quarta-feira, 28 de julho de 2010

São Domingos


Este tempo de calor, que tanto fogo tem espalhado pelo nosso já tão devastado país trouxe-me à ideia à Igreja mais bonita que vi em Lisboa, em 1957.
Situada em plena Baixa Lisboeta, junto ao Rossio, a Igreja de São Domingos, fazia parte do Convento do mesmo nome. A primitiva começou a ser construída em 1241. Era medieval, mas ao longo dos anos foi recebendo obras que a foram modificando. A Capela Mor esteve em obras em 1748. Talvez por isso foi a única parte da Igreja que não ruiu em 1755. Foi depois reconstruída, com traça de João Ludovice, arquitecto de Mafra, executado por Manuel Caetano de Sousa.
O Portal e a sacada que o encima vieram da Capela Real do Paço da Ribeira. Tinha muitos e belos altares de talha dourada, Imagens e quadros valiosos, pedras em mármore de várias cores. O seu traçado era barroco, em forma de cruz latina, com alguns elementos maneiristas que ainda se podem ver na sacristia e nos túmulos da cripta, como belos azulejos em ponta de diamante.
Lá casaram D. Carlos e D. Amélia no século XIX.
Fiquei deslumbrada com a beleza desta Igreja. Um dia em 1959, o meu irmão que ma tinha mostrado e sabia como ficara impressionada, deu-me a triste notícia de que a Igreja tinha ardido.
Nunca mais lá passei. Quero guardar a imagem da Igreja linda, onde imaginara um príncipe e uma linda princesa, subirem aquela Nave imensa e dourada, para se casarem e “serem felizes para sempre”. Não foram e a Igreja ardeu.
Em 1994 fizeram umas tristes obras, tapando o telhado, limpando os mármores, deixando as colunas de pedra escurecidas e partidas pelo fogo. Isto ouvi dizer. Como já disse, não entro mais lá. Prefiro guardá-la na memória, bela e cheia de dignidade, junto com outras coisas que amei e perdi.
Até um dia destes.

18 comentários:

Verdinha disse...

Querida Maria,

Para mim todas as igrejas são bonitas porque são a casa do meu Pai.
Nesta igreja cantei com o meu coro no dia 13 de Outubro de 2008 no nosso Iº Ciclo de Música Sacra (em Outubro próximo, vamos começar o nosso 3º Cíclo).
Se te lembrares do link do blog do coro, poderás ver que a parte do altar ainda está linda.
Beijinhos
Verdinha

Laura disse...

Realmente, se tudo fosse reconstruido como era...mas sempre foram forretas e desviavam o dinheiro que devia ser gasto em obras, ma sonde é que já vimos isso?

Gostei de visitar a Igreja descrita pelo teu olhar, parece que estava a seguir-te pela Nave e a escutar-te...em 1957 foi quando eu deixei de ouvir, tinha seis anos.
Um beijinho a ti, laura

Osvaldo disse...

Querida Maria;

Estou fascinado com teus relatos sobre o roteiro histórico e religioso da nossa Lisboa. Começo finalmente a conhecer esta cidade que eu desconhecia e o roteiro é simplesmente fantástico.
Quer sejamos crentes ou não, a verdade é que os monumentos erigidos pelos nossos antepassados em função da religião de todo um povo, restam como monumentos da memória e seria pena que esta memória se perdesse.

Continua, Maria, com este roteiro que merece mais que um blog e quem sabe um livro sobre estas maravilhas históricas do nosso povo e da bela Lisboa.

bjs, e abraços aos homens da casa.
da Anita e Osvaldo.

Ps. Vou mandar-te um mail.

Maria disse...

Querida Verdinha
As igrejas para mim são locais onde me sinto bem. Há uma paz muito grande, um silêncio que nos deixa pensar ou rezar, como quizeres. Como monumentos, habituei-me com meu Pai a conhecê-las. Quando chegávamos a uma terra, eram sempre as primeiras visitas: Igrejas e Castelos. Aqui em Lisboa conheci-as quase todas pela mão do meu irmão que, ele sim, conhece Lisboa como a palma da mão.
É por isso que as descrevo como as vi aos 11 anos. Com olhos de criança encantada que só vê beleza onde ela está.
A sabedoria é pouca.
São Domingos será sempre para mim, a Igreja linda e dourada, onde um príncipe e uma princesa casaram.
Beijinhos
Maria

Maria disse...

