Qualquer Tomarense saberá que, hoje é “Dia de Santa Iria”.
Também a maior parte, saberá
mais ou menos a lenda.
Primeiro, contarei a
história, aquilo que, segundo os muitos livros, se sabe de verdade à cerca da
Santa da nossa terra.
Iria, ou Irene, era natural
de Sellium, filha de Hermenegildo e Eugénia, ricos proprietários. Foi entregue
a duas tias, Casta e Júlia, monjas professas do Convento de Santa Clara, hoje
chamado de Santa Iria.
Querendo que, a menina
tivesse uma educação mais vasta, foi pedido a Célio, seu tio e Dom Abade, do
Convento de Frades, então existente, que lhe arranjasse um preceptor, entre os
seus frades.
O escolhido, Remígio, era
culto, bom cristão, mas apaixonou-se por Iria, sendo por ela repelido. Não era
o primeiro a amar Iria. Britaldo, moço rico, de boas famílias, já a amava
também, ao ponto de adoecer de amor. Os pais rogaram a Iria que, lhes salvasse
o filho. Ela, visitou-o, mas disse-lhe que, nunca poderia ser dele, porque já
se tinha dado a Cristo e, seria monja. Britaldo, conformou-se, depois de Iria
lhe prometer que, não seria de mais ninguém. Remígio, porém, não se conformou.
Deu uma qualquer beberagem a Iria que, ao fim de pouco tempo, provocou na donzela, todas as aparências, de uma
gravidez.
Britaldo, sentindo-se
traído, procurou a pobre menina, degolou-a e lançou-a ao Nabão. A Imagem, ainda
existente, mostra o sítio do crime. O corpo, seguiu o curso do rio e, foi parar
a Santarém. (Santa Iria, Santa Irene, Santarém) O dia do martírio de Iria,
seria 20 de Outubro do ano 635 da era de Cristo.
Até aqui, é a história, mais
ou menos conhecida de Santa Iria.
O resto é lenda, ou melhor,
são lendas. Na busca que fiz, em muitos e variados livros, há lendas de Santa
Iria, desde o Ribatejo ao Minho, desde as Beiras ao Algarve, desde os Açores à
Galiza e ao Brasil. Diferem umas das
outras, em pequenos pormenores, mas o certo é, que Iria foi degolada. Escolhi,
a mais parecida com a que minha Mãe, me lia em pequenina. Vem no “Romanceiro”
de Teófilo Braga.
Santa Iria
Estando eu a coser
Na minha almofada,
Minha agulha de ouro,
Meu dedal de prata,
Passou um cavaleiro,
Pediu-me pousada.
Se meu pai lh’a desse,
Estava mui bem dada;
Deu lh’a minha mãe
Por ser confiada.
Subiu para cima,
Elle se assentou;
Puz-lhe a meza,
Elle ceou;
Fiz-lhe a cama,
Elle se deitou.
Era meia noite dada,
Elle em mim pegou,
Levou-me p’r o monte,
Lá me perguntou
Como me chamava?
Em cas’ de meu pai
Iria a fidalga;
No meio destes montes
Iria coitada.
Por esta palavra
Serás degolada.
Puchou do alfauge
E a degollou;
Coberta de rosas
Alli a deixou.
D’alli a sete annos
Por alli passou:
Pastorinhos novos,
Que guardaes o gado
Que Santa é aquella.
Que está n’aquelle adro?
«É a Santa Iria;
Morreu degollada!
Oh Santa Iria,
Meu amor primeiro,
Perdôa-me a morte,
Serei teu romeiro.
«Não perdôo, não,
Vilão carniceiro,
Da minha garganta
Fizeste carneiro:
Do meu cabellinho
Fizeste dinheiro.
Veste-te de azul
E mais de amarello;
Se Deus te perdoar.
Perdoar-te quero.
Está escrito, tal qual o
copiei. Respeitei o texto e a grafia.
E aqui está, a lenda e a
história da nossa Santa
Faz hoje 11 anos, meu Pai
partiu. No dia da Padroeira da terra que ele tanto amou. Já não viu a ruína em
que transformou o Convento da Santinha.
Tenho saudades do tempo, em
que junto a ele, meu Pai me contou a história.
Tenho saudades dele. Tenho
saudades da Tomar da minha infância.
Até um dia destes
Maria