até um dia destes
Maria

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A minha Pátria é a língua portuguesa


“Não chóro por nada que a vida traga ou leve. Há porém paginas de prosa me teem feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noute em que, ainda creança, li pela primeira vez numa selecta, o passo celebre de Vieira sobre o Rei Salomão, "Fabricou Salomão um palacio..." E fui lendo, até ao fim, tremulo, confuso; depois rompi em lagrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquelle movimento hieratico da nossa clara lingua majestosa, aquelle exprimir das idéas nas palavras inevitaveis, correr de agua porque ha declive, aquelle assombro vocalico em que os sons são cores ideaes - tudo isso me toldou de instincto como uma grande emoção politica. E, disse, chorei; hoje ia relembrando, ainda chóro. Não é - não - a saudade da infancia, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção d'aquelle momento a magua de não poder já ler pela primeira vez aquella grande certeza symphonica.
Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico.- a minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio minhaque sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem nãosabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.”
(Transcrito da Wikipédia )

Fernando Pessoa

Isto disse Fernando Pessoa. Eu concordo.
Que diria o poeta agora, vendo a língua portuguesa tratada da maneira que é? Talvez o estudioso do ocultismo, tivesse a premonição de que Pátria ia ficar no estado da língua. Isto é: Um verdadeiro caos.
Mantive de propósito a escrita de Pessoa, sem correcção.
Até um dia destes.
Maria

terça-feira, 5 de julho de 2011

Madalena, minha irmã Madalena


Relendo um livro da Alice Vieira, lembrei-me de nós.
Claro que há diferenças. Ela tinha 10 anos quando a irmã nasceu, eu tinha 2 quando nasceste. Esperava pelo “meu bebé” com ansiedade. Já tinha um mano que adorava, tinha tido uma irmã que não conheci. Aquele bebé que me tinham prometido, era um sonho.
Mexia, chorava, comia, chuchava no dedo polegar e, era linda! Olhos grandes e lindos, nariz arrebitado, careca ( depois vieram os caracóis que te faziam parecer uma bonequinha). Eu, do alto dos meus 2 anos, tomei-te sob a minha protecção e, não gostava que te tocassem. O bebé era meu. Conhecias-me bem. Mais tarde, chamavas-me “mãesinha pequenina”.
Crescemos os três. Eras esperta, ladina, alegre e senhora do teu nariz.
Às vezes, eu e o mano, armávamos a casinha das bonecas debaixo da mesa e, pedíamos a Deus que dormisses uma grande sesta. Quando acordavas, começava a revolução. Enquanto nós te tentávamos convencer a ser a filha, tu decretavas que eras a “criada” e, tomavas conta de tudo.
Crescemos lado a lado, dormimos no mesmo quarto, partilhámos brincadeiras e bulhas. Sempre juntas, sempre irmãs.
Depois, a vida levou uma para cada lado, estamos separadas pelo mar mas, eu continuo a ver-te da mesma forma: o meu bebé, a minha irmã, a minha companheira de menina.
Estamos velhotas, filhos criados, cada uma para seu lado mas, irmãs.
Madalena, minha irmã Madalena, como tenho saudades de nós antigamente!
Madalena, minha irmã Madalena, como tenho saudades tuas!
Beijos, muitos beijos da tua irmã.
Maria

Até um dia destes.
Maria

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Aznavour et nous

Há 45 anos que nos conhecemos. Esta canção de Aznavour foi durante anos, uma das "Nossas canções". Ainda é.
Por isso, com todo o meu amor:
Bon anniversaire



Charles Aznavour

Até sempre, meu amor.
Até um dia destes, amigos.

