Desde muito pequenino, o meu filho mais velho, adorava mochos. Deve ter herdado essa mania de meu Pai. Eu, também sempre os achei umas aves giras e, tenho uma razoável colecção de mochos de todas as qualidades e feitios. Desde peluches a outros, dos mais variados materiais e tamanhos. Meu Pai dizia que, eles eram o símbolo da sabedoria. O meu filho inventou uma brincadeira, ainda mal falava. Sentava-se ao meu colo, encostava a testa à minha e, dizia: “Mãe, fefa os oios”. Eu obedecia. A seguir, dizia: “Mãe, abe os oios”. Eu abria. Então, ele gritava: “Moço”. Aí, era suposto, eu mostrar medo e, tudo acabava com grandes gargalhadas. O meu filho cresceu (meu Deus, como os filhos crescem depressa!).
Um dia, chegou a casa com uma caixa esburacada, mandou-me sentar, fechar os olhos, abrir as mãos e disse: “Mãe, abre os olhos, quando eu disser”, enquanto me depositava nas mãos, uma coisa macia, palpitante de vida. Abri os olhos e, ele disse a palavra mágica: “Mocho”. Era o Arquimedes, um pequeno mocho galego ou, para os versados em ornitologia um “Athene Noctua”.
Tinha uns grandes olhos, penetrantes, inteligentes. Tínhamos que o alimentar com carne crua picada, dar-lhe água a conta-gotas. Quando cresceu, já comia outras coisas: fígado cru, peixe cru e, berbigão, o seu prato preferido. Viajou, acampou, fez parte da família. Andava solto pela casa, pousava-nos na cabeça, dava bicadinhas ternas, nas pálpebras do dono. Quando o aborreciam, vinha ter comigo, escondia-se no meu pescoço.
Uma vez, no Rio Fundeiro, perto do Castelo do Bode, lembrou-se de experimentar a liberdade. Esvoaçou uns metros e, foi pousar nuns ramos chamando aflito: “chuau, chuau”, até que o dono o agarrou. De seguida, foi para a gaiola, feliz, alegre, por ter voltado aos seus. Não gostara daquela liberdade. Uma vez, dava o meu marido cursos de Informática e estava a corrigir uns testes. Mestre Memé ( era o seu deminuitivo), passeava feliz pela casa. Curioso, aproximou-se, olhou os testes com atenção e, não gostou do que viu, num deles. Claro, que teve que dar a sua opinião. Como não sabia escrever, resolveu defecar (termo caro, digno de um Mocho Sábio), em cima do teste. Foi o cabo dos trabalhos para conseguirmos disfarçar a opinião do Mestre. Por fim, uns pingos de café e uma esfregadela, resolveram tudo. Só tenho pena, de não ter visto a cara do meu marido, quando explicou ao aluno que, tinha entornado café no teste. Diga-se de passagem, que o dito teste, merecia a classificação dada pelo Mocho.
Foram seis anos de vida em comum. Ele foi feliz, nós também. Um dia, de manhã, o meu marido foi dar com ele morto, ainda com os seus lindos olhos abertos. Eu, não quis vê-lo. Acho que todos chorámos. Uns mais às claras, os outros discretamente. Perdêramos um amigo. Mas ficaram as lembranças dele, as gargalhadas que nos fez dar, a alegria com que enchia a casa, as fotografias.
Até um dia destes.
Um dia, chegou a casa com uma caixa esburacada, mandou-me sentar, fechar os olhos, abrir as mãos e disse: “Mãe, abre os olhos, quando eu disser”, enquanto me depositava nas mãos, uma coisa macia, palpitante de vida. Abri os olhos e, ele disse a palavra mágica: “Mocho”. Era o Arquimedes, um pequeno mocho galego ou, para os versados em ornitologia um “Athene Noctua”.
