Gosto de bonecas. Muito. Tive algumas humildes de cartão, de celulóide, quando era pequena. De todas guardo lembranças boas e tristes. Boas, quando eram novas, com grandes olhos pintados, boca em forma de coração, muito vermelha, cabeças com altos a fingir ondas, também pintados de amarelo e castanho. Aos poucos o verniz estalava, as cores iam desaparecendo, os braços e as pernas presos com elásticos caíam e a pobre boneca transformava-se em mísero trambolho, a quem eu tratava desveladamente, porque estava doente. As duas de celulóide que tive, também acabaram mal. Com tanto banho, tanto carinho, acabavam com altos e baixos, fendas, olhos metidos nas órbitas. Resumindo: tinham um curto prazo de validade.
Um dia a minha avó deu-me uma boneca linda. Cabeça de biscuit alemão, olhos azuis, corpo de pelica. Não tinha cabelo, mas tinha ainda algumas peças de roupa originais.
O problema do cabelo foi resolvido facilmente. Eu tinha muito. É pois o meu cabelo que ela ainda tem. Roupas, a minha mãe com restos de tecidos sem idade e muita arte vestiu-a. Claro que não tinha ordem de lhe mexer senão em dias de festa. Mas era minha e eu podia olhá-la, mostrá-la às minhas colegas. Dei-lhe o nome da minha avó. O tempo passou, os velhos tecidos romperam-se e fui eu que a voltei a vestir. Nova busca nos restos de tecidos. Dias e dias a tentar reproduzir o vestido de noiva da minha outra avó, que ainda guardo. O cabelo ainda é o meu cabelo de menina. Está numa vitrine, juntamente com outros tesouros. Já me ofereceram bom dinheiro por ela. Só que ela já não é minha. É da minha neta, eu sou apenas Fiel depositária dela. Mesmo que ainda fosse minha nunca me desfaria dela.
Minha avó faria no dia 22 deste mês 132 anos. A boneca foi-lhe dada no dia em que fez um ano.
Acham possível desfazer-me desta relíquia? Eu não seria capaz.
Isto de limpar o pó, dá-me cada ideia!
Até um dia destes.
Um dia a minha avó deu-me uma boneca linda. Cabeça de biscuit alemão, olhos azuis, corpo de pelica. Não tinha cabelo, mas tinha ainda algumas peças de roupa originais.
O problema do cabelo foi resolvido facilmente. Eu tinha muito. É pois o meu cabelo que ela ainda tem. Roupas, a minha mãe com restos de tecidos sem idade e muita arte vestiu-a. Claro que não tinha ordem de lhe mexer senão em dias de festa. Mas era minha e eu podia olhá-la, mostrá-la às minhas colegas. Dei-lhe o nome da minha avó. O tempo passou, os velhos tecidos romperam-se e fui eu que a voltei a vestir. Nova busca nos restos de tecidos. Dias e dias a tentar reproduzir o vestido de noiva da minha outra avó, que ainda guardo. O cabelo ainda é o meu cabelo de menina. Está numa vitrine, juntamente com outros tesouros. Já me ofereceram bom dinheiro por ela. Só que ela já não é minha. É da minha neta, eu sou apenas Fiel depositária dela. Mesmo que ainda fosse minha nunca me desfaria dela.
Minha avó faria no dia 22 deste mês 132 anos. A boneca foi-lhe dada no dia em que fez um ano.
Acham possível desfazer-me desta relíquia? Eu não seria capaz.
Isto de limpar o pó, dá-me cada ideia!
Até um dia destes.
25 comentários:
Sabes que aconteceu à boneca da Maria Tonta na estória da Maria Rosa Colaço? Era uma boneca de pano a quem a menina com todo o carinho dava colherinhas de leite. Azedou.
As de cartão quase se desfaziam ao dar-se-lhe banho.
Eu só tive de plástico trazidas de França pelo meu pai para mim e para as minhas irmãs, para as três mais novas. A minha mãe vestia-as e ficavam lindas apesar de serem de plástico. Lembro que dei a minha à minha irmã mais velha quando se casou. Imagina!...
Houve lá em casa umas bonequinhas pequeninas muito bonitas mas nem sei que foi feito delas. Eram de enfeite, muito pequeninas, vestidas de muitas rendinhas e com a cara muito pintadinha. O que me lembro é de uma tia que morava em Lisboa as pintar quando lá ia.
Eu no teu lugar nunca mas nunquinha me desfazia dessa relíquia. É fantástico ser com cabelo teu, vestida com vestido cópia do de noiva da tua avó a quem ela pertenceu... Uma relíquia, Maria.
Gosto destas tuas estórias de memórias. Gosto muito.
Beijinhos deste para esse lado.