domingo, 29 de maio de 2011

Elegia


Hoje dia 29, seria o teu dia de anos. Já te falei tanto, já te disse tanta coisa que, não sabia do que falar. Vi uma fotografia minhas de tranças e, lembrei-me das horas que passavas a fazê-las. Levantavamo-nos, as duas cedo. As tranças de noite soltavam-se, ficando uma massa de cabelo longo e embaraçado. Cheio de ninhos, dizias tu. Com a cabeça pousada nos teus joelhos, as tuas mãos brandas e macias tentavam desenlear, aquela meada embaraçada de cabelo longo, fino e basto. Quando acabava esta operação, pontuada aqui e ali, por um grito de dor e uma festa tua, era altura de dividir ao meio e, fazer as tranças. Um laçarote branco ou de cor, rematava-as. Era longo, doloroso, o trabalho. Mas quando me via ao espelho, gostava de ver o meu rosto emoldurado por elas. O pai só dava ordem para as cortar aos 15 anos.
Eram as minhas companheiras predilectas. Saltavam, voavam, batiam-me na cara, quando estava vento. Quando me lavavas o cabelo, com chá de camomila, para não escurecer, adorava dormir com aquele cheirinho na cabeça. Chamavam-me a “Trancinhas”.
Quando fomos para o Porto, as aulas eram mais cedo, o liceu mais longe. Tantas voltas deste ao pai que ele acabou por dar ordem para as cortar. Foi um dia triste, mãe. Quando aparaste as minhas tranças, já cortadas nas mãos, tinhas os olhos rasos de água. Eu chorava, olhando o rosto desconhecido, no espelho. Guardaste-as na mala e, voltámos a casa. Quando o pai chegou, deste-lhe as tranças que, ele guardou até ao dia em que as deu ao João. Olhou para mim triste. Para os três fora o início do meu crescimento. A trancinhas morrera. Nascera a adolescente, a pré-mulher. Acho que nesse dia, se convenceram que eu estava a crescer. Eu convenci-me. Foi um fim de infância triste. Faziam-me falta as tranças, as tuas mãos nos meus cabelos, os laçarotes que pareciam borboletas.
Hoje sinto mais ainda a tua falta. Dói cada vez mais a tua ausência.
Adeus mãe.
Beijos e saudades da tua trancinhas.
Nós amigos, até um dia destes.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sérgio Godinho – Sempre actual


Sérgio Godinho – Sempre actual

Tu precisas tanto de amor e de sossego
- Eu preciso dum emprego
Se mo arranjares eu dou-te o que é preciso
- Por exemplo o Paraíso
Ando ao Deus-dará, perdido nestas ruas
Vou ser mais sincero, sinto que ando às arrecuas
Preciso de galgar as escadas do sucesso
E por isso é que eu te peço

Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego

Se meto os pés para dentro, a partir de agora
Eu meto-os para fora
Se dizia o que penso, eu posso estar atento
E pensar para dentro
Se queres que seja duro, muito bem eu serei duro
Se queres que seja doce, serei doce, ai isso juro
Eu quero é ser o tal
E como o tal reconhecido
Assim, digo-te ao ouvido

Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego

Sabendo que as minhas intenções são das mais sérias
Partamos para férias
Mas para ter férias é preciso ter emprego
- Espera aí que eu já lá chego
Agora pensa numa casa com o mar ali ao pé
E nós os dois a brindarmos com rosé
Esqueço-me de tudo com um por-do-sol assim
- Chega aqui ao pé de mim

Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego

Se eu mandasse neles, os teus trabalhadores
Seriam uns amores
Greves era só das seis e meia às sete
Em frente ao cacetete
Primeiro de Maio só de quinze em quinze anos
Feriado em Abril só no dia dos enganos
Reivindicações quanto baste mas non tropo
- Anda beber mais um copo

Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego

domingo, 1 de maio de 2011

Dia de todas as mães



Poema à Mãe

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...

Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade

Todos nós vamos com as aves. Deixemos as rosas brancas para as Mães.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Receber uma carta à moda antiga



Datada de dia 21 de Abril, recebi uma carta com envelope e tudo.
No meio de contas para pagar, foi agradável. Dentro do envelope vinha o Postal acima.
O Corvo foi a Tomar e mandou-me um postal da minha terra. Foi bom voltar ao antigamente.
Reproduzo-a tal e qual ma mandou:

Tomar, 22 de Abril de 2011-04-28

Pai e Mãe,
Naturalmente recebem este postal já depois de eu ter chegado.
Mas, em todo o caso, aqui vai um postalinho para vos fazer saudades.
Aqui, a Igreja de Stª Maria dos Olivais, onde ainda não fui. Só fui à de S. João Baptista, à de Stª Iria e à Ermida da Srª da Piedade.
Hoje senti medo de subir aquelas escadas. Depois mostro-vos as fotos para verem aquela miséria.
De resto, aparentemente, Tomar não está muito destruída.
O Nabão está sujo.
O União está no mesmo sítio.
Beijinhos para vocês e para o outro Nabão.

Vasco

Que saudades de receber uma carta pelo correio! Abrir o envelope, ver o que tem dentro... Obrigada filho.