Tinha uns grandes olhos, penetrantes, inteligentes. Tínhamos que o alimentar com carne crua picada, dar-lhe água a conta-gotas. Quando cresceu, já comia outras coisas: fígado cru, peixe cru e, berbigão, o seu prato preferido. Viajou, acampou, fez parte da família. Andava solto pela casa, pousava-nos na cabeça, dava bicadinhas ternas, nas pálpebras do dono. Quando o aborreciam, vinha ter comigo, escondia-se no meu pescoço.
Uma vez, no Rio Fundeiro, perto do Castelo do Bode, lembrou-se de experimentar a liberdade. Esvoaçou uns metros e, foi pousar nuns ramos chamando aflito: “chuau, chuau”, até que o dono o agarrou. De seguida, foi para a gaiola, feliz, alegre, por ter voltado aos seus. Não gostara daquela liberdade. Uma vez, dava o meu marido cursos de Informática e estava a corrigir uns testes. Mestre Memé ( era o seu deminuitivo), passeava feliz pela casa. Curioso, aproximou-se, olhou os testes com atenção e, não gostou do que viu, num deles. Claro, que teve que dar a sua opinião. Como não sabia escrever, resolveu defecar (termo caro, digno de um Mocho Sábio), em cima do teste. Foi o cabo dos trabalhos para conseguirmos disfarçar a opinião do Mestre. Por fim, uns pingos de café e uma esfregadela, resolveram tudo. Só tenho pena, de não ter visto a cara do meu marido, quando explicou ao aluno que, tinha entornado café no teste. Diga-se de passagem, que o dito teste, merecia a classificação dada pelo Mocho.
Foram seis anos de vida em comum. Ele foi feliz, nós também. Um dia, de manhã, o meu marido foi dar com ele morto, ainda com os seus lindos olhos abertos. Eu, não quis vê-lo. Acho que todos chorámos. Uns mais às claras, os outros discretamente. Perdêramos um amigo. Mas ficaram as lembranças dele, as gargalhadas que nos fez dar, a alegria com que enchia a casa, as fotografias.
Até um dia destes.
11 comentários:
O Arquimedes era bem giro :)
De bichinhos, assim, também gosto, bem diferentes das osgas horrorosas.
Das minhas memórias, fazem parte o Smith, um papagaio Africano. Falador e com stress... passava os dias a tirar as penas.
O Azevedo, um corvo brincalhão que se passeava em liberdade... e falava!
Uma galinha careca... a cácá, que punha os cabelos em pé á minha mãe :)
... Enfim, tive quase tudo, menos osgas e gafanhotos. Mas, vivi com um grilo, lindo, natural da quinta do meu avô. Minhoto, portanto :)
Hoje, cá em casa, não há bichos. Existe o Manel, o nosso peixe, que está a passar uma temporada na Parede, em casa da minha mãe.
Beijinho grande, amiga :)
Carla:
Este mocho era na verdade especial. Adorava tomar banho e secar-se com o secador. Um dia, vou mostrar uma foto dele, a secar-se. Em vez de fugir, chegava-se ao calor, ia-se virando, levantava as asas para secar por baixo. Era uma maravilha vê-lo, depois do banho. Ave de rapina? nunca o considerei como tal, nem deu razões para isso. Meigo, ternurento, nunca nos feriu, nem quando fazia voos rasantes, sobre as nossas cabeças. De todos os muitos bichos que, já tive, juntamente com o Pinóquio (um canito que meu pai me deu) e este Nabão (cão como nós), foi dos que mais gostei e, mais saudades me deixou.
Beijo.
Maria
E daquela vez que chegaste a casa, e a janela junto à gaiola do Mé-mé e à do Bico de Lacre, chamado "Piu-Piu", se tinha aberto e atirado com a gaiola do passarinho ao chão, e esta abriu-se. Não se via vestígios do passarinho, até tu ouvires o seu piar frágil, já da sua velhice - durou 13 anos - e que te diziam ser impressão tua, que o Piu-Piu já tinha voado janela fora. Qual o espanto, quando ele estava junto às grades da gaiola do mocho? O mesmo mocho que comia carne crua, aranhas viva, e que, quando fugiu no rio Fundeiro, foi para uma árvore, de onde saíu um bando de passarinhos! E não fez mal ao passarinho!
