Sei que está em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim
Chico Buarque
Até um dia destes.
15 comentários:
Tanto mar e tanta gente, bom dia 25 para si.Beijinho Maria
S.
O meu dia hoje, tem sido passado, entre velhos negativos de fotos, lembranças de há 35 anos, voltas pelo computador. Calmamente.
Ontem, estivemos a ver um documentário sobre os Açores.
Ai amiga, que saudades.
Beijinho e BOM FIM DE SEMANA.
Olá Maria! Hoje é um dia que muitos comemoram e outros não. Para mim foi dia de lágrimas, medo, receio. Em Angola sem saber o futuro e, realmente, tivemos de abalar e deixar muito para trás...Para mim foi o maior desgosto que a vida me trouxe... abandonar a terra amada, um amor a estrear, que se perdeu na voragem da vida, da guerra, enfim...tinha de ser, mas, nunca bati palmas nese dia, deu jeito na altura, muitos ficarm melhor e, ainda bem, só que agora voltou o descontentamento...
Não compro cravos vermelhos, nunca...trazem-me aquelas horas de agonia, no lar, e as lágrimas que lá ficaram...
Beijinho a ti da laura..
Querida Laurinha:
Compreendo perfeitamente que, este dia não seja de festa para ti e para muitos outros.
Para os que cá estavam, foi o fim, não só de uma ditadura estúpida e brutal, que prendia, matava, quem se revoltava contra ela. Foi a libertação dos presos políticos. E a Guerra, nina, a guerra que me roubou amigos, que deixou mães sem filhos, mulheres e noivas, sem os seus homens, bebés, sem pai. A guerra, que estropiou, fisica e moralmente, muitos dos rapazes da minha idade. Foi a possibilidade de olhar para o marido, o namorado, o filho, sem medo de o ver partir, para uma guerra estúpida e injusta para todos. Nós, os que cá estávamos, vocês, os que lá estavam, mas sobretudo para os que lutavam dos dois lados, as mais das vezes sem saber para quê.
Eu tinha muita gente da minha familia em África, Laura. Sei o que eles passaram, sei que alguns, vieram com a roupa no corpo. Eles, também não gostaram do 25 de Abril.
Tudo na vida tem um reverso. O que para uns foi festa, foi tragédia para outros.
Na altura, fiquei feliz. Meu pai sempre foi antisalazarista. Hoje, sinto-me muito desiludida. Esperamos muito esse dia, vivêmo-lo, com grandes esperanças. Agora, sinto uma tristeza enorme, por ver que muitas das esperanças morreram, que muito do que devia mudar, não mudou, enquanto algumas coisas, voltaram ao mesmo.
Por isso, amiga, eu não pus cravos vermelhos. Por isso copiei os versos do Chico, já um pouco desiludidos. Por isso não estou alegre, nem festejei.
Tu perdeste os teus sonhos, eu de certa forma, também perdi os meus.
Vá, pariga Laura. Amanhã já passou tudo.
Vive a tua vida actual, sem ohares muito para trás. Quero de volta a minha flor de linho, alegre, bem disposta, sem angústias, que me faz ficar feliz em alguns momentos maus.
Beijinhos, nina linda.
Até logo
Olá Maria;
Depois de uma pequena viagem de trabalho, aqui estou de volta e voltar num 25 de Abril é especial. Vivi este dia há 35 anos no Brasil e foi algo estranho porque tendo eu irmãos mais velhos não compreendia o porquê de todo o frenesim lá em casa e em especial porquê a minha irmã mais velha que no dia anterior tinha dado à luz o seu terceiro filho decidiu, dar o nome ao filho de Cristiano de Spínola e assim foi registado. Só então compreendi, porque os meus pais tinham partido para o Brasil quando eu era ainda criança porque os meus irmão mais velhos me explicaram !...
Hoje, os meus pais merecem bem um cravo vermelho,... mas não sei como enviar porque eles partiram um dia sem deixar endereço... e só com viagem de ida.
bjs, amiga Maria.
Osvaldo
Osvaldo:
No lugar onde seus pais estão, os cravos devem ser mais vermelhos, com mais cor e perfume. Aqui, tal como o Chico diz, "já murcharam nossa festa", mas eu espero que haja uma semente, esquecida num cantinho e que ela um dia volte a florir. E que desta vez, seja para todos.
Foi lindo, muito lindo, sobretudo para quem sonhou com ele anos, como seus pais e o meu.
Mas eu ainda acredito, que um dia a nossa terra volte a ser, um imenso jardim, com flores, emprego educação e pão, para todos.
Acho que vou ter esperança nisso, até morrer.
Beijinho.
Foi lindo esse dia! E outros que se lhe seguiram.
Depois ... goraram-se quase todas as esperanças que Abril abriu.
