domingo, 16 de maio de 2010

Só a mim é que acontecem estas coisas!


Passou-se há cerca de 40 anos, tendo como personagens centrais uma tábua avariada, duas mulheres à beira de um ataque de nervos, um homem que não tinha jeito nenhum para arranjar coisas.
A praia dele era mais a contabilidade e a pesca desportiva.
As mulheres eram a minha sogra e eu, o homem o meu sogro. Temos mais uma tábua quase a partir, um monte de roupa de 3 homens, 2 mulheres e 2 crianças, que ainda usavam fraldas de pano.
A cena passa-se numa cozinha, com a tábua a entortar toda, eu sem fraldas passadas para as crancinhas, a minha sogra tentando resolver o caso por aquela noite. Amanhã, dizia ela, vamos comprar uma tábua, isto se o João, o artista claro, não conseguir dar aqui um jeito, até ao fim do mês. Estávamos nesta conversa, vem o meu sogro, o tal com jeito para a pesca, que ferido nos seus brios de macho, nos declarou com ar de troça: Realmente para pregar dois pregos, é preciso esperar o técnico! Foi buscar o martelo, uns pregos enormes, virou a tábua e... a minha sogra ia dizendo para ele ir ver as notícias, ler o jornal, descansar... Nada o demoveu. Tábua de pés para o ar, martelo na mão, pregos na boca e um na outra mão e zás! Primeira martelada no dedo, primeiro irra! (o maior palavrão que alguma vez lhe ouvi). Segunda martelada no dedo, segundo irra! Acompanhado de rais parta a tábua. Respirou fundo, preparou o martelo, apontou o prego e terceira martelada no dedo. Foi o fim. Com uma fúria que nunca lhe vira, saltou em cima da tábua até a partir toda, enquanto repetia a frase destas ocasiões: “Só a mim é que acontecem estas coisas”. Eu e a minha sogra, esquecidas da roupa para passar, riamos a bandeiras despregadas, o que piorava a situação. Por fim, foi-se embora, deitando o fumo do cigarro, que entretanto substituíra os pregos, por todos os lados.
Nós, sempre a rir, arrumámos aquela bagunça toda, ainda passei as fraldas, não me lembro como.
No dia seguinte saiu cedo. Passada meia hora, vieram entregar uma tábua novinha em folha, de metal. Nós estávamos a contar a história ao meu marido. Ao almoço é que foram elas. Ele sério e calado, nós todos a tentar reprimir o riso.
E foi esta a tragédia da tábua de passar, que acabou no lixo, única vitima do ataque de mau génio, do meu querido sogro, que tinha muito jeito para a pesca.
Até um dia destes.

25 comentários:

Alva disse...

Maria,

Que belas risadas deves ter dado na altura, como eu estou a dar agora!
Ai que momento esse... mas são esses os momentos que fazem a união entre a família...

Beijinhos,
da tua pequenina

Maria disse...

É verdade pequenina. Ainda hoje me dá vontade de rir, aquela cena.
Durante dias, não deixavamos de rir, cada vez que viamos a tábua nova.
Coisas da vida da Maria. São tantas! Ás vezes farto-me de rir sózinha a lembrar-me delas.
Cada vez gosto mais da minha pequenina.
Beijinhos.
Maria

Alva disse...

Eu também gosto muito de ti =)

Beijinhos

Je Vois La Vie en Vert disse...

Achas mesmo que é só a ti que acontecem estas coisas ?
Fúrias destas não acontecem na minha casa, não, porque as coisas estragadas ou ficam assim eternamente ou vão para o lixo. O Leo não pode ter todas as qualidades...
Muitas vezes, sou eu que pego nas ferramentas para tentar arranjar coisas e, às vezes, resulta ! :))
Mas cenas parecidas podiam ter acontecido com o meu pai que é engenheiro mas não tem jeito nenhum para "bricolagem".
Felizmente, o meu irmão não saiu ao pai e arranja tudo o que for preciso. Aproveito sempre a sua visita em Portugal para lhe pedir uma ajudinha naquelas coisas que estão há anos para serem arranjadas, tipo uma tomada saída do seu encaixe ou um interruptor que já não funciona.
O mal é que se mandamos vir um "profissional" para tratar dessas coisas, cobra logo €30,00 (sem factura nem recibo !!!) depois de ter tocado à campainha...

Beijinhos

Verdinha

Maria disse...

Querida Verdinha
A mim não me acontecem porque nem me atrevo a pregar um prego. O João, em tudo o que mexe, arranja e bem. Os filhos (incluindo ela) são muito bons nessas coisas. Assim, eu nem uma lâmpada mudo.
O meu sogro, coitado, era um deseijatado total. Naquele dia, não sei que lhe deu. Onde mexia, estragava ou partia. Se eu te contasse algumas das frustradas tentativas dele, nem acreditavas. Era um santo, muito inteligente, mas sem jeitinho nenhum.
Ela era muito habilidosa em trabalhos de senhora. Tinha jeito para tudo e ensinou-me muito.
Foram os meus segundos pais, muito mais que sogros. Ainda lhes sinto muito a falta.
Abraço grande
Maria

Andre Moa disse...