Até um dia destes.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 de Abril



Era Abril, um dia nevoento,
Podia vir El-Rei Sebastião.
Havia alegria, havia cravos,
E havia em cada alma a interrogação:
Será hoje que deixamos de ser escravos?
Ou voltará tudo a ser cinzento?
Vai acabar a guerra de verdade?
Quando saem os presos da prisão?
O sol abriu e, a esperança foi certeza.
Já se ouviam hinos à Santa Liberdade,
Já qualquer um era amigo, irmão.
E eu berrei bem alto a Portuguesa.
Durou pouco a ilusão de Liberdade.
Continuou a haver pobres sem pão.
E hoje resta apenas a saudade
De a todo o mundo se chamar irmão.

Maria
25 de Abril de 2011

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Torga, Galafura, um Duriense e eu



São Leonardo da Galafura

À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.

Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

Miguel Torga
Uma tarde em Lamego, depois de me ouvir dizer que, no dia seguinte iria a Galafura, um cunhado de meu filho, homem do Douro até à medula, deu-me um conselho: “Quando lá chegar, antes de olhar a paisagem, procure uma pedra onde estão uns versos do Torga. Leia-os bem e, depois olhe. Verá a beleza da paisagem através dos olhos dele”.
Fiz exactamente o que ele me dissera. Meu Deus! A beleza que vi!
Sem querer gabar-me, André e Osvaldo, vi com os olhos que vocês o vêem, aquele Douro e, senti que podia ser ali a minha terra.
Cada vez que volto lá, é com os versos e os olhos de Torga que o vejo. Lindo, majestoso, duro, verde. E amo-o porque Torga me ensinou a amá-lo. E entendo o vosso amor por toda aquela beleza, regada a sangue, suor e lágrimas dos homens que a fizeram mais linda, do que a Natureza já a tinha feito.
Boa Páscoa para todos.
Até um dia destes.
Maria

domingo, 3 de abril de 2011

Era uma vez cinco irmãs...


Há um livro de Jorge Amaro que começa um capitulo assim: “Era uma vez três Irmãs”. É lindo, triste, romântico e acaba mal. Também um livro de Camilo tem o nome: “Três irmãs”. Também é lindo, triste e acaba mal. Vamos ver se as minhas cinco irmãs têm a mesma sorte. Quando meus avós maternos morreram quase simultaneamente, deixaram nove filhos. Quatro rapazes e cinco raparigas. O mais velho tinha vinte e um anos, a mais nova quatro. É delas que falo hoje. Todas Marias: Maria Águeda, Maria Eminío, Maria da Glória, Maria Adelaide, Maria Amélia. A mais velha, Maria Águeda tinha dezanove anos. Depois de um namoro frustrado com um primo, dedicou-se aos irmãos pequeninos. Era muito educada e com uma instrução bastante completa, feita por demoiselles, misses, frauleines e mestras de piano. Nunca levantava a voz, os gestos eram harmoniosos mas dominava tudo e todos. A segunda, Maria Eminío, pequenina, gordinha, com um feitio levado dos diabos, tocava piano e gostava de flores. Namorou um rapaz em Águeda mas quando ele a avisou que ia para África, desistiu. Maria da Glória era muito bonita, grande leitora de Camilo e outros, estava para casar com o irmão do ex-namorado da irmã, quando descobriu que ele tinha dois filhos de outra. Mandou-o casar com a outra e, nunca mais pensou em homens. Ouvia muito mal, isolava-se com os seus livros e crochets. Quando o antigo noivo morreu, chorou, adoeceu e fechou-se ainda mais. Maria Adelaide, a minha mãe, conheceu meu pai, apaixonaram-se, aguentou treze anos de espera, cinco dos quais de separação total, lutou contra os irmãos, sofreu, até conseguir casar com o homem que adorava e ter filhos. Nós, meus irmãos e eu. Conheceu três netos. Por fim, a doença levou-a. Foi a única feliz. Maria Amélia namorou um irmão de meu pai. Não teve a força da minha mãe. No dia do casamento, já vestida e calçada, desistiu. Ele ameaçou-a que dentro de um ano estaria casado. Cumpriu a palavra. Casou com alguém que nunca amou, teve uma filhinha que morreu, separou-se e pouco tempo depois morreu. Ela teve alguns namoricos mais mas, acabou solteira. Se não fosse a história feliz de meus pais, esta era mais uma história triste, com fim infeliz. Se não fosse a força daquele ser frágil, o amor profundo que tinha por meu pai, a paciência com que esperou, seria mais uma freira daquele convento. Para todas elas uma saudade grande. Para minha mãe a minha eterna admiração e gratidão. Valente mulher! Até um dia destes

sexta-feira, 25 de março de 2011

Carta a minha Mãe


Minha querida Mãezinha:

