quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O galo que não queria morrer


O nosso amigo Zé do Cão, levou-me tão longe com a história do peru, que não resisto a contar uma passada com um galo, que não queria morrer.
Foi há muitos anos. Eu teria 5, talvez. Morávamos ainda, na velha casa onde nasci. A cozinha era grande, com soalho de tábuas corridas e alguns ladrilhos junto da lareira. Um dia, deram ao meu pai um belo galo, crista vermelha, boas goelas. O bicho, metido num caixote, asas presas, olhava para nós com ar sobranceiro, como se interroga-se o que fazia ali, tão longe do seu galinheiro natal e das suas galinhas. De vez em quando, abria as goelas e lançava para o ar um grito de protesto.
A minha mãe, tal como eu, nunca foi capaz de matar um animal. A mocinha, que ajudava lá em casa, negava-se a cortar o pescoço ao galo, porque tinha medo dos olhos dele. A minha mãe pediu ao meu pai para antes de sair, tratar da saúde ao bicho. Ele disse que sim, mas esqueceu-se. A mãe, tinha o nariz arrebitado e era orgulhosa, não pediu segunda vez. Mandou a moça pôr o panelão de água ao lume, para dar o banho póstumo ao galo, muniu-se do maior facão que tinha, pôs o dito dentro de um alguidar de barro e, vá de cortar o pescoço. Aí começou a tragédia. Só cortou metade. O desgraçado, cabeça pendurada, sangue a espirrar por todo o lado, esvoaçou pela cozinha, deixando sangue e dejectos por onde passava. Em desespero, a mãe mandou a moça chamar o meu pai ao emprego, ali ao virar da esquina. Entretanto havia loiça partida, a cozinha metia nojo e, ele continuava no seu esvoaçar de adeus sem se deixar agarrar. Por fim, o pai chegou, agarrou o galo e, de um golpe, cortou o pescoço todo.
Galo morto, metido no alguidar e escaldado, o resto do dia foi passado a reparar os estragos. Os móveis e o chão de madeira, foram esfregados, vezes sem conta, com sabão amarelo, potassa, muitas águas e uma escova de barbas rijas. Levou tempo até tudo ficar em ordem.
O galo era velho. Não havia panelas de pressão. Quando à noite o fomos comer, estava rijo como pedras. Foi a vingança dele, acho.
Vês Zé, o que as tuas histórias fizeram?
De alguidares, falaremos noutro dia.
Até um dia destes.

24 comentários:

Laura disse...

Ai Maria, mas onde é que eu já vi a mesma história? em Pretória, o pai tinha um galinehiro, havia franguitos, galinhas, etc, perus, a mãe dessa vez mandou-me matar o frango, eu, toda corajosa, mas incapaz de o fazer, só que me gozavam...e para não dar parte de fraca, meto o facalhão no pescoço, só que aquilo começava a escorregar, ia com a faca para lá e para cá, e cortar? nada, arrisquei mais força, o que consegui, cortar um bocado, já não aguentava, larguei-o, o desgraçado continuou o passeio dele aos tombos, eu a correr que nem doida, o jardim era enorme, ufa, a mãe apanhou-o e de uma assentada deu-lhe o golpe de misericórdia...
Nunca mais, nem quis saber se era corajosa ou não. Nunca maeti animal nenhum, a não ser moscas e mosquitos, aranhiços e coisas assim...de resto, até evito pisar uma formiguita...
Mas o vosso galaró, lixou-vos a vida, pensou; matam-me mas causarei estragos à beça...o meu franguito, foi no quintal, e correu pela relva, e lá se foi... Anseio pelo dia em que todos possamos comer apenas verduras, saladas, coisas do campo...Não gosto de ver os animais sofrer, aqui em casa, era o que faltava, querem carne, pouco peixe e eu que adoro peixinho...
beijinhos Maria..laura

Maria disse...

É o que eu digo, Laura. Vamos a ver e, todos temos histórias parecidas umas com as outras.
Os miudos de agora, julgam que os frangos não têm penas e o leite da torneira para os pacotes. Também não só capaz de matar nada. Mesmo arranjar, tirar tripas e depenar, não é comigo. Arrepio-me toda, até a amanhar peixe. Chego a ficar mal disposta.
O raio do galo sujou, partiu, enfim, vendeu cara a vida. Ainda por cima, nem lhe conseguimos meter o dente.
Olha, começou o bendito jogo. Vou-me por a milhas daqui, com algodão nos ouvidos.
Até amanhã e beijinho
Maria

Laura disse...

E eu levo-te o cházito para dormeceres quentinha e uma fatia de bolo mármore que a Neide fez...tá uma delicia, ora prova lá!...Beijinhos e dorme bem..laura

Maria disse...

