sábado, 31 de dezembro de 2011
Bom Ano Novo
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…
Miguel Torga
Mais uma vez Torga vem falar por mim.
Talvez porque tudo precisa de recomeço, incluindo eu, escolhi este belo poema.
Vamos todos tentar, recomeçar alguma coisa.
O Ano possível e, até um dia destes
Maria
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Natal Antigo

Nem luzes iluminando luxos e miséria
Nem árvores monumentos valendo alguns milhões
O Natal antigo era uma festa séria
Com bacalhau e couves, um bolo e coscorões.
À noite antes da missa quem era pequenino
Punha um sapato junto da chaminé
Ia dormir sonhando ver Jesus menino
Deixar um livro, uma boneca, um chocolate até.
Descalço e em camisa sem frio na manhã fria
Corria a ver o que o Menino tinha lá deixado
Se era a boneca que há tanto tempo lhe pedia
Se era o livro há meses namorado
As mãos tremiam o coração estalava
E lá estava a boneca o livro tão esperado
Com a boneca ao colo o livro devorava
E era tão feliz nesse Natal Passado.
Maria
Para todos um Natal Feliz.
Calculo que para a maioria de vós, será um Natal menos farto, menos luminoso. Mas os mais velhos já viveram Natais assim.
Eu vivi muitos e, foram muito felizes.
Dêem mais amor e menos prendas. O amor não custa dinheiro.
Para os meus amigos, toda a amizade que cabe no coração da vossa
Maria
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Mão, punho, manga de casaco
Estou num cemitério, num funeral com muita gente, nuvens pesadas a ameaçar borrasca. Depois, alguém, não sei quem, vem ter comigo para me apresentar um homem. Aí, começa o mistério.
Um nome murmurado, uma mão forte e morena que, aperta a minha com força, um punho branco de camisa, uma manga escura de casaco e, uma voz que apenas diz, um “muito prazer” sumido.
Quando tento ver a cara, acordo. Se tivesse tido o sonho só uma vez, já tinha esquecido. Mas repete-se com alguma frequência.
Ora eu, que nunca me preocupei com o significado dos sonhos, que não lhes dou importância, ando às voltas com este. Já estou farta de tentar relacioná-lo com alguma coisa da minha vida e, nada.
De quem será a mão, o punho, a manga a voz, embora baixa, lembra-me alguém mas, não sei quem. É a minha única pista, para este sonho parvo.
E se eu fosse à Maya?
Até um dia destes
Maria
sábado, 10 de dezembro de 2011
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Serões de Antigamente
No inverno, à roda da braseira, sentados à volta da mesa de jantar, esperávamos ansiosos, as nove da noite, hora do folhetim. Boas obras, interpretadas por bons actores. Assim, conheci “As minas de Salomão”, “A paixão de Jane Eyre”, “Os Fidalgos da casa Mourisca”, “A Cidade e as Serras” e, muitos outros livros. Não nos faziam falta as imagens. Actores famosos, interpretavam de tal forma os personagens que, a imagem não fazia falta. Havia um dia da semana, salvo erro, a quarta-feira, em que tínhamos o “Teatro das Comédias” de Álvaro Benamôr. Eram peças, geralmente de autores portugueses, contemporâneos ou, mais antigos. Gil Vicente, Almeida Garrett, Marcelino de Mesquita, Júlio Dantas, Ramada Curto etc. Aos sábados começava a sessão antes de jantar. Era o programa infantil da Madalena Patacho. Meninos da nossa idade contavam histórias. Desses meninos, lembro: João Lourenço, Isabel Wolmar, Morais e Castro e muitos mais. Das histórias, eram sobretudo, as “Aventuras dos cinco” de Enid Blyton que me fascinavam. À noite, havia os “Serões para trabalhadores” que, incluíam cantigas, fados e passatempos em que “uma nota de 500, não se podia deitar fora”. Ao Domingo à tarde vinha a bola e, às vezes as toiradas. Durante a semana, ainda havia programas de Fado, Concertos pela Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, etc.
Eram serões, em família. O meu pai fazia paciências com cartas, a minha mãe fazia renda, o mano estudava, eu perdia-me a imaginar o que ouvia, a pequenina, às vezes, adormecia no colo da mãe, com o dedo na boca.
Veio a televisão e, adeus serões a cinco. Ao princípio, apesar das falhas, delirei com ela. Era uma telefonia com imagem. Dava bons programas em directo, coisas que interessavam a todos. Agora, é o que temos. Gosto de ver a RTP Memória. Parece que vai desaparecer.
Quero a minha Telefonia de volta! Mas para quê, se também não presta?
Livros, sempre amados, lidos e relidos, só vocês me tiram deste marasmo. Só vocês me dão os momentos de distracção que necessito.