(deixei um comentário na casinha de bonecas. ainda não viste pois não?!...)
Girassol:
A minha boneca só sairá das minhas mãos para as da minha neta a quem já a dei. Faz parte da minha galeria de reliquias, que tem de tudo. Desde o vestido e sapatos da avó, cartas de 1800 e pouco, fotos muito antigas, pequenos objectos sem valor material, mas que eu adoro porque pertenceram a pessoas que amei. Depois, além da casinha, tenho imensas bonecas de porcelana de vários locais e países, caixinhas, brinquedos velhinhos que o João me restaura, sei lá. Coisas a que me apego e me dão felicidade. Acho que respondi no outro post, mas vou verificar.
Beijinhos daqui para aí.
Girassol:
Afinal não tinha visto. Já lá tens a resposta.
Beijinho
Maria,
É linda a tua boneca. E tem uma história linda de encantar.
Tive duas de porcelana, que faziam as minhas delícias, mas ficaram por terras muito longínquas. Ainda tenho uma de celulóide muito bonita. Também a minha mãe vestia e calçava as nossas bonecas.
Mas vou contar-te um segredo: tenho um fascínio inexplicável por caixinhas de música. Deixam-me extasiada. E agora que encontrei um site com caixinhas antigas, vou tentar construir uma. Não se vou conseguir, mas pelo menos vou tentar.
Quando regressar das férias telefono-te para estarmos juntas. Também eu tenho nuitas saudades tuas.
Beijinho amigo
Nemy
Nemy, minha querida:
Recebi a tua carta e fiquei muito contente por as saber todas bem e felizes.
Depois respondo.
Eu também adoro caixinhas de música. Fascinam-me. Tenho duas que o Vasco me deu. Alem disso tenho duas bonecas com música: uma toca violino a outra parece dançar.
Eternas meninas que nós somos, amiga. Mas é tão bom fugir do dia a dia para o mundo encantado dos brinquedos.
Dá beijinhos meus às meninas e à tua irmã.
Para ti muitos e toda a saudade da tua amiga.
Maria;
A Alda Hermínia, merece bem uma vitrine, mas só para ela, porque cada tesouro merece o seu lugar personalisado.
Embora na minha área hajam muitos e veriados tesouros, nunca me aconteceu esse tipo de objecto de arte mas conheço alguém que se vir este teu post,... não mais te larga porque é a sua especialidade.
Aí, ela vai-te tentar, cantar a canção do céguinho, implorar, mostrar-te o quanto faria bem à boneca mudar de ares e numa última oferta (£$£$£$.00) prometer-te que ela ficará numa bela vitrine só pra ela com alarmes e vidros à prova de cismos e balas..., não é Annelise!...
bjs, Maria e um abraço pro João.
da Ana e Osvaldo
Mariazitamiga
Já aqui contei que fui padrinho (profissional?) no que dizia respeito às bonecas. Coisa gira, bué da fixe.
Há uns larguíssimos anos ofereci uma à Raquel, que também tinha uma, já trazida de Goa e com árvore geneológica e tudo. Foi o início de uma colecção de bonecas aos montes, variadas, de todas as cores, feitios, trajes regionais, trajes nacionais, eu sei lá que mais (olha, rimalhei...)
Por tudo o que era sítio onde íamos - zás, uma boneca! Uma? Muitas. Imaginem, sil us plau, que até incluía uma esquimó, comprada em Anchorage. E outra adquirida em Tóquio. E mais outra no Iraque. E na Casa do Pai Natal, na Finlândia. E duas junto ao Uluru, o maior monolito do Mundo, ainda era a Ayers Rock, plantado na Austrália. E por aí fora.
Ainda temos umas quantas nas diversas vitrinas que abundam cá por casa. E onde avulta uma outra colecção, esta de presépios, cuja última contagem «a sério» dava a bonita conta de 678...
Mas, o grosso da coluna das bonecas foi doada solenemente à nossa neta Madalena, a única menina, pois os outros quatro são machões.
A minha filha/nora Veva ameaçou, então, ostracizar-se na Patagónia, pois não tinha espaço vital (salvo seja, nada de hitlerismos) para tal quantidade.
Donde, estarem hoje em caixas e caixas de cartão, à espera que saia o euromilhões aos extremosos pais. Só para poderem arranjar casa onde exponham a ditosa colecção. Livra! Do que eu me... livrei.
Henriquamigo:
Também eu onde quer que vá, tenho que comprar uma boneca. Em Paris, mais própriamente no "Marché aux Puces" de Saint Ouen, comprei duas que adoro. Tirando a Alda Hermínia, são as "Jóias da Corôa". Depois há uma "Noiva de Viana", "Uma Madeirense", duas "Tomrenses" da Festa dos Tabuleiros, com os repectvos tabuleiros, uma espanhola, uma Florentina, de várias regiões portuguesas. Quando fui aos Açores, vi uma vestida à maneira com capote e tudo. A loja estava fechada e não a comprei, mas ainda hoje espero ter uma.
