A história começa em 18... e vem até aos dias de hoje. Vou resumir por várias razões:
1ª Não sou o Camilo Castelo Branco.
2ª Era uma grande estopada.
3ª Ou eu ficava maluca ou alguém ficava, tal é o emaranhado da história toda.
Em 18... vieram de Colares dois irmãos em busca de uma melhor vida. Um emigrou para o Brasil à procura da árvore das patacas. O outro ficou em Lisboa e encontrou a dita árvore. Casou com uma menina filha de um agiota, herdou o negócio e fê-lo prosperar. Camilo fala dele num dos seus livros. Foi ele quem liquidou a herança do pai do escritor. Tiveram duas filhas, belas moças. Chamavam-se respectivamente: Bonifácia Dinis e Adelaide Olímpia. Só ponho os nomes para que a história fique clara.
Um belo dia chegou do Brasil o tio emigrado. Vinha rico e solteiro. Os dois irmãos logo resolveram juntar as duas fortunas. Foi dito à pobre da Bonifácia que iria ser esposa amantíssima do tio. Claro que a menina nem teve tempo para pensar, quanto mais para dar a sua opinião. Casou, teve três meninos e morreu. Entretanto o agiota tinha morrido e a Adelaide foi morar com a mana e o tio-cunhado-tutor. Ela criava e tomava conta dos sobrinhos, ele tomou conta dela. Tomou tão bem, que ao fim de uns meses nasceu uma menina. A pobre Adelaide viu-se com uma filha, bastante dinheiro e uma quinta no termo do Lumiar. Já doente, por lá foi ficando com a filha e duas velhas criadas. Os sobrinhos visitavam-na, ajudando-a a suportar a solidão, o abandono do tio-cunhado-tutor-amante, que entretanto já casara de novo e tinha outra filha. Ela morreu, a menina foi entregue à irmã mais velha.
Pensam que acabou? Não. Agora é que vem o melhor.
Há tempos, o meu Filho comprou uma casa. Sabem aonde? Precisamente no sítio onde a minha bisavó escondeu a sua vergonha e mágoa de abandonada. Como sei? Possuo ainda a escritura dessa quinta em nome da minha avó. Mas é só a escritura, a quinta é hoje um aglomerado de casas. Quer dizer: o meu filho comprou uma ínfima parte, daquilo que um dia foi da minha família.
E diz a outra que não há coincidências!
Estão a ver que eu não sou o Camilo? Se fosse, esta história teria dois volumes, pelo menos.
Até um dia destes
Maria