segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Racismo


Vou hoje falar de racismo, coisa que, tinha jurado não fazer. Não gosto de temas polémicos e, muito menos de polémicas. Mas às vezes, a revolta obriga-nos a fazer coisas que não queremos.
Ontem, uma das nossas preclaras estações de televisão, pôs no ar, um programa que, à partida, pensei ser educativo, isto é, viesse trazer alguma informação útil, para um tema delicado e, mal esclarecido. A desilusão foi total. Tirando dois casos, contados na integra, o resto, como de costume, foi... nada. Perguntas estúpidas, respostas estúpidas, exemplos claros de como não esclarecer um problema.
Não sou, nunca fui racista. Quando era miúda, ensinaram-me uma coisa que, não sei se era oração ou simples poesia. É curta, mas diz muito:

Minha mãe, quem é aquele, pregado naquela cruz?
Aquele, filho, é Jesus, é a Santa Imagem dele.
E quem é Jesus?
É Deus e, é Ele que nos cria
Quem nos dá a luz do dia
E fez a terra e os céus.
E morreu?
Para mostrar, que todos somos irmãos
E devemos dar as mãos
Uns aos outros, irmãmente.

O que quero dizer com isto, é que esse Jesus disse, “dar as mãos” e, não “dar com as mãos”.
Depois de muito disparate, mostraram um caso concreto: Uma jovem mãe, negra,
foi a um parque infantil com o filho de 3 anos. Só havia um baloiço. A criança apoderou-se dele, brincando alegremente até aparecer um homem, branco, com o seu filho. Este, queria o baloiço. O outro, não estava disposto a largá-lo. O paizinho, terno, vendo o filho com uma valente birra, arrancou, literalmente, a outra criança do baloiço, com tanta delicadeza que, ele caiu e, feriu um lábio. A mãe, resolveu ir à esquadra mais próxima, apresentar queixa. Foi aconselhada “delicadamente”, a não o fazer. Teimou. Entretanto, a avó do menino, pregou um par de estalos no homem. (Abençoadas mãos). Aí, foi ele que, quis apresentar queixa. Aceitaram a queixa dele e, a da mãe. Tudo certo? Tudo errado. O julgamento da avó, já foi feito e, ela foi condenada a pagar 600 Euros. O julgamento do homem, ainda não se realizou. Racismo? Não. Apenas esquecimento.
Mas não nos iludamos. O racismo existe em todas as raças e, até entre pessoas da mesma raça. Aqui há anos, uma conhecida minha, filha de negro e de branca, estando na minha casa, teve a saída mais parva que, já ouvi. Eu tinha chegado à janela e, vi que chovia. Vinha uma mãe, com um bebé muito pequenino ao colo, ambos a apanhar chuva. Comentei: Coitadinho do bebé, vai à chuva. Ela, chegou-se à janela, olhou e, com o ar mais desprezível do mundo, respondeu-me: “Ora! É só um pretito, tem pele de sapo”. O respeito que eu devia à pessoa que, com ela estava, não me deixou dizer o que queria. Mas a partir desse dia, passei a olhá-la com o mesmo desprezo, com que ela olhara a criança.
Tenho vizinhos negros. Trato-os da mesma forma que os outros, como eles me tratam a mim.
Raças diferentes? Seria estupidez negar uma coisa evidente. Culturas diferentes? É claro. Mas não serão culturas diferentes as dos países da Europa?
Agora, o que eu não tenho dúvidas, é que tirando a cor da pele, o resto é igual. Órgãos, sangue, doenças, dores, sentimentos, até as lágrimas, como disse Gedeão.
Deixemo-nos de prégar contra o racismo, passemos às obras. Demos as mãos.
Que linda seria uma cadeia de mãos, de todas as cores, unidas no mesmo desejo de Paz.
Até um dia destes.

10 comentários:

Kim disse...

As lágrimas são as mesmas e até são da mesma côr.
O racismo é algo que não concebo, mas acredita que o veradeiro racismo existe entre os próprios negros. É inconcebivel.
Bem, e depois existem os tais que detrás duma qualquer janela arrotam ódios sem saber porquê, indiferentes à chuva que cai.
Um beijinho petite Marie!

Anónimo disse...

Kim:
O caso que contei, passado comigo, foi das coisas mais revoltantes que já vi e, ouvi. Da parte da mesma pessoa, tive depois mais provas de um racismo, completamente estúpido.
Além de o racismo me ser repugnante, tudo quanto diz respeito a crianças, de qualquer cor, me toca muito.
Para mim, elas são, o que mais belo e puro existe.
Não sei o que é ódio, felizmente. Não consigo odiar, nem sequer aqueles que, me fazem mal.
O racismo, o elitismo, e outros "ismos", são coisas que me magoam muito e, não entendo.
Beijinho amigo
Maria

Carla D'elvas disse...

Amiga:

ACOLHER e INTEGRAR. é uma tarefa e uma missão de todos nós.