Esta, é apenas uma lembrança das muitas que guardo do Arquimedes.
O Avô (teu pai) gostava muito dele.
Não era de admirar: em novo ia de noite para o cimo de uma torre em Óbidos, ver as corujas, que já nem tinham medo dele. Para ir para o cimo dessa torre, usava, como escada, uma árvore que ainda há poucos anos existia ao lado.
Beijos.
Muito bonito ficou o nosso Arquimedes. Lembro-me bem dessas duas histórias. Talvez o aluno do teste manchado ainda leia este blog e processe o Arquimedes. O que o Vasco conta, realmente parece estranho mas na verdade acho mesmo que o Mocho e o Bico-de-lacre eram mesmo amigos! Se calhar mesmo que ele entrasse na gaiola(e talvez tenha mesmo entrado) ele nem lhe fazia mal.
beijinhos,
João
Estas pequenas recordações só são pequenas para quem as não viveu.
Maria, nota-se que és uma mulher verdadeiramente apaixonada pelas recordações e quando elas são boas como esta, estou logo a ver-te como uma lágrima no canto do olho.
Nunca tive animais de estimação mas já percebi o quão duro é perder um amigo destes.
Às vezes - é o amigo que nos falta. Ouve e não fala, não discute e está sempre de acordo connosco.
Gostei do teu mocho e da sabedoria que o passado te deixou. Talvez ... influência do dito!
Um beijinho
Meu Corvo:
Lembraste bem, mais 2 histórias do Memé. São tantas que, seria impossivel, contá-las todas. A tua caturra, "Tina Turra", ainda hoje mora na antiga casa do Mocho Sábio.
Beijo.
Maria
Dono do Arquimedes:
Como vês, não esqueci o meu amigo Mocho. Foi dos bichos que, mais gostei. Ainda hoje, me vieram as lágrimas aos olhos, quando escrevi.
A ele devo, uma das minhas muitas colecções. Já o teu avô, como o Vasco lembrou, tinha uma simpatia especial por estes animaizinhos.
Beijo
Maria
Kim:
Mais uma vez acertaste em cheio. Este amor pelos animais, nasceu comigo. Lidei com eles desde sempre.
No Porto, a casa dos meus pais tinha um enorme quintal, onde havia galinhas, coelhos, às vezes perús. Eu gostava de os alimentar, de brincar com eles. Todos tinham nome.
Ora, a sina deles, não era morrer de velhos. De vez em quando, lá ia um à faca. Eu chorava, pedia, mas nada os salvava da panela. Só que, eu que já sou de pouco alimento por natureza, nesses dias fazia greve da fome.
Este mocho, era mesmo como o outro, de uma velha história: "Não falava, mas dava muita atenção". Gostei muito dele. E, tens razão, hoje ao falar dele, chorei.
O meu Nabão, rafeiro puro, adivinha os meus estados de espirito, as minhas doenças, antes de todos. Olha-me com ternura, não sai do meu lado. É fácil amar um animal. Aliás, para mim, é fácil amar qualquer ser vivo, ou até um móvel, uma boneca, um bibelot.
Já vais conhecendo esta Maria, um pouco tonta, um pouco louca, amiga dos amigos. Com o tempo, saberás mais coisas. Coisas simples, porque não tenho segredos.
Beijo
Maria
E eu tive o prazer de conhecer ao vivo, o ARQUIMEDES e posso garantir que ele foi o único Mocho (com penas) com quem cheguei a partilhar uma mesa, no refeitório da RTP, na 5 de Outubro.
É verdade, Bicho. Como vês, era um mocho especial. Até teve a honra de partilhar a mesa contigo, a nossa Fernanda e outros. Foi a nossa alegria, enquanto viveu. Hoje, é ums saudade doce, de um amigo que perdemos. Mas, ainda nos faz às vezes rir, das cenas que fazia.
Beijo
Maria
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