Minha Laurinha
1957 foi um ano mau para as duas. Tu perdeste o ouvido, eu saí da minha Tomar querida para sempre. Fiquei triste, muito triste. Acho que nesse ano perdi parte da minha alma.
Tu, em boa hora estás bem. Eu vou matando saudades de Tomar em pequenas visitas e aqui falando dela.
Beijinho nina Flor de linho.
Maria

Maria disse...

Osvaldo
Eu apenas conheço Lisboa muito superficialmente. Aconselho-te a ler os livros de Appio Sottomaior, "Poço da Cidade", Lisboa de Santo António", "Lisboa d`outros Tempos" e outros, de Marina Tavares Dias e outros olissipólogos, que esses sim, sabem tudo. Eu sou uma formiga ao pé deles. Só escrevo o que vi, já há muitos anos.
Fico à espera do teu Email.
Abraços do João, beijinhos para a Anita e para ti.
Maria

Unknown disse...

Mariamiga

Nãon sou um ulissipólogo (pode ser grafado com o)- longe disso - mas sou ulissiponense (igualmente como no parênteses anterior), da colheita de 1941, Maternidade Bensaúde. Gosto da minha Lisboa e, por incrível que pareça, gosto mais dela quando estou fora. Nomeadamente na estranja, onde como tu sabes tenho andado por Franças e Araganças.

Obviamente, entre a livralhada, bastante, que tenho cá em casa, há uma série de coisas, desde o Ferrão aé ao Áppio, passando naturalmente, pela Marina, sobre esta cidade das sete colinas, que aliás, são mais e já foram menos...

Ora muito bem. A citação referente às sete colinas aparece pela primeira vez no Livro das Grandezas de Lisboa, de Frei Nicolau de Oliveira no século XVII: «as sete colinas sobre as quais estava assente Lisboa: Castelo, São Vicente, São Roque, Santo André, Santa Catarina, Chagas e Sant'Ana».

O frade aproveitava a deixa da outra urbe das sete colinas, Roma e não queria que Lisboa lhe ficasse atrás.

Das igrejas de Lisboa, algumas gosto. A de São Domingos era realmente muito bonita e está um quase farrapo. Assisti ao incêndio que a consumiu, tinha 18 aninhos e já rabiscava umas linhas para o Diário Ilustrado. E foi impressionante. Comparável ao do Chiado, ainda que com dimensões diferentes. E aí já era o chefe da Redacção do DN.

Continuas, por conseguinte, a dar cabo da minha pobre moleirinha, por mor das recordações. O que te agradeço uma vez mais. Lisboa merece-o, e, coitada, cada vez é mais maltratada...

Homabs & qjs para tu

Maria disse...

Henriquamigo
Claro que amas Lisboa! Quem a não ama? Só alguns tripeiros empedernidos e bairristas.
Dizes que te dou cabo da moleirinha com as recordações. Recordar é bom, amigo. Às vezes ficamos tristes, magoados com elas, mas outras vezes fazem-nos pensar que valeu a pena viver.
A história das colinas varia mesmo. Os diversos sismos fizeram algumas modificações na cidade.
Lembro-me quando foi o sismo no Pico, Faial e São Jorge há uns anos, que quando de manhã voltei a olhar o Faial, uma das pontas da Ilha tinha desaparecido. Estava no Pico nessa altura.
Abraços dos machos, beijinhos para a Raquel e uma fatia de queijo de Castelo Branco, que cheira mal, mas é delicioso.
Maria

Zé do Cão disse...

O Sonho comanda a Vida.

Recordo esse incêndio bem como do teatro nacional.

Tudo arde e os nossos corações sentem-se mais pobres.
E o nosso Portugal amputado

Jinhos, querida amiga

Maria disse...