Infelizmente há racistas... empedernidos... outros assumidos, outros politicamente correctos e outros que quase o não são. Mas, provavelmente todos somos racistas. A cor... é apenas o sinal mais evidente da diferença, porque o nosso racismo, na verdade, é contra aquele que não é como nós - preto, branco,mais alto, mais baixo, mais gordo, menos gordo, velho, novo, que cospe na rua, ou usa boné ao contrário. O nosso racismo... faz-se sentir. De maneiras, mais ou menos subtis, nasce do nosso medo do desconhecido. E a unica forma de o vencer... é dar o desconhecido a conhecer :)
Por racismo entendo a valorização, generalizada e definitiva, de diferenças, reais ou imaginárias, em proveito do acusador e em detrimento da vítima, a fim de justificar os seus privilégios ou a sua agressão.
... Ou seja, na verdade, o racismo não tem fronteiras e existe até dentro da mesma raça (e, aqui, é bom distinguir "raça" de etnia ou nacionalidade). Chame-se-lhe nacionalismo, bairrismo, regionalismo ou tribalismo, o efeito é o mesmo: a intolerância frente ao outro que não é igual a mim: no corpo, na língua, na religião, nos costumes ou nas crenças. E, noutro plano das sociedades desenvolvidas: no simples direito à cidadania ou no estatuto social.


Por isso concluo que:


DE ALGUM MODO SOMOS TODOS UM POUCO RACISTAS


Beijinhos :)

Anónimo disse...

Assim é que é falar, se bem me entendes...

Beijos,
Vasco.

Anónimo disse...

Querida Carla:
No essencial, estamos absulutamente de acordo. Em alguns promenores, não. Tens uma certa razão, quando dizes que todos somos mais ou menos racistas. É díficil gerir os sentimentos, depois de uma vida inteira de preconceitos estúpidos, que nos foram dados no leite que mamámos. Mas tem que haver maneira de coexistirmos, em paz, e que a aceitação seja de parte a parte. Eu, repito,
tenho vizinhos negros. São educados, simpáticos, comigo. Outro dia, um, deu uma lição a uma das vizinhas, branquinha de neve que, berrava as suas perrogativas e direitos. Ele, em meia dúzia de palavras ditas em voz baixa e calma, pura e simplesmente,reduziu-a àquilo que realmente é: um ser humano, igual aos outros, nem mais, nem menos.
Isto querida, dava para uma longa conversa, mas não assim. Talvez um dia, a possamos ter.
Beijo.
Maria

Anónimo disse...

Corvo:
Como sabes, eu sei por experiência, o que é lidar com pessoas de outras raças. Já conheci negros fora de série, já conheci verdadeiros animais ferozes. O mesmo acontece, com brancos, ciganos, chineses. Todos diferentes, todos iguais. Tu, cujo um dos melhores e mais leais amigos é cigano, sabes bem.
Beijo.
Maria

Anónimo disse...

Maria,
Sempre que se fala de racismo, não consigo deixar de pensar no discurso de Martin Luther King "Eu tenho um sonho..."
Também eu acalento o sonho de que um dia os homens assumam a sua condição de seres humanos, todos diferentes e todos iguais, coabitando num mundo mais justo, mais fraterno.
Vivemos numa sociedade doente e decadente de valores sociais, económicos e políticos. Nascerá certamente das cinzas uma sociedade mais equilibrada, mais virada para o Homem.
Como sabes não tenho filhos, mas acredito nas gerações vindouras. Acredito que os teus netos e todos os "pestinhas" que têm passado e fazem parte da minha vida, viverão uma era rica de valores, muito provavelmente bastante diferentes dos nossos, mas que conduzirão a uma vivência mais sã e menos hipócrita.
Acredito nos jovens. Acredito no HOMEM. Acredito no futuro porque temos uma capacidade de de criar e recriar infinita e porque "o sonho comanda a vida".
Tenho fé!
Serei uma idealista, talvez...
Um beijo ternurento
Nemy

Anónimo disse...

Querida Némy:
Antes de mais, obrigada, pelo Chico. Gosto muito dele e, gostei das imagens e da música.
Também eu, como Luther King, tenho um sonho: Queria morrer, num mundo de Paz, de harmonia, de tolerância. Mas, acho que, é mesmo sonho, porque quando acordo, só vejo crimes, guerras, crianças a passar fome, velhos tratados com trastes inúteis. Mesmo assim, é bom sonhar. Ao menos durante o sonho, somos um pouco mais felizes.
Beijinho e, continua a sonhar. Eu hoje, estou pouco para isso. Uma das cadelinhas do meu filho, desapareceu, da veterinária, a seguir a uma operação. Onde andará? Estará viva ou morta? Sofro por ela, por mim e sobretudo, pelos meus filhos e neto que, estão desolados. Já a noite passada não dormi e, acho que esta noite vai ser igual.
Beijinho da
Maria, hoje muito triste.

Anónimo disse...

Maria,
Não tenho palavras para a Vossa tristeza.
Beijinho amigo
Nemy

Anónimo disse...

Nemy:
A esperança de voltarmos a ver a cadelinha é cada vez menos. A minha nora, farta-se de chorar, procura por todo o lado e, nada. Tenho medo da reação do meu pequenino que, tem verdadeira adoração pelos seus canitos.
Obrigada pelas tuas palavras amigas.
Beijo
Maria