quinta-feira, 12 de março de 2009

A minha boneca mais bonita




Sempre gostei de bonecas. No meu tempo não havia Barbies, felizmente. Havia bonecas de trapo, de cartão, de celulóide.
Tive algumas e amava-as a todas. Tratava-as, como via a minha mãe tratar-nos. Falava com elas, levantava-as de manhã, deitava-as à noite, dava-lhes de comer. Houve uma, feita de pano, com cara de borracha, olhos e boca pintados e tranças loiras de lã. Chamava-se Carolina Augusta e, o meu excesso de amor custou-lhe a vida, a ela e, muitas lágrimas de desgosto a mim. Aquela boca vermelha, fechada preocupava-me, pois não podia dar-lhe de comer. Expliquei-lhe que a “mãe”, tinha que lhe fazer um corte na boca, mas que era para bem dela. Desinfectei uma tesoura, passei um algodão com álcool na boca da Carolina e, com lágrimas nos olhos, fiz um golpe mais ou menos simétrico. Foi trágico. O álcool diluiu a tinta vermelha e escorria como sangue. Limpei bem, deitei-a na cama uns dias e... passei a alimentá-la mesmo. Isto é: metia para dentro da boca da infeliz, tudo o que me parecia bom para ela, incluindo as vitaminas que eu tomava, “Tonosol”. Claro está, que a boneca começou a ter um hálito horrível. A minha mãe descobriu e ainda teve paciência umas vezes, para tirar a comida podre da cara da boneca. Um dia, aproveitando uma mudança de casa, a Carolina desapareceu. Chorei dias e noites a fio.
Tive mais bonecas, cresci e já pensava em filhos, muitos filhos. Mas o sonho dourado era ter uma menina. Uma boneca de carne e osso, que comesse, bebesse, fizesse xixi, me chamasse mãe e vestisse vestidinhos lindos, tivesse cabelos para eu pentear.
O meu primeiro filho foi um rapaz. Não fiquei desiludida. Era lindo e toda a família queria um menino. E eu sabia, que a menina viria.
Chegou, faz hoje anos, ainda o irmão não tinha um ano. Quando a parteira me disse: é uma menina, a minha resposta foi: já sabia.
Enfim tinha a boneca dos meus sonhos. Mais linda, do que alguma vez sonhara. Tinha dois bonecos vivos, perfeitos, espertos. Mas dele, falo para a semana. Hoje o dia é dela. Era grande, com umas enormes pestanas, um nariz pequenino, uma boca que parecia desenhada a pincel e cabelinhos ondulados. Começou a falar e a andar, muito cedo. A primeira coisa que disse foi: “papa, man, papa”.
Fiz-lhe os vestidos que sonhara para ela. Alguns à mão. As avós, encantadas com a minha boneca, também fizeram alguns.
Foram anos muito bons. Depois a minha linda boneca, transformou-se numa linda rapariga e, teve também ela, uma boneca linda.
Estamos longe, minha filha. Separadas pela vida, juntas pelo amor que sinto por ti, que é muito maior do que o que tinha pelas bonecas.
Nunca vou esquecer, aquele dia, em que te puseram nos meus braços e me disseram: é uma menina.
Daqui de longe, no meu cantinho, hoje às 20 horas e 20 minutos, fecho os olhos e vou ouvir de novo: “é uma menina”.
Parabéns minha boneca de um dia, minha filha querida, espero que passes um dia feliz. E se puderes e te lembrares, às 20-20, pensa um bocadinho na tua mãe.
Até um dia destes.

11 comentários:

Carla D'elvas disse...

Parabéns :)
Um beijinho, grande, para a tua filhota linda, para ti, para o papá, maninhos e netos!
Adorei a foto :)

Maria disse...

Carlinha:
Obrigada.
Quem me dera estar hoje com a minha (as minhas bonecas)!
Estão longe e, eu tenho saudades da filha e da neta.
Todos eles retribuem o beijinho.
Eu, mãe desta e mais dois bonecos lindos, avó de mais dois, envio-te um grande abraço e beijinhos para os 4

Carla D'elvas disse...

A mãe, dos bonecos, daqui... deixa-te um beijinho ternurento :)
O cheiro a bebé, lembrei-me agora, ai... que saudades!

Anónimo disse...

Maria,
Beijinho de parabéns para as duas, e não só...
Saudades
Nemy

Maria disse...

Nemy
Obrigada por mim e por ela.
Beijinho amigo para ti.

Anónimo disse...

Lembrei-me de ti mãe,às 20:20 e a outras horas como todos os dias, sem hora marcada. Estamos longe mas normalmente estou longe de tudo o que gosto. Não é por mal, penso que tenho o toque de Midas mas, ao contrário.Obrigado pelos parabéns de todos, mesmo que não os conheça.
Bejinhos a ti e ao pai

Maria disse...

Minha filhinha
O pai e eu, hoje só falámos em vocês todos. Lembranças de vocês pequeninos, saudades de muitas coisas que fizemos juntos.
Cascais, Tomar, Albufeira, Lagos, tempo de férias, coisas na nossa casa, hoje tão vazia sem vocês.
A vida é assim. Os passarinhos também um dia saem do ninho dos pais.
Acima de tudo, queria saber-vos todos felizes.
A distância não mata o amor e, nós gostamos muito de todos.
Espero que o jantar estivesse bom.
Beijinhos do pai e meus, para vocês

Kim disse...

Parabéns à tua boneca de carne e osso.
São estes filhos que te alimentam a saudade de os voltar a ter nos braços. Fica esse gesto para os netos.
Beijinhos Petite Marie

Maria disse...

Kim:
Os netos já começam a estar grandes.
Só me resta esperar, que o Vasco me dê um pequenino, ou então esperar os bisnetos, para voltar a sentir o cheiro a bebé de que a Carla fala, que é o cheiro mais doce do mundo.
Beijinho

Anónimo disse...

Já à espera dos bisnetos? Ainda faltam alguns anitos para eu ou a minha mana sermos avôs :). Mas eu já sou tio-avô, hihi já tenho uma sobrinha-neta. Isso já faz de ti uma tia-bisavó(parece-me que já estou a inventar parentescos)!
Beijinhos,
João

Maria disse...

Por acaso gostava de lá chegar, como também gostava de ter um neto do Vasco, para ficar o trio completo.
Quanto a ser bisavó por afinidade, nada a opor.
Tenho sobrinhos emprestados, também posso ter bisnetos emprestados.
Se te queres rir um bocado, vê o blog do Corvo. Puxou-me pela língua. Agora sempre quero ver como se desenrasca.
Beijos para os 3 da mãe e avó