Era assim que começavam todas as cartas que te escrevi.
Hoje não posso ir ao cemitério como é costume. Não vou limpar a tua casa pequenina, não vou embalar a tua urna contra o peito, não vou deixá-la cheia de flores, como nos outros anos. Estou doente, Mãe. Por isso resolvi escrever-te.
Há trinta e nove anos que partiste. Trinta e nove anos de saudade, de mágoa, de factos que aconteceram e, tu não viste.
Deixaste três netos, nasceram mais três. Os três que te conheceram, lembram-te com saudade. O meu Vasco sabe de ti tudo o que eu e o meu Pai lhe contámos. Para os meus netos és a “Mãe da Avó” que já partiu há muito.
Estou a ouvir Chopin, o teu Chopin. Depois, vou ler um poema de Florbela, outro do Pedro Homem de Mello, um do António Nobre. Os teus poetas, Mãe. Vou encher de flores o teu retrato, vou lembrar os dias felizes que vivemos juntas.
Ouvindo Chopin, lembro-me de nós as duas. Tu sentada na cadeira, eu no chão, com a cabeça nos teus joelhos, sentindo as tuas mãos no meu cabelo numa carícia terna.
Os manos já me telefonaram. Já trocamos o beijo da saudade. O João foi comprar as flores. Tem tomado bem conta de mim, como lhe pediste.
Beijos e saudades de todos.
Um beijo e a saudade imensa da tua
Filha

Até um dia destes.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Torga de novo

Torga de novo

Farta de escrever disparates, sem inspiração, lembrei-me de um poema de Torga. Ficam os meus amigos mais bem servidos e, dou a conhecer mais uma poesia linda, triste e, atrevo-me a dizer actual.
Em 1515 era governador da Índia D. Afonso de Albuquerque. Depois de muito lutar, ferido e doente, ainda quis deixar uma carta a El-Rei D. Manuel uma carta.
A carta é esta:
“"Senhor. - Eu nam escrevo a vos alteza per minha mão, porque, quando esta faço, tenho muito grande saluço, que he sinal de morrer: eu, senhor, deixo quá ese filho per minha memória, a que deixo toda minha fazemda, que he assaz de pouca, mas deixo lhe a obrigaçam de todos meus seruiços, que he mui grande: as cousas da india ellas falarám por mim e por elle: deixo a india com as principaes cabeças tomadas em voso poder, sem nela ficar outra pendença senam cerrar se e mui bem a porta do estreito; isto he o que me vosa alteza encomendou: eu, senhor, vos dey sempre por comselho, pera segurar de lá india, irdes vos tirando de despesas: peçoa vos alteza por mercee que se lembre de tudo isto, e que me faça meu filho grande, e lhe dè toda satisfaçam de meu seruiço: todas minhas confianças pus nas mãs de vos alteza e da senhora Rainha, a elles m emcomemdo, que façam minhas cousas grandes, pois acabo em cousas de voso seruiço, e por elles vollo tenho merecido; e as minhas tenças, as quaes comprey pela maior parte, como vossa alteza sabe, beijar lh ey as mãos pollas em meu filho: escrita no mar a 6 dias de dezembro de 1515. Afomso dalboquerque" carta de Afonso de Albuqerque ao rei D. Manuel I[“.
Inspirado nela, escreveu Miguel Torga um dos seus melhores poemas.

Afonso de Albuquerque de Miguel Torga

“Quando esta escrevo a Vossa Alteza
Estou com um soluço que é sinal de morte.
Morro à vista de Goa, a fortaleza
Que deixo à índia a defender-lhe a sorte.

Morro de mal com todos que servi,
Porque eu servi o rei e o povo todo.
Morro quase sem mancha, que não vi
Alma sem mancha à tona deste lodo.
De Oeste a Leste a índia fica vossa;
De Oeste a Leste o vento da traição
Sopra com força para que não possa
O rei de Portugal tê-la na mão.