Enquanto tiver livros e vista para os ler...
Até um dia destes.
Maria
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Não coma. Veja o Masterchefe

sábado, 12 de novembro de 2011
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Diálogo de Olhos
- És tu?
Sou eu.
- Quantos anos passados e, eu nunca esqueci os teus olhos.
Não? Porquê se esqueceste o resto?
- Não, não esqueci, lembro-te muitas vezes. E tu esqueceste?
Ás vezes, nem me lembro que exististe. Outras, lembro vagamente, alguns momentos.
- Estás a mentir. Lembra-te que sei ler nos teus olhos.
Não, não soubeste. Se tivesses sabido...
- Que veria, diz!?
Quando importava, não leste nada. Agora não vale a pena.
- Achas que é tarde? Eu não te esqueci. Esqueceste tudo?
Não houve nada para esquecer. Nada se passou.
- Estás a mentir!
Vês? Nunca soubeste ler nos meus olhos.
- Agora não quero ler.
Desvia os olhos.
- Não quero desviar. Quero lembrar.
Eu nada tenho a esquecer. Adeus.
Hoje, viajei pela imaginação.
Até um dia destes,
Maria
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Carta a meu Pai
Ainda sob a influência da morte do Amigo Moa, decidi publicá-la.
Meu pai nunca a leu. Levou-a para o crematório e foi cremada com ele.
É triste, como triste estava, quando a escrevi, como triste estou hoje.
Meu querido Pai:
Nesta carta que, nunca lerás mas que, é escrita para ti, para mim, para todos os que amaste e, te amaram, tentarei contar quem foste e, quem és agora.
Foste o bebé mais bonito da minha avó, o homem belo e forte que, a minha Mãe amou até à morte, o Pai nem sempre tolerante, nem sempre compressivo mas, muitas vezes o companheiro alegre e meigo, o Pai que, não podendo comprar brinquedos, os fazia à força de algum engenho e muito amor, o Avô que, todos os netos adoraram.
Foste alguém que, ganhou o pão de cada dia, sem pensar muito no dia seguinte. Alguém que, perdendo o pai muito cedo, cedo teve que trabalhar, instruir-se, fazer-se homem, sempre só.
Tinhas uma enorme cultura, conseguida por ti.
Foste aquele que, era o centro das atenções, na mesa do café, no emprego, na família. A mesa das refeições, não era só para comer. Ao mesmo tempo, servia de aula de História, de Literatura, até de política. Sempre disseste que eras Socialista mas, a tua política era sempre, contra tudo. Querias um mundo onde todos fossem iguais.
Eras forte, o último argumento era teu, fosse palavra ou, um murro na mesa. Tinhas que ter sempre razão.
Agora Pai, com quase 92 anos, (será que os farás?) estás frágil, com foste ao colo da tua mãe mas sem o seu carinho a acalentar-te, ainda bonito, como o jovem que minha Mãe amou mas, sem a força que, a fazia sentir-se protegida. És ainda, o Pai que adoramos mas, a quem não pudemos ajudar.
Ver-te assim, entregue, sem ouvir, sem falar, apenas uma queixa quase imperceptível, um gemido fraco, dói muito, meu Pai.
Perdoa-me mas, já só posso pedir a Deus, à minha Mãe e a avó que, te levem depressa.
Não é falta de amor, meu velhinho querido. Quero que adormeças depressa e despertes entre o amor das duas. Quero puder falar de ti aos meus netos, contar-lhes como eras, sem esta dor que me rasga a alma.
Fica tanto para dizer de ti! Mas, hoje não, Pai.
Agora, só queria chorar.
Gosto muito de ti. Por isso, quero que partas.
Adeus Pai. O Adeus mais triste e doloroso da minha vida.
Um penúltimo beijo e, todo o meu amor.
O último será Depois.
O meu amor por ti será eterno.
Tua
Filha.
Até um dia destes, amigos.
Abreijos
Maria
domingo, 16 de outubro de 2011
Dorme meu amigo, dorme
domingo, 2 de outubro de 2011
Um Puzzle Incompleto

quinta-feira, 22 de setembro de 2011
A Senhora da Lanterna

Até um dia destes.
domingo, 18 de setembro de 2011
Uma luzinha no telhado
Na esquina da minha rua há uma casa normal, igual a todas.
Quando vou fumar o cigarro da noite, olho o telhado da casa e vejo uma luzinha brilhante, viva, que me faz voltar atrás nos anos.
