quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Carta aberta a Pedro Mexia


O senhor Pedro Mexia, mexeu onde não devia. Quem é o senhor
para dizer mal de um livro, que eu aposto que não leu? Folheou, quando muito, como faz a maior parte dos críticos literários. Apanhou algumas frases e vá de escrever e criticar. Qualquer ser humano com um mínimo de sentimentos e discernimento, nunca faria uma crítica tão parva, tão porca, como a que fez.
Que sabe o senhor da heroicidade do homem que criticou? Que ideia tem do que ele sofreu no corpo e na alma ao escrevê-lo?
Passa-lhe pela cabeça o que é, ir fazer um simples exame de rotina, e sair de lá com dois cancros declarados? Faz uma ideia do que é passar dias e dias, passeando uma argália atrás? Suponho que apesar da sua ignorância, saiba onde esta é metida. Acharia graça ter uma por umas horas? Seria capaz de ter coragem de descrever isso?
Não tinha. O senhor só é grande a escrever m...
Conheci André Moa depois de ler o livro. Seria o senhor homem para alimentado apenas a sumos de vegetais, cantar, recitar, ser a alma de uma reunião de amigos uma tarde inteira, sem um desfalecimento, sem um rito de dor, sem um olhar de tristeza? Não acredito. Essa gordurinha balofa não aguentava.
Leia o livro todo e depois fale. Leia o livro do Salvador Vaz da Silva e aprenda com eles a ser homem. Até lá não fale deles. Cale-se. Pense qual seria a sua reacção se tivesse um cancro só.
Quanto a Vitorino Nemésio e Torga, que o senhor não deve ter lido, deixe-os fora disto.
Senhor Mexia não mexa no que não sabe. É melhor estar calado.
Sem respeito nem consideração
Maria

Nós meus amigos, até um dia destes.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Dona do Passado


Fez ontem 34 anos que partiste. Contigo foram as histórias do passado, que me contavas vezes sem conta. Sentada no chão, a cabeça nos teus joelhos, a tua mão acariciando a minha cabeça, pedia: “Conta avosinha”. E tu nem perguntavas o quê. Sabias bem o que eu queria. Histórias de família, ora cómicas, ora dramáticas, o teu longo namoro com o avô, descrição das roupas e factos do teu tempo, histórias de outros tempos nos quais gostaria de ter vivido.
Tiveste uma infância e adolescência de menina rica. Professores em casa, uma cultura acima do normal, que fazia jus à tua inteligência. Tocavas piano e falavas francês e outras línguas, bordavas na perfeição. Casaste, e a vida sorriu-te até ao dia em que o avô partiu, cedo, demasiado cedo. Com seis filhos abaixo dos quinze anos, tudo mudou. Criar quatro rapazes e duas garotinhas, foi difícil. Quando eu nasci, já tinhas vários netos. Fomos doze, contando com as duas que morreram pequeninas. Dois dos filhos foram levados pela morte, muito cedo. Sofreste muito, avó. Eu sei.
Nunca te vi chorar. Acho que as lágrimas secaram como as minhas.
Frágil por fora, mas com um espirito muito forte, a tudo resiste. Enquanto tu quiseste. Um dia, com 98 anos, uma gripe de nada, atirou-te para a cama. O enfermeiro foi pôr-te o soro e o oxigénio, e mal a porta da rua bateu atrás dele, arrancaste tudo e só murmuraste: “Não quero mais”. Pregaste os olhos no retrato do avô em frente à cama, e passada meia hora foste embora. Dona de ti até ao fim, não foi avó? Senhora da tua vontade e da tua vida, até ao fim.
Eu neguei-me a acreditar. Como dizia em pequena “as avosinhas não morrem”. Senti-me traída, enganada. Depois tive que aceitar que até a minha avó tinha a sua hora.
Ao fim de todos estes anos, ainda me custa viver sem ti. Sabes? Nunca te menti. Não era capaz. Aqueles olhos verdes, liam até ao fundo da minha alma. Ficaram as histórias, avó. Lembro-me de todas. Encheriam vários livros se as contasse.
Um beijo na mão, avó e a tua benção. Como há 34 anos, como todas as noites antes de dormir.
Até um dia destes.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Doutor Fernando Nobre, porquê?