Laurinha
Obrigada pelo chá, mas não tragas bolo. Quando estiver boa, como um inteiro, para provar os dotes culinários da Neide. Agora não posso.
Vou limpar a casa, arrumar revistas velhas etc.
Beijinhos e até logo.
Maria

Je Vois La Vie en Vert disse...

Querida Maria,
Não fui capaz de ler a história até ao fim, parei no meio e se podia ter fugido, teria feito isto.
No supermercado, compro sempre frango do campo mas em pedaços porque não sou capaz de ver a cabeça do pobre bicho. Sou menina da cidade mesmo se vivi alguns anos (poucos) no campo e os patos e gansos que tínhamos na propriedade (havia um lago) tinham nomes e morreram de velhice ...
Nem vos falo da minha impressão, ainda agora em Portugal, de ver as cabeças de porcos penduradas e o leitão inteiro então, é o cúmulo para mim ! Vá lá já me habituei a olhar para os peixes inteiros mas nem sabem como eu sofri por causa disto no início do meu casamento e vinda para Portugal ! Os pobres bichos a olharem para mim com os olhos a brilharem, pareciam que estavam a chorar e eu tapava a cabeça deles com o jornal (era o embrulho da época) e cortava-lhes a cabeça com grande desgosto meu e ela ia logo embrulhadinha para o caixote do lixo. Fazia tudo isto por amor ao meu marido que gostava de peixe. A minha mãe na Bélgica pouco cozinhava o peixe e só em filetes e nem vale a pena falar da frescura do peixe lá....

Menina Maria, ralhei um pouco contigo no blogue da Laurinha. Deixa lá o teu marido ver os jogos de futebol, não faz mal nenhum....

Beijinhos da tua amiga

Verdinha

P.S. Quando é que retiras esta VERIFICAÇÂO DE PALAVRAS ?????? Agora mesmo tenho que escrever "urbelep" . Tem algum jeito falar assim ?????
Esta verificação de letras não é muito útil, se receberes um comentário que não te agrada, apagas sem mais nem menos ....Recebo raramente este tipo de comentários, talvez por não estar inscritas nas listas do Blogger e retirei a verificação a pedido da nossa amiga Dad.

Maria disse...

Querida Verdinha

Dou-te toda a razão, porque embora tivesse vivido numa quinta no Norte e, todas as casas onde vivi no Porto, tivessem grandes quintais e bicharada, nunca fui capaz de os comer, depois de os ter visto vivos e, tê-los alimentado. Nem matar, nem ver matar. Até amanhar o peixe me fez impressão sempre. A história daquele dia, assisti, porque era pequena e, logo que vi a faca na mão da minha mãe, fugi. Só vi o resto, por causa da confusão que se gerou.
Quanto à bola, o João vê o que quer, mas sem a minha companhia. Liberdade total. Cada um, come do que gosta e, eu bola nem vê-la.
Ontem durou não sei quantas horas, fui ler para o quarto e ele ficou a ver a bola.
Abraço grande
Maria

Laura disse...

Pois, eu prefiro ficar no pc, ontem falei com o Moa, um bom pedaço...a nossa estrelinha está ali a diário, eu adoro, ela? também, até para nos despedirmos ficamos feitas que nem tolas, aos adeus, beijinhos, té manhã,adoro-te e por ai fora... agora imploro-lhe para me deixar ir ver a novela! Pode? pois, pode sim, ela deixa, eu dou-lhe a volta ehhhhhh, vá lá que ela gosta de ler...

Maria disse...

Laurinha

Não troco os livros por nada. Nasci rodeada deles, comecei a ler muito cedo e, esqueço-me de tudo quando leio. Costumo dizer, que me tirem tudo, menos os meus livros. Leio, torno a ler, não gosto de os emprestar. Acho que é a única coisa que não empresto de boa vontade.
Se me entusiasmo, sou capaz de passar a noite toda a ler. É um vício como o tabaco, mas não faz mal, pelo contrário.
Beijinhos
Maria

Kim disse...

Os galos são mais difíceis de matar do qua as galinhas.
É por isso que eu gosto muito delas (galinhas).
Acho que toda a malta da nossa idade já teve uma situação dessas e isso de facto assustava os miúdos.
A Verdinha tem razão quanto à verificação de palavras. É um grande pincel.
Beijinhos Petite Marie

Maria disse...

Kim

Tenho mesmo que tirar esta porcaria, porque também me irrita. Engano-me, não percebo as letras e fico fula.
Tenho que ver se o meu tecnico privativo, me faz isso.
Quanto à bicharada, quando havia matança de porco, fugia para muito longe. Os guinchos do animal, arrepiavam-me e faziam-me chorar.
Detesto ver tratar mal, quanto mais matar. É por isso que não gosto de touradas. Só vejo as pegas, pois aí, a luta é mais leal.
Detesto ratos, mas nem esses gosto de ver matar.
Beijinho
Maria

Laura disse...

