
Lembrei-me hoje, que no dia um de Novembro, em casa dos meus pais se comiam as primeiras castanhas assadas, ou cozidas com erva doce. Era dia de Pão por Deus. A campainha da porta tocava o dia todo. Eram os meninos a pedir o Pão por Deus. Nós não sabíamos o que era “o dia das bruxas”, não gastávamos dinheiro em mascaradas, não éramos “civilizados”. Bastava-nos um saquitel de pano, ou um pequeno cesto e ala moços e moças que se faz tarde, lá íamos bater às portas amigas e conhecidas, levantar o nosso quinhão. Era marmelada, frutos secos, bolinhos, rebuçados e castanhas. Voltávamos à noitinha, cansados e contentes.
Os que nos batiam à porta, também iam bem servidos. Eram dias de festa, sem grandes gastos.
Mas falando em castanhas, as lembranças vão para Lisboa, para o Rossio, a Rua do Carmo, o Chiado. Nas nossas andanças por essas paragens, eu e a minha prima, a minha Margarida, habituámo-nos a sentir o cheiro da Lisboa Outonal. Cheirava a castanha assada e violetas, duas coisas que ambas adorávamos.
Três raminhos de violetas, um em cada casaco, o terceiro para levar à avózinha, uma dúzia de castanhas, embrulhadas em papel de jornal e, felizes como passarinhos livres, subíamos e descíamos o Chiado, empoleiradas em saltos de agulha, olhando as montras lindas e sonhando um dia, comprar aquelas roupas, as jóias, os perfumes. Eram tardes felizes. Quando conseguíamos ter algum dinheiro, entrávamos na Bénard ou na Versailles, pedíamos um chá e duas chávenas e uma torrada douradinha, que se derretia na boca. Esses, eram os dias de luxo. Os outros, os das castanhas, também eram bons. Cada uma pegava no cartucho à vez, para aquecermos as mãos mal protegidas pelas luvas. Ficávamos quentinhas, consoladas. O passeio acabava à noitinha, voltávamos a casa e a avózinha nem ralhava, porque lhe levávamos violetas, a sua flor querida.
Agora, as castanhas são poucas, caras, metidas em sacos de plástico e das violeteiras, nem sombra. Ficou tudo no passado. A avózinha, a minha Margarida, a juventude. Só ficaram alguns sonhos de que não abro mão. Quais? Não digo, são sonhos meus.
Até um dia destes e façam o favor de ser felizes.
Os que nos batiam à porta, também iam bem servidos. Eram dias de festa, sem grandes gastos.
Mas falando em castanhas, as lembranças vão para Lisboa, para o Rossio, a Rua do Carmo, o Chiado. Nas nossas andanças por essas paragens, eu e a minha prima, a minha Margarida, habituámo-nos a sentir o cheiro da Lisboa Outonal. Cheirava a castanha assada e violetas, duas coisas que ambas adorávamos.
Três raminhos de violetas, um em cada casaco, o terceiro para levar à avózinha, uma dúzia de castanhas, embrulhadas em papel de jornal e, felizes como passarinhos livres, subíamos e descíamos o Chiado, empoleiradas em saltos de agulha, olhando as montras lindas e sonhando um dia, comprar aquelas roupas, as jóias, os perfumes. Eram tardes felizes. Quando conseguíamos ter algum dinheiro, entrávamos na Bénard ou na Versailles, pedíamos um chá e duas chávenas e uma torrada douradinha, que se derretia na boca. Esses, eram os dias de luxo. Os outros, os das castanhas, também eram bons. Cada uma pegava no cartucho à vez, para aquecermos as mãos mal protegidas pelas luvas. Ficávamos quentinhas, consoladas. O passeio acabava à noitinha, voltávamos a casa e a avózinha nem ralhava, porque lhe levávamos violetas, a sua flor querida.
Agora, as castanhas são poucas, caras, metidas em sacos de plástico e das violeteiras, nem sombra. Ficou tudo no passado. A avózinha, a minha Margarida, a juventude. Só ficaram alguns sonhos de que não abro mão. Quais? Não digo, são sonhos meus.
Até um dia destes e façam o favor de ser felizes.