domingo, 15 de março de 2009

Papoilas


A Primavera está a chegar com um certo ar de Verão antecipado.
Tenho preguiça para pensar, para escrever, para tudo. Por isso fui pedir emprestado um poema a Cesáreo Verde, para contar o efeito que as papoilas podem ter.
Este poeta, infelizmente cada vez mais esquecido, merecia melhor vida e menos esquecimento. Hoje, ao ver esta foto de um campo de papoilas no Alentejo, lembrei-me dele. Por isso...

De tarde

Naquele pique-nique de burguesas
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos
E pão-de-ló molhado em Malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas.

Cesário Verde

E assim vos deixo por hoje, com um belo campo e um belo poema.

Até um dia destes.

16 comentários:

Anónimo disse...

Querida Maria,
São lindas as papoulas; e efémeras. É a natureza a recordar-nos que tudo é transitório e passageiro... e que deveríamos apreciar e usufruir plenamente de cada momento que nos é proporcionado.
Lindo também o poema de Cesário Verde.
Obrigada pelo momento.
Beijo amigo
Nemy

Maria disse...

Nemy:
Quando era miúda, em Tomar, havia muitas papoilas, assim como havia o hábito de no "Dia da espiga" irmos em grupos, apanhá-la. A minha mãe ensinou-me a fazer com as papoilas, umas bailarinas. Com muito cuidado, viravam-se as pétalas para baixo, atava-se um fio no meio delas e, com as cabecinhas negras de fora, pareciam mesmo bonecas. Durante pouco tempo eram um encanto. Depois, era a desilusão: pétalas para um lado, cabecinha para o outro, lá se iam as bailarinas. Acho que só dançavam "A morte do Cisne, tão pouco tempo duravam, mas enquanto duravam era uma alegria.
Beijo muito amigo.

Vasco disse...

Ainda hoje, ao passar numa parte de descampado perto de casa, ao ver espigas, malmequeres e outras flores, pensei: "se soubesse fazer a espiga, vinha aqui apanhar as espigas". Como não sei, tenho de as comprar!

Maria disse...

Olha Corvo, faz assim:
Vou-te ensinar a maneira
De um belo ramo fazer.
Corta uma espiga de trigo,
Um raminho de alecrim,
Junta-lhe outro de oliveira,
Depois com um gesto amigo
Aproxima-te das flores;
E colhe algumas papoilas,
Margaridas, malmequeres.
Assim começam amores
Com uma bela moçoila.
Não te esqueças de atar
Com uma erva bem forte.
Parece que dá mais sorte.
Não custa nada tentar.

Beijo
Mãe

Carla D'elvas disse...

Querida Maria:


A papoila... partilha o cetim das pétalas e na mão amada morre...


e pode haver melhor local para se morrer?

(rendo-me. sempre. ás papoilas.)

Beijo :)

Maria disse...

Obrigada, Carlinha.
Eu adoro-as.
Beijos para os 4

Kim disse...

Poderia ser um Van Gogh a lembrar a beleza dos Países Baixos.
A papoila também é uma flor!
Beijinhos Petite Marie

Maria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria disse...

Kim:
Não é Van Gogh, é Costa. Foi tirada no Alentejo à cerca de um ano.
Claro que são "Flores" senhor. Estas são belas e inofensivas, mas têm irmãs, que são perigosas, pois delas extraem o ópio.
Já houve (há?) dessas cá. No "Frei Luís de Sousa, a infeliz Maria, só dormia, com um ramo de papoilas dormideiras, que o Aio, Telmo Pais, lhe punha debaixo do cabeçal.
Às vezes davam-me jeito. Mas há sempre um Xanax que dá no mesmo.
Beijo.

Anónimo disse...

Mae

O ano passado apanhei a espiga com os meninos da escolinha e aprendi os significados para lhes ensinar.
A espiga, e tradicionalmente é o trigo, significa o pão, o ramo de oliveira a paz ( porque a pomba da paz o carrega no bico) e o calor por causa do azeite. o malmequer o ouro e prata, a papoila a vida e amor, (côr de sangue), alecrim saúde e força. Depois também lhes fiz uma boneca com a papoila. Quando tem os estames compridos parece uma rainha.

Beijinhos

Luxa

Maria disse...

Filha

Era muito giro ir apanhar a espiga.
Quando tu e o João eram pequeninos, fomos algumas vezes, apanhá-la para o lado dos moínhos.
Ainda lá chegámos a ir com a avó Milaide.
Ainda te lembras, filha?
Beijos para os 3
Mãe

Anónimo disse...

Mãe

Não me lembro de apanhar a espiga mas, lembro-me de apanhar flores (seria a espiga?). Uma vez até apareceu uma cabra e comeu o ramo que o mano tinha na mão...é o que me lembro, se calhar estou baralhada, esqueço-me de tudo, um dia destes ainda me esqueço de mim.
beijinhos

Maria disse...

Filha
Não estás nada esquecida. A história da cabra (que era um bode) foi como contas. Nesse dia não era a espiga mas, malmequeres amarelos e brancos.
Foi uma cena muito gira!
Beijos
Mãe

Anónimo disse...

Mãe

É engraçado isto do blogue, podemos dizer coisas. Ao telefone fala-se do vento, do frio, da preguiça da neta, etc.
Aqui é uma espécie de conversa de serão. Parabéns ao melhor pai que me podias ter escolhido e ao mano das brincadeiras e chapadas. O outro é o mano filho... como sou esquecida e baralhada, ás vezes confundo recordações do vasco bébé com a Xana bébé. Cada pessoa tem um lugar esclusivo e não sou capaz de escrever nem falar como tu. Então não lhes digo as coisas mais importantes ou não me faço entender, fica muito por dizer, arrumado em gavetas. A ti mãe, conheço-te melhor desde o blogue,... ou não, és uma pessoa complexa, acho eu. Eu sou um bicho. Portanto "talvez um dia a gente se encontre", como diz não sei quem; senão ficas a saber aqui diante de toda a gente que tem internet que gosto muito de ti.

Beijinhos a todos

Luxa

Maria disse...

Filha:

Um dia vais perceber, que somos mais parecidas do que pensas.
Ser "complexa" ou "bicho" vai dar ao mesmo. Também eu tenho tudo metido em gavetas e, aos 64 anos, ainda há muitas que estão por abrir. Às vezes chega a ser doloroso querer dizer certas coisas e não conseguir. Sou (somos) pouco expansivas por natureza e isso não ajuda nada. Eu falo muito, à primeira vista pareço muito extrovertida e, no fim, sou uma pessoa cheia de "segredos" e "mistérios".
Nós encontrámo-nos no dia que soube que ias nascer, mas o "encontro total", creio que está próximo. Esse será um dia muito feliz para mim.
Como não me importo que todo o mundo fique a saber, digo-te mesmo aqui, que te amo muito. Como diz a Xana, "amo-te até ao céu"
Beijos da
Mãe