Maria, em nina na casa dos meus avós, todos os anos sucedia a matança, eu ainda ouvia na altura, e, metia-me debaixo da cama, a gritar e a tapar os ouvidos o mais que podia, com pena dos pobres bichos...eram enormes, a familia era grande, vinham os amigos, vizinhos, todos se ajudavam, e depois papava-se carninha boa,esquecia o bicho e os gritos...
Já tive verificação de palavras, mas nem adianta de nada...os anónimos comentam na mesma se quiserem...eu tranquei a porta, os amigos sem blogue tiveram de ficar de fora, mas quando são amigos, fazem um e entram também..Beijinhos, e tem um dia bom, laura

jrom disse...

Minha amiga Maria é com satisfação que leio uma estória com algum humor.
Que a alegria volte para a vida, este bem que por tanta coisa, nem sempre nos permite usufruir na totalidade.
Gostei da narrativa e também me levou, como por encanto até outros tempos da meninice com saudade.
Não quero dizer com isto, que por aí não proliferem muito galo a cantar de galo, por uma boa tachada.
Convém sempre prender os pés e as asas,senão dão muitos problemas.
Nós sabemos bem isso!....

Maria disse...

Laurinha

Como já tinha dito, também eu fugia a sete pés, quando o porco começava a guinchar.
Acho que já consegui tirar a porcaria da verificação.
Beijinhos
Maria

Maria disse...

jrom
Prefiro comprá-los já arranjadinhos, para não sentir que estou a colaborar com um crime. O senhor do talho corta-os e, depois é só lavar e cozinhar.
Mesmo com o peixe, peço sempre para o limparem, porque me sinto mal a amanhá-lo. Comodidades modernas, muito uteis para pessoas com manias como eu.
Beijinho
Maria

Vasco disse...

Já assisti a uma matança de porco e não gostei do espectáculo.

Já agora, conta a história da lampreia...

Beijinhos.

Maria disse...

Meu Corvo
A da Lampreia ainda me levava à guilhotina.
Mas há outras.
Beijinho
Mãe

Laura disse...

Maria, raios, raios levem as lampreias, nem te digo, nem te conto...o meu irmão, no Entroncamento, levou um balde delas ainda bebés, para casa e pô-las na banheira, o raio das bichas pareciam cobrinhas, vinham á superficie respirar, não aguentei mais, meti-as todas num balde e, ora pois, bota abaixo pla sanita, e a spobres memso na sanita, vinham respirar ali, eu puxava o autoclismo, mas, não havia maneira de a smandar embora e desaparecerem..Minha nossa, quando me lembro, sofro pelo mal que lhes fiz, raios...devia ter uns 8 anos...enfim. beijinhos, laura

Laura disse...

Um Domingo sereno, lindo, porque hoje o sol brilha a rodos, a cantaros, e sabe tão bem senti-lo...Um abraço apertadinho da tua flor de linho, laura

Je Vois La Vie en Vert disse...

Querida Maria,

Depois de ter passado pelo blogue do Kim, venho te deixar um beijinho de carinho porque tenho a impressão que precisas dele hoje...

Verdinha

Laura disse...

Ah, consolei-me aver-te no filme do nosso Cineasta Kim Kim, estás linda, o João e o Vasco, idem, todos lindos, todos envolvidos e todos felizes, foi tão bom, só soube a pouco, muito pouco...
Muitos beijinhos e amor da tua flor de linho, cuja moldura está no meu quarto...

Maria disse...

Verdinha querida
Estava mesmo a precisar do beijinho.
No EMail explico e, se conseguir, daqi a bocado no blog.
Abraço grande
Maria

Maria disse...

Flor de Linho

Também ontem, antes da Via Sacra dos médicos, recebi e estive a ver o filme. Por momentos, esqueci tudo, só me lembrei daquele dia tão bem passado.
Logo, vou tentar explicar no meu blog o que se passa.
Beijonhos querida
Maria

Zé do Cão disse...

Coitado do bicho, não merecia tal sorte.
Proximamente também tenhjo historia de um galo. Mas esse era altaneiro e vaidoso. Roubou-me um Omega - igual ao que os homens levaram pela primeira vez à lua.
Só ao fim de... (Não conto mais para que a história não perca o interesse)
Isto foi em S. Miguel de Acha . Beira Baixa

Bj.

Maria disse...


Conta histórias, sim. É uma distracção que já não perco.
Beijinho
Maria