Em Deus e em mim o império tem raízes
Que nem um furacão pode arrancar...
Em Deus e em mim, que temos cicatrizes
Da mesma lança que nos fez lutar.

Em mais alguém, Senhor, em mais ninguém
O meu sonho cresceu e avassalou
A semente daninha que de além
A tua mão, Senhor, lhe semeou.

Por isso a índia há de acabar em fumo
Nesses doiros paços de Lisboa;
Por isso a pátria há de perder o rumo
Das muralhas de Goa.

Por isso o Nilo há de correr no Egito
E Meca há de guardar o muçulmano
Corpo dum moiro que gerou meu grito
De cristão lusitano.

Por isso melhor é que chegue a hora
E outra vida comece neste fim...
Do que fiz não cuido agora:
A índia inteira falará por mim.”

Leiam e pensem.
Até um dia destes
Maria

quinta-feira, 3 de março de 2011

Sou do Benfica


Podia acrescentar “e isso me envaidece” mas, era mentira. Não ligo nenhuma à bola, nunca fui à Luz, nem sequer vejo os jogos na Televisão. Dou direito aos Sportinguistas de se envadecerem, embora não perceba porquê. Desculpem Verdinha e Osvaldo.
É claro, que a esta hora, já todos estão a pensar porquê sinto necessidade de falar de uma coisa que nada me diz.
Passo a explicar: Sou do Benfica porque quase toda a minha família o foi ou é. Alguns foram fundadores. Outros houve que, foram adeptos furiosos. Meu Pai tinha um primo que inscreveu o filho no Benfica, ainda antes de o registar. Vinha à bola com o puto, ficando a mulher e as filhas em casa a ouvir o relato. Não que a bola lhes interessasse muito mas, se o Benfica ganhasse, iam jantar fora, se o Benfica perdesse, iam para a cama, para não aturarem o Benfiquista doente. Meu Pai, pouco aficcionado mas, Benfiquista, dizia sempre a velha frase: “ O Benfica ganha, vivó Benfica, o Benfica perde, viva o Benfica”. Vibrou quando ganhámos as taças da Europa. Se o jogo era com o Porto ou, Sporting, torcia pelo Benfica, mas não fazia grande alarido.
Porque sou Benfiquista? Por tradição. Talvez porque gosto de “papoilas saltitantes”, embora nunca tenha visto nenhuma, talvez porque gosto de vermelho e de águias.
Ontem, mais uma vez, o Benfica ganhou contra o Sporting. Desculpem meus queridos Sportinguistas, mas gostei. Desejo muito que o Sporting volte ao que já foi.
Vivó Benfica!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Até um dia destes.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Cheiros e cheirinhos

Tenho uma memória olfactiva muito grande. Qualquer aroma me faz lembrar alguém, um local, um momento.
Hoje senti um leve perfume que me lembrou a minha Mãe. O cheiro dela está sempre presente mas, foi um leve cheiro a rosa que me despertou. Ela fazia uma água de rosas com folhas delas, álcool, tintura de benjoim e água. Era o seu perfume, misturado com o do creme Nívea e o Pó de arroz Thaber e, claro, o cheiro a mãe, esse cheiro que nós nunca esquecemos, porque é único.
Depois, lembrei-me de outros aromas: o cheiro a pinhal, a Ria, a moliço. A casa da quinta que cheirava a lenha a arder, a comida, a bolos, a camas com colchões de palha de milho, lençóis cheirando a lavado e alfazema, grossos cobertores de papa. Quartos cheirando a cera, aos perfumes e pós das tias, o cheiro de cada uma. De manhã o perfume dos sabonetes Confiança, que todas usavam, enchia a casa de mistura com cheiro a manteiga acabada de fazer, pão quente, café e chá. Era bom.
Lembro o cheiro da Maria do Céu, a empregada que fazia a manteiga, cheiro a leite, a avental branco muito limpo, onde às vezes me encostava quando estava triste ou me ralhavam.
A minha Avó cheirava a lavanda. O meu Pai a sabão e Pó Avelar para os dentes. Perfume não era para homens, dizia. Cheirava a tabaco e a Pai.
O meu marido, antes de se tornar num anti-tabagista chato, cheirava a Clan ou a Negritas. É raro pôr perfume mas gosto do cheiro dele e conheço-o a léguas.
Ficava aqui o dia todo a falar dos cheiros que gosto e, dos que não gosto
Só falta dizer que sou infiel aos perfumes que uso. Há três que são imutáveis: “L’Air du Temps” de Nina Ricci, “Calèche” de Hermès e “Intuition” de Estée Lauder. Depende do dia e da disposição.
Tenho-os sempre. O fornecedor? O meu marido, claro.
Até um dia destes.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Carta Anónima