Nunca aqui falei em política. É um tema controverso, que não se enquadra no espírito do meu Blog e de que não gosto. Política, futebol e religião, cada um tem a sua e o meu respeito por todas as ideias, leva-me a não falar disso. Além de tudo, não entendo nada de política e sinceramente, enoja-me cada vez mais. Por isso vou ser breve.
De há muitos anos, tenho um respeito muito grande pelo Doutor. A sua vida e obra, que tenho seguido, transformou-o num ser de outro Planeta para mim.
Ontem fiquei estupefacta. O meu Doutor ia anunciar a candidatura à Presidência da República.
Da Wikipédia copiei esta Biografia dele.
“A Vida
Nasceu em Angola, em 1951. Aos 12 foi viver para o Congo. No total foram 16 anos em África. Estudou na Bélgica, onde acabou por passar cerca de 20 anos na capital Bruxelas
Desde que se recorda sempre quis ser médico. Fez primeiro toda a especialidade em cirurgia geral e urologia. Dezasseis anos de formação especifica, para optar pela medicina humanitária e desistir da ideia de ser professor na Faculdade de Medicina.
A 19 de Fevereiro de 2010 , no Padrão dos Descobrimentos em Lisboa, apresentou a sua candidatura à Presidência da República Portuguesa.
Participou nos Médicos Sem Fronteiras entre 1977 e 1983. É actualmente o Presidente Assistência Médica Internacional. Já participou em mais de 100 missões de ajuda humanitária
Fernando Nobre está sempre pronto a partir em missões de emergência médica, ou para 'visitar os projectos permanentes da AMI. É sempre em Portugal o primeiro a mandar ajuda em caso de catástrofe natural.
Fernando Nobre chegou ao 25º lugar da lista de "Os Grandes Portugueses", programa da RTP1.

Wikipédia

Doutor:
Que aconteceu, para depois de ter dedicado toda uma vida, a ajudar os mais necessitados, depois de ter patinhado entre os escombros de terras destruídas, de ter patinhado no “sangue, suor e lágrimas” desses povos, que tanto precisam de si, ir agora meter-se no pântano nojento e mal cheiroso da política?
Depois de um poeta, um Humanista? Que desilusão, Doutor.
Desista. Pois não vê, que vai perder todo o prestígio de uma vida inteira?
Já meti demais a foice em seara alheia. É claro, que o Doutor tem todo o direito de querer ser candidato. Mas também é claro, que eu tenho o direito de não concordar e me sentir desiludida.
Com todo o respeito e admiração que ainda me merece.
Maria
Nós, até um dia destes.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Sem Abrigo encontrado morto

Eu sei que a minha volta, deveria ser um agradecimento aos meus queridos amigos, pela ternura e ajuda que me deram. Foram todos amorosos, tentaram dar-me força numa altura muito má da minha vida. Sei também, que deveria contar o que se passou. Depois de médicos, exames, análises, parece que tudo se resolverá, com medicamentos, calma e um pouco de paciência. Feitas as explicações, vamos à história de hoje, que não é alegre, como poderão ver pelo nome. Não tem fotos. A miséria, todos a conhecem e, não tem rosto, nem nacionalidade.
No Jornal “O Templário”, semanário da minha terra, vem este título na primeira página. Eu sei que isto acontece todos os dias, em qualquer lugar. Mas em Tomar, na Tomar que conheci, não acontecia. O “meu capitão Oliveira”, de quem já falei várias vezes, por várias razões, não deixaria que isto acontecesse. Era Salazarista sim. Tinha uma relação de amizade com o meu pai, que odiava o Salazar e isso fazia-me uma certa confusão. É que, mais que Salazarista, “o meu capitão” era tomarense. Fez daquela terra um jardim, mas não só. Uma das suas obras foi a casa dos pobres, onde homens e mulheres encontravam abrigo, num ambiente acolhedor e simples, com horta e criação, que além de lhes dar trabalho, era uma ajuda para a manutenção da casa. Os que viviam cá fora, iam lá buscar o alimento de que necessitavam. Havia pobres em Tomar. Talvez os mais velhos se recordem de alguns: O Martinho, que lá vivia, o Troca a Nota, o D. Inês, o Jeitoso e a irmã, sei lá. Nunca me lembro de nenhum ter morrido assim.
Agora, um pobre paquistanês, que vivia em Tomar há muito tempo, apareceu morto numa lixeira, meio roído pelos ratos. Vivia numa casa sem portas nem janelas, davam-lhe de comer e dinheiro, que gastava em vinho. Desapareceu, e ninguém se preocupou muito. Apareceu, no estado que eu já disse: morto, numa lixeira e roído pelos ratos. Será que isto acontecia no tempo do “Capitão”? Deixem-me duvidar. Já nada é o que era dantes. Onde está a minha terra? Onde os seus jardins, as pedras do chão, a janela do Convento suja, mas inteira? Onde os homens como o Salazarista “Capitão Oliveira”, que por acaso, foi general e Director Geral da Polícia?
Na última vez que fui ao cemitério, não tinha uma flor. O mini-monumento, que lhe fizeram, é mais pequeno do que o bebedouro de pássaros que tem à frente.
O “meu Capitão” merecia mais, gente da minha terra. Perdoem-lhe o Salazarismo e, lembrem-se do Tomarense que ele foi.
E pronto. Voltei. Com uma história triste, mas que me fez lembrar alguém, que merecia mais dos seus conterrâneos.
Beijinhos e obrigada a todos.
Até um dia destes.