quinta-feira, 28 de abril de 2011

Receber uma carta à moda antiga



Datada de dia 21 de Abril, recebi uma carta com envelope e tudo.
No meio de contas para pagar, foi agradável. Dentro do envelope vinha o Postal acima.
O Corvo foi a Tomar e mandou-me um postal da minha terra. Foi bom voltar ao antigamente.
Reproduzo-a tal e qual ma mandou:

Tomar, 22 de Abril de 2011-04-28

Pai e Mãe,
Naturalmente recebem este postal já depois de eu ter chegado.
Mas, em todo o caso, aqui vai um postalinho para vos fazer saudades.
Aqui, a Igreja de Stª Maria dos Olivais, onde ainda não fui. Só fui à de S. João Baptista, à de Stª Iria e à Ermida da Srª da Piedade.
Hoje senti medo de subir aquelas escadas. Depois mostro-vos as fotos para verem aquela miséria.
De resto, aparentemente, Tomar não está muito destruída.
O Nabão está sujo.
O União está no mesmo sítio.
Beijinhos para vocês e para o outro Nabão.

Vasco

Que saudades de receber uma carta pelo correio! Abrir o envelope, ver o que tem dentro... Obrigada filho.

Até um dia destes.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 de Abril



Era Abril, um dia nevoento,
Podia vir El-Rei Sebastião.
Havia alegria, havia cravos,
E havia em cada alma a interrogação:
Será hoje que deixamos de ser escravos?
Ou voltará tudo a ser cinzento?
Vai acabar a guerra de verdade?
Quando saem os presos da prisão?
O sol abriu e, a esperança foi certeza.
Já se ouviam hinos à Santa Liberdade,
Já qualquer um era amigo, irmão.
E eu berrei bem alto a Portuguesa.
Durou pouco a ilusão de Liberdade.
Continuou a haver pobres sem pão.
E hoje resta apenas a saudade
De a todo o mundo se chamar irmão.

Maria
25 de Abril de 2011

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Torga, Galafura, um Duriense e eu



São Leonardo da Galafura

À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.

Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!

Miguel Torga
Uma tarde em Lamego, depois de me ouvir dizer que, no dia seguinte iria a Galafura, um cunhado de meu filho, homem do Douro até à medula, deu-me um conselho: “Quando lá chegar, antes de olhar a paisagem, procure uma pedra onde estão uns versos do Torga. Leia-os bem e, depois olhe. Verá a beleza da paisagem através dos olhos dele”.
Fiz exactamente o que ele me dissera. Meu Deus! A beleza que vi!
Sem querer gabar-me, André e Osvaldo, vi com os olhos que vocês o vêem, aquele Douro e, senti que podia ser ali a minha terra.
Cada vez que volto lá, é com os versos e os olhos de Torga que o vejo. Lindo, majestoso, duro, verde. E amo-o porque Torga me ensinou a amá-lo. E entendo o vosso amor por toda aquela beleza, regada a sangue, suor e lágrimas dos homens que a fizeram mais linda, do que a Natureza já a tinha feito.
Boa Páscoa para todos.
Até um dia destes.
Maria

domingo, 3 de abril de 2011

Era uma vez cinco irmãs...


Há um livro de Jorge Amaro que começa um capitulo assim: “Era uma vez três Irmãs”. É lindo, triste, romântico e acaba mal. Também um livro de Camilo tem o nome: “Três irmãs”. Também é lindo, triste e acaba mal. Vamos ver se as minhas cinco irmãs têm a mesma sorte. Quando meus avós maternos morreram quase simultaneamente, deixaram nove filhos. Quatro rapazes e cinco raparigas. O mais velho tinha vinte e um anos, a mais nova quatro. É delas que falo hoje. Todas Marias: Maria Águeda, Maria Eminío, Maria da Glória, Maria Adelaide, Maria Amélia. A mais velha, Maria Águeda tinha dezanove anos. Depois de um namoro frustrado com um primo, dedicou-se aos irmãos pequeninos. Era muito educada e com uma instrução bastante completa, feita por demoiselles, misses, frauleines e mestras de piano. Nunca levantava a voz, os gestos eram harmoniosos mas dominava tudo e todos. A segunda, Maria Eminío, pequenina, gordinha, com um feitio levado dos diabos, tocava piano e gostava de flores. Namorou um rapaz em Águeda mas quando ele a avisou que ia para África, desistiu. Maria da Glória era muito bonita, grande leitora de Camilo e outros, estava para casar com o irmão do ex-namorado da irmã, quando descobriu que ele tinha dois filhos de outra. Mandou-o casar com a outra e, nunca mais pensou em homens. Ouvia muito mal, isolava-se com os seus livros e crochets. Quando o antigo noivo morreu, chorou, adoeceu e fechou-se ainda mais. Maria Adelaide, a minha mãe, conheceu meu pai, apaixonaram-se, aguentou treze anos de espera, cinco dos quais de separação total, lutou contra os irmãos, sofreu, até conseguir casar com o homem que adorava e ter filhos. Nós, meus irmãos e eu. Conheceu três netos. Por fim, a doença levou-a. Foi a única feliz. Maria Amélia namorou um irmão de meu pai. Não teve a força da minha mãe. No dia do casamento, já vestida e calçada, desistiu. Ele ameaçou-a que dentro de um ano estaria casado. Cumpriu a palavra. Casou com alguém que nunca amou, teve uma filhinha que morreu, separou-se e pouco tempo depois morreu. Ela teve alguns namoricos mais mas, acabou solteira. Se não fosse a história feliz de meus pais, esta era mais uma história triste, com fim infeliz. Se não fosse a força daquele ser frágil, o amor profundo que tinha por meu pai, a paciência com que esperou, seria mais uma freira daquele convento. Para todas elas uma saudade grande. Para minha mãe a minha eterna admiração e gratidão. Valente mulher! Até um dia destes