Zé amigo
O fogo é um bem e um mal terrível.
Aquece, faz comida aos pobres, mas destrói, come tudo por onde passa.
O D. Maria foi reconstruído, o Chiado voltou, mas a minha Igreja está uma sombra do que era. Não gosto de sombras, fazem-me mal. Daí, não ter entrado mais lá. As fotos que vi, chegam bem para avaliar o estado em que ficou.
O país arde, os campos e florestas ficam vasios. Do "Jardim à Beira-mar plantado" já pouco resta.
Beijo
Maria

Kim disse...

Petite Marie!
Eu adoro as igrejas ... vazias.
Aí sinto algo que não tem explicação. O mesmo já não acontece quando elas estão repletas.
Nas localidades por onde passo não resito e entro em quase todas as igrejas.
Em Roma perdi-me nelas, pois apenas lá existem 995 igrejas.
Podes voltar a S.Domingos porque ainda está bonita, na sua solidão.
Beijinho amiga

Maria disse...

Kim amigo
Eu gosto também de igrejas vazias.
Há uma paz tão grande!
Em Itália, por todas as cidades que passei, vi as Igrejas que consegui. Em Paris o mesmo. Aqui em Portugal conheço muitas. Até na Galiza espiolhei algumas.
Gosto de grandes catedrais, de pequenas capelas, só não gosto das Igrejas modernas que mais parecem armazens. Havia em Arroios uma Igreja dedicada a São Jorge, que eu adorava. Além de muito bonita, foi lá que os meus Pais casaram. Deitaram-na abaixo e fizeram uma caixa de cimento que parece tudo menos uma Igreja.
Beijinho
Maria

Alva disse...

Maria,

Sempre senti uma paz especial dentro das Igrejas... é como se andasse perdida e pudesse finalmente, lá dentro, me encontrar!

As Igrejas para mim também representam bons sítios para entender a forma de construção na sua época... não seria eu uma "apaixonada" por Arqueologia e História.
Ainda hei de viver do modo que gosto: com uma picareta na mão descobrindo artefactos que foram deixados/esquecidos no Tempo!

Enfim... Sonhadora já o sou!

Muitos beijinhos para ti,
Da tua pequenina que está a aprender a libertar as asas para voar...

Maria disse...

Pequenina
Com o meu Pai aprendi a reconhecer siglas, uma espécie de assinatura que os pedreiros esculpiam na pedra. Conhecia muitas. Hoje já não me devo lembrar. Se olhares bem cada pedra tem um sinal. Esse sinal só pertencia a um homem.
Era assim que às vezes descobriamos mais ou menos a época do monumento.
Deixa as asas abrir, querida, mas não as percas nunca. As minhas já quase sem penas, ainda cá estão e ajudam muito. Sonha! Sonhar é bom.
Beijinhos minha pequenina querida.
Maria

Laura disse...

Maria, aproveita as manhãs fresquinhas para as visitas, ai que o calor te faz ficar no ninho à fresca...Um beijinho da flor de linho...laura

Andre Moa disse...

CARA MARIA

Ainda esta manhã visitei a igreja do castelo de Sesimbra,muito rica em azulejaria, depois de ter dado a volta pelas ameias com o meu neto que adorou o passeio. "Nunca vi uma coisa destas" - disse ele às tantas, fascinado. Se não visitarmos igrejas e palácios, pouco há que ver de artístico. A nobreza e o clero tinham o monopólio do saber e o dinheiro para o aumentar e usavam-no quase exclusivamente em proveito próprio. Só agora, pouco a pouco, as coisas estão a querer mudar, embora muito lentamente. Só conheci a igreja de São Domingos devorada pelas chamas. Como não tenho termo de comparação, achei piada àquelas colunas chagadas, esturricadas.
Obrigado por mais este passeio pela tua Lisboa, mais bonita que nenhuma outra.
Beijinhos
André Moa

Laura disse...

Olá querida Maria, também deves andar no passeio a arejar a cabecinha...

Que engraçado o Moa ver essa Igreja de que falas, até o nino gostou do passeio e da História. Acredito que este avô será como o meu pai, a querer mostrar tudo aos netos e a ensinar-lhes...

Um xi apertadinho a ti, João e Corvo, da laura

Je Vois La Vie en Vert disse...

Olá Maria,

Isto é que são férias mesmo !
Aproveita bem e regressa em grande forma para um encontro de amizade.

Beijinhos da
Verdinha