Cara Maria
Eu só não afirmo solenemente que sou o teu sogro reencarnado, porque não percebo patavina de contabilidade. Caso contrário, teria que ver a tua certidão de casamento e certifgicar bem a identidade do pai do noivo. eheheheheheheheheheheheheheh.
Abreijos
André Moa

Unknown disse...

Mariamiga

Bela estória e... bela tábua, a nova, claro cumo binho tinto. A velha, enfim o que restou da velha deve ter dado umas excelentes achas para a lareira - sem pregos.

O teu sogro, já o sabemos todos os que aqui vêm e vêem, era um senhor gajo bué da fixe. Se uma boa martelada num dedo só resultava em irra! era um santo. Não admira, portanto, que o filho o seja. É óbvio.

Um destes dias, conto uma outra estória que comigo se passou a propósito de tais preparos: como passar a ferro na tropa. Aviso à navegação: conterá cenas eventualmente chocantes. Nada, porem, como as da Bruninha, tadinha...
Abs sem pregos e qjs para tu

Laura disse...

Maria, tiraste-me da linha, fizeste-me rir com as marteladas no dedo, coitado do pescador, ehhh afinal nem o prego ia ao lugar, e o dedo, lixava tudo...
Vá lá que se comprou outra tábua. aqui o manel faz de tudo, tudo, engenheiro electromecânico, e eu, nada só com o trabalho que a casa dá, xiça..chega e sobra..
beijinho e obrigada pelo riso...laura

Zé do Cão disse...

às vezes também de dá a ira e ou vai ou racha. Normalmente RACHA.

Certa vez lá pelo Norte, numa das visitas que semanalmente fazia a vigo por passagem a caminho do "cortiço" gallego, comprei uma tábua de engomar. Coisa fina e automática no abrir. Agora já as há aos pontapés. Foi para lá uma empregada mulher de meia idade, tipo "arranca pinheiros". Abriu a tábua, que maravilha, abriu num estante. Quando a quis arrumar, não conseguiu. Pois já que não foi a bem foi a mal. Não sei como, entalou os dedos e partiu aquela"m" toda. Fiquei fula e estive quase para a mandar à "m".
a seguir comprei uma das simples, simples que até metia dó.
Beijinhos, querida amiga

Zé do Cão disse...

Maria

Por lapso disse fula. Também era o que me faltava...
jinhos

Laura disse...

Ai Zézito, acabei de me ler com a tua fula, (o que faz uma vogal errada)também era o que faltava, se era, mas coitada da mulher, se era arranca pinheiros, precisava lá de uma tábua que não fechava, ora pois, vai a pontapé... Boa, ele há cada uma, mas...é a vida da gente simples que não estava habituada ás modernices de então!

Beijinhos querida Maria e querido Zé do canito..laura

Maria disse...

Querido André
O meu pai e o meu sogro eram parecidos. Só que o primeiro era tão teimoso que levava tudo ao fim.
Chegou a ter imensas ferramentas, que morriam virgens. Era capaz de pôr dez pregos enormes, onde bastava um pequenino. Nunca se magoava, porque tinha sorte. Prego pregado por ele, nunca mais saía. As coisas que arranjava nunca mais servia. Então em matéria de electricidade era um espanto. Um dia conto, como era. A linguagem dele era muito mais vicentina do que a do meu sogro. Até inventava termos novos, que nos deixavam de boca aberta e à minha mãe corada.
Nem toda a gente tem jeito para tudo. O meu irmão é um zero à esquerda, nessas coisas, mas nem tenta, tal como eu. A minha irmã é uma topa-a-tudo.
Beijinho grande
Maria

Maria disse...

Henriquamigo
O filho, ao contrário do pai, tem jeito para tudo. Até para me levar ao casamento, coisa que eu nem pensava fazer NUNCA. Quanto ao vocabulário é muito mais vasto.
Depois de 40 anos na RTP, com passagem pelos belos estúdios do Lumiar, aprendeu tudo o que havia em palavrões e lindas frases. Não faz muito uso, mas quando se irrita saem. Quanto a mim, se estiver em dia não, faço corar um carroceiro. A minha costela de Ribatejana, fez-me saber tudo.
Beijinhos, abraços e queijinhos.
Maria

Maria disse...

Laurinha
Cá o patrão tem um jeitão para essas coisas, felizmente. Máquinas, pinturas, arranjos, é tudo com ele.
Sorte a minha que nem uma lâmpada mudo.
Beijinho
Maria

Maria disse...


Fizeste-me lembrar o meu pai. Até as avarias do carro, eram resolvidas à martelada. E às vezes resultava.
Fartei-me de rir com a tua tábua galega e a mulher galega.
Tens de contar essa história com pormenores.
Beijinho amigo
Maria

Kim disse...