Tudo tem uma primeira vez. Nunca escrevi uma carta anónima e, confesso, repugnam-me as ditas.
Esta tem que ser assim por várias razões: Não quero magoar ninguém, nem ser mal entendida.
Não é uma carta de amor nem ódio, não é saudade, é lembrança.
Quando tinha desasseis anos, conheci alguém por quem me apaixonei ou julguei apaixonar-me. Era um rapaz bonito, tipo galã de cinema, com dezanove anos. Ao princípio fiquei deslumbrada. Ir pela rua com ele dava-me orgulho, sentia a inveja das outras mocinhas e, gostava. As conversas dele eram um pouco ocas mas, vestia bem e, como já disse, era bonito. Um dia, no intervalo de um filme de Cantinflas, ouvi-o a falar com a moça que nos acompanhava e, fiquei perplexa. Não falavam do filme nem de nada de interesse. Simplesmente, discutiam o número de camisolas, calças, camisas, casacos, sobretudos, sapatos... só faltou enumerarem as cuecas e peúgas. Na minha cabeça fez-se um grande ponto de interrogação. Eu que tinha pouca roupa e ligava pouco a essas coisas, ali, feita parva, a olhar os cartazes do cinema e, pensando com os meus botões: “Serei capaz de viver uma vida com alguém assim?” As conversas em casa eram outras. Literatura, História, Política... Felizmente ou infelizmente, a campainha do cinema tocou.
Entretanto a minha Mãe adoeceu. Foram nove meses de medo, angústia, terror de a perder. Ele foi impecável. Sempre presente, sempre paciente para me ouvir e limpar as lágrimas. Isso lhe devo e agradeço.
Os anos passaram, os meus pais conheciam-no, o namoro era oficial. Às vezes pensava se era aquilo que eu queria, mas deixava andar por comodismo. Sabia que não queria ser apenas a “esposa” de um senhor. Queria ser mulher de um homem. Queria caminhar ao lado e não atrás desse homem.
Um dia recebi uma carta do dito cujo, dizendo gostar muito de mim mas, por motivos vários, ter-se casado com outra. Não senti grande desgosto. Despeito, sim. Acima de tudo uma sensação de liberdade enorme. Quando soube que os tais motivos se resumiam num carro de luxo e uma vivenda mobilada, a minha primeira reacção foi rir. “O tal grande amor” custara um carro e uma casa. Fiz as contas e achei que valia mais. Esqueci e esperei. Hoje, ao fim de cinquenta anos, lembrei-me desta história e, pensei que devia agradecer-lhe a oportunidade que me deu. Nem sei se é vivo ou morto. Não lerá isto de certeza. Mas agradeço da mesma maneira que lho diria cara a cara. Afinal, eu fiquei com a melhor parte. Encontrei um homem a sério, tive três filhos, dois netos, tenho a minha casa, um carro e, acima de tudo, sou feliz. E tu, anónimo? Foste feliz? Valeu a pena?
Tens muitas roupas de marca, muitos carros, chegaste onde querias? Espero sinceramente que sim. Nunca te quis mal. Melhor, raramente penso que exististe, que passaste um dia pela minha vida. E se alguma vez pensares em mim, não tenhas remorsos (sabes o que isso é?). Fizeste-me um grande favor. Por isso, de novo te agradeço.
Até nunca anónimo.
Até um dia destes, meus amigos.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Tomar Sempre


Neste primeiro dia do Ano é de ti, minha terra adorada, que me lembro com tristeza. Que o Novo Ano seja melhor para ti, que não haja mais tornados, cheias, gente sem casa, gente com fome. Que os Tabuleiros saiam à rua com todo o seu esplendor, que a Cerca volte a abrir renovada, que o Jardim volte a ser o mesmo em que em pequena brinquei.
Claro que tenho outros desejos. Saúde para os meus doentes, Paz para os mortos e vivos, entendimento neste mundo desavindo.
É só isto que desejo.
Para todos vós, meus amigos, que tudo vos corra como desejam.
Um grande abraço para todos.
Até um dia destes.
Maria