Achei graça a Raquel ter a mesma "mania" que eu. As minhas serão todas, um dia para a minha neta. Agora não. Gosto de as ver, de lembrar onde e como as comprei ou mas deram. Mulheres! Quem as entende? Eu vejo uma boneca e volto a ter 6 anos.
Abraço do João, beijinhos à minha amiga colecionadora de bonecas e Queijinhos para ti.
Caro Osvaldo:
Não há dinheiro que compre o amor e eu amo aquela "menina". Além de que a dona é a minha neta, embora ela esteja comigo.
Podiam dar-me todo o ouro do mundo que não a dava. É o que me resta da minha avó, um dos meus grandes amores. Até o cabelo cortei para lhe dar.
Beijinhos para a Anita e para ti e um abraço do João
Maria, as minhas bonecas já foram todas às urtigas, as ultimas aind ana minha mãe, pertença da neide, mas, eram as duas de espanha da silhas canárias que comprei quando tinha 16 anos e fomos lá em passeio vindos de Angola no Principe Perfeito, atracamos no Funchal, fomos às ilhas antes de virmos para cá... fiz-lhes os fatinhos delas e que giras estavam, mas, nem guardei nada disso, tenho cartas guardadas de familiares e de amigos, mas, mais nada...
Bonita a tua nequinha e todo o amor que pões nela..beijinhos meus, laura..
Laurinha:
A minha boneca ainda vai cá ficar depois de eu ir embora. Nessa altura ficará a minha neta com ela.
Gosto muito de bonecas e agora tenho muitas. Umas dadas, as outras compradas. Tenho algumas muito bonitas. As que tive em pequena, foram-se todas. Tanto gostava delas, que as matava com tanto amor.
Hoje é dia de "santa limpeza", estou cansada e com as dores de cabeça que não se vão embora. Ando nervosa, cheia de dores na cabeça. Até tenho medo de ir ao médico. Os comprimidos já não fazem nada. Acordo de noite com elas e não me largam. Acho que o remédio é cortá-la. Assim nem ela nem mais nada me dói.
A Nemy escreveu-me ontem do Algarve, onde está de férias. Pergunta por ti e manda beijinhos.
Beijinhos meus para ti, minha flor de linho. Vou ver se descanso a cabeça um bocadinho.
Olá Tia Maria!
É bem gira a tua Alda Hermínia, também gosto de bonequinhas.
Tenho muitas, algumas eram da Mãe :)
Deixo-te muitos beijinhos dos 4 e um abraço especial do Martim que está acampado no jardim da avó, como diz o avô, está a tomar conta das lagartixas!
Mariana
Querida Mariana:
Eu adoro bonecas. Tenho muitas, algumas de coleção, outras que fui trazendo de alguns lugares onde fui.
Esta é especial. Era da minha avó e já é da minha neta.
Então agora o Martim é "Guardador de Lagartixas"?
Que tal as vossas notas? Espero que tudo tenha corrido bem.
Beijinhos para os 4 da vossa tia Maria que pensa sempre em vocês.
Maria, não tens d emudar a cabeça e sim de médico, deve ser esse o remédio...
Não tenho vindo dar-te o cházinho, ontem foi o que se viu...claro que não me convenço que o primeiro comentário foi na brincadeira, porque se referia a coisas sérias e vai daí..há algo por trás que nem poso adivinhar, mas posso deduzir que anda ali gato, mas com todos aqueles tarecos apresentados, já não dá para ver mais nada..
Beijinhos, tem lá calma e vai a outro médico ver o que serão essas dores e pode ser da vesicula tens de papar coisas mais saudáveis...Laura..
Laurinha:
Também estou convencida que há qualquer coisa. Por isso te mandei o Email.
O melhor é deixar correr e não dizer mais nada. Ele já foi à Soledade.
Foi bem educado, mas não tarda está a infernizar-nos a todas.
Pode ser brincadeira de putos.
Beijinhos
Maria, minha amiga,
Deixas-me preocupada. Se não estás bem por favor procura um bom médico e cuida de ti.
Sem saúde, não há boa disposição; as dores de cabeça são do piorio. Raramente as tenho, mas quando acontecem nem consigo pensar. E olha que eu tenho muita resistência à dor. Mas as de cabeça, valha-me Deus...
As meninas estão bem, desejam rápidas melhoras e mandam.te beijinhos.
Fica bem. Beijinhos de saudades
Nemy
Laurinha,
Anteontem deixei-te um comentário na mensagem anterior da Maria.
