Nasci pouco antes do fim da Guerra. Aquela Guerra, feita para acabar com todas as Guerras e, que afinal, só as fomentou. Por qualquer razão, sempre me despertou a curiosidade, sempre quis, de uma certa forma, tentar “vivê-la”, através de livros, filmes, até de conversas com pessoas que dela soubessem alguma coisa. Durante anos, lidei com gente de diversas nacionalidades que, a tinha vivido. Quando o Campismo, elegeu o nosso País, “O país por excelência” para acampar, tínhamos uma quinta no Norte.
Começaram a aparecer turistas, de caravana ou tenda, primeiro muitos franceses, ainda marcados pela guerra, depois outros, entre os quais um casal Checo, que veio vários anos seguidos. Ambos de origem judaica, ambos marcados no corpo e no espírito, por todos os horrores vividos. Foi ela, que depois de longas conversas, me apresentou “Anne Frank”. Eu tinha 13 anos, como Anne quando “mergulhou”. Devorei o “Diário”, reli-o muitas vezes. Era-me fácil imaginar, o que teria sido a vida daquela menina como eu, com os mesmos sonhos, as mesmas dificuldades de crescer, uma grande imaginação. Não conseguia, era imaginar, o que seria viver fechada, sem poder falar, cantar, correr, tudo aquilo que eu fazia tão naturalmente. O livro, a história, de Anne Frank, tem-me acompanhado sempre. É sempre com o mesmo espírito, com que o li aos 13 anos, que volto a lê-lo.
Há dias, vi na montra de uma livraria, um livrinho, que tinha uma faixa a dizer: “Hélène Berr, a Anne Frank, francesa”. Como já disse, várias vezes, detesto estes rótulos. Mesmo assim, comprei o livro. E, claro, não é Anne Frank francesa. É Hélène Berr, uma judia francesa, mais velha do que a outra, mais madura, com uma vivência da guerra, quase totalmente diferente. Tinha 22 anos, quando começou o “Diário”, nunca viveu em nenhum anexo, escreveu-o propositadamente, para ser lido. É um testemunho muito fiel, do que foi a vida de uma mulher jovem, consciente do que poderia acontecer a ela e, a todos os outros, na mesma condição. Uma jovem que, se revolta, por ter de usar, pregada à roupa, a asquerosa estrela amarela, imposta a todos os judeus, da França ocupada e, que mesmo assim, consegue estudar, sair com amigos, ajudar crianças separadas dos pais e, internadas em instituições, que se vê separada do rapaz que amava, que vê os amigos a pouco e pouco, serem presos e deportados, que espera, consciente a sua vez, de o ser, também. E o dia chega. Primeiro, Drancy, nos arredores de Paris, depois Auschwitz, por fim, Bergen-Belsen. Os pais morrem em Auschwitz, ela sobevive mais um ano depois, morre em Bergen-Belsen.
Coincidências entre as duas histórias? Existem, sim. Ambas começaram os respectivos “Diários”, quase ao mesmo tempo, morreram, com poucas semanas de diferença, de tifo, em Bergen-Belsen, pouco tempo antes da libertação do campo. Quem sabe, talvez se tivessem cruzado. Quem sabe, não terão até, trocado algumas palavras. Mas, as coincidências, terminam aqui.
São dois testemunhos diferentes, duas histórias diferentes, de duas jovens diferentes.
Ambos horríveis, na sua verdade, ambos impressionantes de sinceridade.
Mas nem Anne é a Hélène, holandesa, nem Hélène é a Anne, francesa.
Leiam os livros. Ambos valem a pena. Neste mundo, onde hoje vivemos, em que a vida de um ser humano nada vale, em que morrem de novo, velhos, mulheres, crianças, gente inocente que, todos os dias, sofre na carne e na alma, a dor da perda, de familiares e haveres, é indispensável saber, que outros, já passaram pelo mesmo. Quantas Annes e Hélènes, estarão, neste momento a sofrer, o que estas duas sofreram, naquela que afinal, não foi “A guerra para acabar com todas as guerras”?
Até um dia destes.
Começaram a aparecer turistas, de caravana ou tenda, primeiro muitos franceses, ainda marcados pela guerra, depois outros, entre os quais um casal Checo, que veio vários anos seguidos. Ambos de origem judaica, ambos marcados no corpo e no espírito, por todos os horrores vividos. Foi ela, que depois de longas conversas, me apresentou “Anne Frank”. Eu tinha 13 anos, como Anne quando “mergulhou”. Devorei o “Diário”, reli-o muitas vezes. Era-me fácil imaginar, o que teria sido a vida daquela menina como eu, com os mesmos sonhos, as mesmas dificuldades de crescer, uma grande imaginação. Não conseguia, era imaginar, o que seria viver fechada, sem poder falar, cantar, correr, tudo aquilo que eu fazia tão naturalmente. O livro, a história, de Anne Frank, tem-me acompanhado sempre. É sempre com o mesmo espírito, com que o li aos 13 anos, que volto a lê-lo.
Há dias, vi na montra de uma livraria, um livrinho, que tinha uma faixa a dizer: “Hélène Berr, a Anne Frank, francesa”. Como já disse, várias vezes, detesto estes rótulos. Mesmo assim, comprei o livro. E, claro, não é Anne Frank francesa. É Hélène Berr, uma judia francesa, mais velha do que a outra, mais madura, com uma vivência da guerra, quase totalmente diferente. Tinha 22 anos, quando começou o “Diário”, nunca viveu em nenhum anexo, escreveu-o propositadamente, para ser lido. É um testemunho muito fiel, do que foi a vida de uma mulher jovem, consciente do que poderia acontecer a ela e, a todos os outros, na mesma condição. Uma jovem que, se revolta, por ter de usar, pregada à roupa, a asquerosa estrela amarela, imposta a todos os judeus, da França ocupada e, que mesmo assim, consegue estudar, sair com amigos, ajudar crianças separadas dos pais e, internadas em instituições, que se vê separada do rapaz que amava, que vê os amigos a pouco e pouco, serem presos e deportados, que espera, consciente a sua vez, de o ser, também. E o dia chega. Primeiro, Drancy, nos arredores de Paris, depois Auschwitz, por fim, Bergen-Belsen. Os pais morrem em Auschwitz, ela sobevive mais um ano depois, morre em Bergen-Belsen.
Coincidências entre as duas histórias? Existem, sim. Ambas começaram os respectivos “Diários”, quase ao mesmo tempo, morreram, com poucas semanas de diferença, de tifo, em Bergen-Belsen, pouco tempo antes da libertação do campo. Quem sabe, talvez se tivessem cruzado. Quem sabe, não terão até, trocado algumas palavras. Mas, as coincidências, terminam aqui.
São dois testemunhos diferentes, duas histórias diferentes, de duas jovens diferentes.
Ambos horríveis, na sua verdade, ambos impressionantes de sinceridade.
Mas nem Anne é a Hélène, holandesa, nem Hélène é a Anne, francesa.
Leiam os livros. Ambos valem a pena. Neste mundo, onde hoje vivemos, em que a vida de um ser humano nada vale, em que morrem de novo, velhos, mulheres, crianças, gente inocente que, todos os dias, sofre na carne e na alma, a dor da perda, de familiares e haveres, é indispensável saber, que outros, já passaram pelo mesmo. Quantas Annes e Hélènes, estarão, neste momento a sofrer, o que estas duas sofreram, naquela que afinal, não foi “A guerra para acabar com todas as guerras”?
Até um dia destes.