Ficou a liberdade! E muito mal gerida!
No 25 de Abril, comprei uma rosa, para oferecer a alguém que partiu há muito.
Beijinho Petite Marie
Kim:
Ficou a Esperança, amigo. E a tal sementinha, de que o Chico fala no poema.
Um dia, talvez nós não vejamos, mas um dia, o mundo será aquilo que nós sonhámos, já lá vão 35 anos.
Talvez num outro Abril, talvez num outro mês, um dia, os homens aprendam a "conviver" sem conflitos, sem diferenças, sem ódio. Por mim, ainda espero. Talvez os nossos netos...Talvez os netos deles...
Vivemos um tempo, que evoluiu muito depressa e, nem sempre para melhor.
Mas conhecemos Che, vivemos um Abril de sonho, soubemos o sabor e o cheiro da Liberdade.
Doi, ver mortos alguns sonhos. Doi, já não termos 20 anos.
Mas a rosa que tu compraste para alguém, não foi em vão.
Alain: "L'important c'est la rose", a rosa, o cravo, qualquer flor, que nos lembre aquilo que vivemos.
Isto já se está a transformar em conversa de velha ingénua e sentimental.
Beijinho
Petite Marie
Kim:
Sou eu outra vez.
Tivemos Brel, tivemos Brassens, e tivemos Aznavour, tivemos Sartre, Simone de Bauvoir, Sagan, Yourcenar e outros. E fico por aqui, para não me arriscar a que isto pareça a lista telefónica de Paris, anos 60.
Queres melhor do que ser da nossa geração? Nós abrimos todas as portas, acabámos com mitos e tabus.
Somos os eternos românticos dos anos 60. Há alguma coisa melhor, meu amigo?
Beijo
Maria
O Rever o matar saudades, é a vida que se revigora, são as esperanças que voltam.
jocas
Zé do Cão:
Em parte é assim, mas aos 64 anos, já se vive muito de memórias, embora a esperança ainda não tenha morrido de todo.
A minha já está um pouco murcha.
São muitas as desilusões, as perdas, a cabeça já não consegue aceitar algumas coisas.
Mas talvez, eu ainda volte a ver um novo Abril.
Entretanto, guardo a lembrança do outro, do meu Abril de há 35 anos.
Beijinho
Nina, nem seja por isso, é que faço por nem lembrar o dia nem reparar nas datas, e se cravos vermelhos vejo, mas que mal tem?...que mal fizeram as flores para serem detestadas? Não me fez mossa, não comemorei e sempre disse que esta guerra teve dois lados...
Um beijinho e ando mais ou menos, nada há que consiga mandar a tua flor de linho, prá cama, doente, de depressões ou o que for...eu aguento, se aguento...Beijinhos.
Nunca cantei ao som dos cravos...
25 de Abril de cravos ao peito
Tantas vozes na multidão
A gritar de qualquer jeito
E a maioria grita sem saber
Que o 25 de Abril
Foi para muitos, fonte de sofrer.
Sofrer ao ter que abandonar
A terra do nosso doce viver
A terra que aprendemos a amar
E a conhecer.
Mas tivemos que partir
Ao som da cançaõ dos cravos…
25 de Abril para quê?
Liberdade para quê?
O que é que se vê nas ruas
O que mudou assim tanto
Que nos faça querer
Cantar o dia de hoje?
Onde estão os que cantavam a alegria?
Onde os maiorais que tudo orquestraram?
Onde andas povo meu que sofres e já não cantas?
Que enquanto te davam esmolas
Enriqueciam eles…
E agora em vez de cravos nas lapelas
Pendurais bandeiras pretas, nas janelas !
Maria, fui ao meu blogue pescá-lo, para leres apenas, está publicado num dos meus livros...é assim que sinto, e é assim que foi, para muitos e eu emsma me revolto contra esta guerra estupida, os homens não sabem ter boas opções, só guerra e nada mais...Que pena que foia ssim..Um xia ti da tua flor de linho..
Minha querida Laura:
Gostei e entendi perfeitamente, os teus versos, embora haja coisas com que não posso concordar. Do teu ponto de vista, estás certa, do meu, não. No fim, isto mais não é que ser livre. Discordar de uma amiga, dizer-lho e, continuarem amigas. Se eu te dissesse que achava que tu tinhas toda a razão e que concordava, em tudo contigo, estaria a atraiçoar-me e a atraiçoar-te, sendo falsa.
Não é isso que nós queremos. Nós queremos, uma amizade limpa, sem equivocos ou mentiras, como até aqui.
E assim vai ser, pois eu gosto muito de ti, admiro-te, acho-te uma grande mulher.
Amigas sempre.
Beijo na minha flor de linho
Enviar um comentário