És uma boa conselheira e uma terna amiga.
Acho que a nossa Maria não dispensa o teu cházinho à noite.
Um dia juntar-nos-emos as três para um cházinho menos virtual.
Bejinhos
Nemy
Nemy querida:
Não estejas preocupada. Estas dores de cabeça são minhas velhas companheiras. Andam comigo desde miúda. Quando ando mais nervosa, vêm fazer-me compamhia.
Já estou farta de fazer exames e está tudo bem.
Moem, mas não matam.
Os pensamentos a cem por minuto, é que as pioram.
De manhã, quase não as sinto, depois começam a moer. As benditas festas da nossa bela cidade, não têm ajuudado nada. É barulho todo o dia.
Mandei-te um Email há pouco, por causa do postal, que muito te agradeço. Lá digo o resto.
Beijinhos
Amiga, não consegui mais nada.Meu marido conhece um rapaz de lá mas é polícia na Madalena.Também não tenho indo por aqueles lados, o fim de semana se estiver bom, irei fazer churrasco por lá perto e vejo o que consigo.Também não quero dar nas vistas (o que as pessoas irão pensar)quando encontrar pode ter a certeza que darei o recado.Quem sabe um dia não aparece aqui "no blog".Bonecas, nunca tive, nem um peluxe, nada, agora as minhas filhas tem algumas, não de porcelana mas sempre gostaram delas, estão lá pelo quarto, algumas sentadas, outras ainda nas caixas.Sabe, aqui à uns anos, não sei bem quantos, minha mãe depois de uma fase não muito boa(tinha andado a fazer quimioterapia), estava aqui em casa comigo e disse-me, nunca tiveste boneca nenhuma, mas aquilo que não te poderam dar, está aqui pelos quartos das minhas netas.Logo de seguida diz-me, ainda um dia heide comprar um peluxe enorme para por em cima da minha cama.A minha mãe também não tinha tido bonecas nem peluxes, mas ainda tinha vontade de ter um.Poucos dias depois fui lá a casa e levei o maior que encontrei.O meu irmão tem a mania de lhe dizer, que é o amigo dela, pois é enorme mesmo.Um beijo grande Maria
ps Cuidado com as dores de cabeça, por aqui tenho de usar um medicamento para controlar essas malditas enxaquecas
Salomé:
Por Email eu digo-te mais.
As dores de cabeça são de origem nervosa. Tinha um medicamento com que me dava bem, mas vim a saber que ele é perigoso. Agora só tomo quando estou muito aflita.
Coitadinha da tua mãe, agora tem o peluche para lhe alegrar os dias.
Hoje à noite vou aos fados com o meu marido e o meu filho mais novo.
Vamos a ver se a cabeça não doi.
Beijinhos, amiga.
Até logo
Dor de cabeça tenho-a eu depois de estar ao sol horas no Porto, mas, valeu a pena..beijinhos.
Laurinha:
Ontem andei fugida. Fui para os fados. Cheguei a casa às 3 horas.
Foi muito giro. Os fadistas eram bons e eu já estava cheia de saudades de ouvir o fado ao vivo.
Hoje estou meia zonza Falta de hábito de andar na farra. Mas soube-me bem.
E tu ainda tens dores de cabeça?
Espero que não.
A minha cabeça acho que hoje não vai moer-me muita. Tenho é sono.
Beijinhos e até logo.
Pois é, Maria essa Alda Hermínia é mesmo um tesouro. Fazes bem em conservá-la para a eternidade, esperemos que com ela brinquem as bisnetas da tua neta, acariciando, a momentos, o teu cabelo de menina.
Nesse corpo de pelica vive uma alma que de longe vem e eterna será também. Com sorte fará a ponte entre a dona do seu nome, a do seu cabelo e todas as donas das carícias que lhe serão acrescentadas no tempo a vir....
Beijinho
Antonior:
Tens toda a razão. A boneca será a ponte que ligará gerações. Terá sempre o nome da minha avó, o meu cabelo de menina, o amor que todas as outras lhe darão. Tenho outro objecto, um medalhão que pertenceu ao meu avô materno, com as iniciais dele por fora, feitas com diamantes pequeninos. Começa por um A. Assim tem passado de mão em mão, pelos descendentes que têm um A no nome. Passou dele, António, para a minha tia, Águeda como eu, daí para minha tia Amélia, depois para mim e será para a minha neta Ana. Com ele irá mais uma tradição familiar e quem sabe, algo da alma de quem o possuíu.
Como vês, o que não falta são elos. Elos de uma cadeia, que muita gente não aceita, mas para mim são sagrados.
E há mais, amigo. Um dia conto.
Beijinho.
Que reliquia ter uma boneca assim... o que amamos...estimamos!
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