Às vezes acontecem estas coisas quando a gente cospe para o ar.
Serviu-lhe de lição.
O homem também devia ser um grande nabo. Em três não acertou uma.
Ao menos serviu para a Petite Marie rir a bandeiras despregadas, coisa que tem tão arredado dela.
Beijinhos miúda!

Maria disse...

Kim
Conheci bem o meu sogro e calculo, que se desse em vez de 3, dez marteladas, todas iriam errar o alvo. É o que eu digo, ele tinha imenso jeito para a pesca. Mesmo assim, um dia, depois de ter cortado qualquer coisa com um canivete, atirou o canivete ao mar e ficou com a cana e a linha quietinhas na mão. Era distraído, mas o filho ainda é mais. Se perguntares ao Bicho, ele deve-se lembrar de muitas distrações do "Chefe Costa".
Só te digo, que quando estava na tropa, calçou as botas e depois de atar os atacadores, queria vestir as calças da farda por cima. Esta foi só uma.
Pai deseijatado, filho distraído, foi o que me saiu na rifa.
Beijinhos
Maria

Laura disse...

Ahhh e que bela rifa tiraste Maria... esse sogro devia ser cá um riso, ao menos isso pois há sogros e noras que nem se dão e com as sogras, pior e tu, foste uma belissima nora e calhou-te na rifa ainda uma boa sogra.
Beijinho da flor de linho.

Maria disse...

Laura
Tive uma grande sorte com os sogros. Como não tinham folhas, eu ocupei esse lugar. Demo-nos bem. Hoje faria ela anos. Vou a Cascais levar-lhe umas flores e limpar a campa. Sinto muito a falta deles e lembro-os com grande saudade e amor.
Há sogras e noras, e nem sempre as sogras são as más da fita. A minha não era.
Beijinhos
Maria

Laura disse...

Pois há Maria, há boas sogras que eu não tive, a primeira era uma sogra e tanto, apenas convivi com ela 25 dias nas Ilhas, Funchal, a segunda já tinha falecido, uma grande senhora diziam e assim...
Aquele abraço apertadinho da laura

Maria Soledade disse...

Kida Maria, o riso que anda tão arredado veio ao meu encontro graças a ti.Ou melhor,graças a ti, à tábua e aos "irras" do teu sogro.Olha, por aqui era o contrário.O meu sogro tem jeito para arranjar tudo quanto é coisa!O Júlio que tinha a panca das ferramentas não sabia fazer rigorosamente NADA!Mesmo com as coisas electricas só saía teoria,prática...'tá queto!Nem lhe tocava!!Felizmente, aqui a je fazia tudinho.Bem, só abusava era nos furos.Ele só dizia:"Um dia destes já não tens um bocadinho de parede para furar", e era verdade!Eu monto, desmonto,arranjo,desarranjo,pinto paredes,borro tudo, é verdade,mas ficam pintadinhas...Eu é que havia de estar há 40 anos atrás contigo e vias se a tábua não ficava um luxo!

Eu sempre gostei de transformar coisas a que ninguém dá valor nenhum em algo com utilidade.Adoro tudo que seja trabalho de mãos...

Beijinhos Grandes Linda!

Maria disse...

Se a história te fez rir, valeu a pena contá-la. Há mãos que tudo arranjam, outras que estragam tudo.
O meu marido tem jeito para tudo. A minha sogra dizia que ele só não sabia fazer dinheiro. Salvo seja, que Alves dos Reis, só houve um e acabou na cadeia.
A minha irmã consegue fazer qualquer trabalho. Eu e o meu irmão nem uma ficha electrica arranjamos. Também não me faz falta, porque os filhos e o marido conseguem arranjar tudo.
Cada um nasce como é. Se tu visses as ligações electricas do meu pai! Por sorte, nunca pôs a casa a arder, mas custou-me a mim e outros, uns choquesinhos muito simpáticos. Um dia conto.
Beijinhos
Maria

Laura disse...

Ahhh, Maria, olhá nossa Soledadinha a manejar tudo..e a furar paredes, olhá sorte não furar a cabeça de algum vizinho que se encostasse á parede...xi, menina ela é uma muié e peras... quem na vê tão frágil, tão magrita, ora toma, a miúda sabe de artes e oficios..
beijinho ás duas..e falando em choques eléctricos, credo..eu apanhei um em pequena de um fio solto do candeeiro, menina, passava cá uns medos que ia plo meio do corredor longe de tudo quanto fosse ficha eléctrica...
beijinhos e feliz domingo. laura

Zé do Cão disse...

Maria. Que então eu estava "fula"?

Uma vogal ao contrário é vê lá o que se arranja. Realmente...só me faltava isso.
Quanto à tábua era galega a empregada era minhota. Daquelas minhotas que têm um bigode maior do que o marido.
Queres ficar triste, vai lá ao meu cantinho, tenho o Zé Povinho crucificado, mas está gordito o sacana.

Laura disse...

Deixo-te um beijinho cheio de chuva na alma mas com alegria no coração!... Chove a cantaros ou a potes..e eu que andei a trabalhar para o bronze...
Um beijinho da flor de linho, laura