Lembra-me a casa em que morei no Porto. Tinha um quarto no sótão, com uma janela no telhado. Dormi lá muitas vezes. Quando a casa se enchia de gente, a minha avó dormia no meu quarto e eu e a minha prima Margarida íamos dormir para lá. Sentiamos-nos independentes, senhoras do nosso cantinho, onde, longe de todos, podíamos fumar, conversar, sonhar com a nossa ida para Paris, viver numa mansarda e fazer sei lá o quê. Em sonhos consegue-se tudo. Ouvíamos Brel, Aznavour, Brassens, Piaf. Falávamos em francês para treinar. Chorávamos lendo “Bonjour Tristesse” de Françoise Sagan. Ai Margarida que partiste ! Não tivemos mansarda em Paris, não nos perdemos pelas suas ruas e praças, não vimos os bateaux-mouche no Sena. Quando lá fui, pensei tanto em ti, minha querida Margot. Lembras-te? Era o teu nome na mansarda de casa dos meus pais. Até o nome mudámos. Moi, Claire, toi, Margot.
Olho aquela luzinha e não consigo deixar de imaginar. Quem lá mora? Duas meninas tontas e sonhadoras como nós? Um idoso que arfa ao subir a escada e não consegue dormir? Uma pobre família, com filhos pequenos? Quem? Olho a luz e, fico à espera de saber quem é. Já pensei perguntar a algum vizinho. Não.
Não quero saber. Eu ainda gosto de sonhar. A realidade pode não ter nada de bonito. O sonho pode tornar-se pesadelo. Vou continuar a olhar a luzinha no telhado e pensar em mais ideias. Ela está lá e faz-me companhia nas noites em que acordo sem sono. Quando vou dormir, posso dizer: Boa noite luzinha no telhado.
Até um dia destes.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
"Adeus de Miguel Torga
Vou levar uns dias, para conseguir sair desta névoa de poesia em que ando mergulhada.
Depois, voltarei com novas histórias e, de vez em quando, um Poeta, uma música.
Gostei desta interpretação de Luís Gaspar.
Espero que gostem.
Até um dia destes
Maria
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Alexandre O'Neill, Alain Oulman e...Amália
Se uma gaivota viesse trazer-me o céu de Lisboa no desenho que fizesse, nesse céu onde o olhar é uma asa que não voa, esmorece e cai no mar. Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração. Se um português marinheiro, dos sete mares andarilho, fosse quem sabe o primeiro a contar-me o que inventasse, se um olhar de novo brilho no meu olhar se enlaçasse. Que perfeito coração no meu peito bateria, meu amor na tua mão, nessa mão onde cabia perfeito o meu coração. Se ao dizer adeus à vida as aves todas do céu, me dessem na despedida o teu olhar derradeiro, esse olhar que era só teu, amor que foste o primeiro. Que perfeito coração morreria no meu peito morreria, meu amor na tua mão, nessa mão onde perfeito bateu o meu coração. Alexandre O'Neill Até um dia destes Maria |
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Agostinho Neto dito por Mário Viegas
Achei-o tão bonito que tive de o partilhar convosco.
"Não me peçam sorrisos" de Agostinho Neto, dito por Mário Viegas.
Até um dia destes
Maria
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Florbela e Eunice-Duas Mulheres Alentejanas
Este tempo cinzento, já começa a dar-me vontade de um chá e biscoitos, à tarde.
Convidei hoje, Duas Senhoras que muito admiro.
Por coincidência, as duas nasceram no Alentejo. Florbela em Vila Viçosa, corria o ano de 1894, Eunice na Amareleja, em 1928.
Florbela morreu nova, Eunice, felizmente vive e, é a grande Senhora do Teatro e da Televisão. Também declama, como vão ver.
Eu vou beber o meu chá e, perder-me a ouvir Eunice dizer alguns poemas de Florbela.
Laurinha amiga:
Hoje deixo-te apenas o nome dos poemas. São vários e levava muito tempo a passá-los
- 1Amiga
2. De joelhos
3. Sem remédio
4. Fanatismo
5. O meu orgulho
6. Saudades
7. Ódio?
8. Versos de orgulho
9. Rústica
A um moribundo
Procura-os no livro, sim?
Eis o duo imbatível.
terça-feira, 30 de agosto de 2011
"Fim" de Mário Sá Carneiro por Luís Represas
Fim
Quando eu morrer batam em latas
Rompam aos saltos e aos pinotes
façam estalar no ar chicotes
Chamem palhaços e acrobatas
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à Andalusa
a um morto nada se recusa,
eu quero por força ir de burro.
Mário de Sá Carneiro
Até um dia destes
Maria
domingo, 28 de agosto de 2011
Cesário Verde dito por Mário Viegas
De tarde |
Naquele «pic-nic» de burguesas,
Até um dia destes Maria
|
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
"Não sei Ama onde era" Fernando Pessoa dito por Mário Viegas
Não sei, ama, onde era,
Não sei, ama, onde era,
Nunca o saberei...
Sei que era Primavera
E o jardim do rei...
(Filha, quem o soubera!...).
Que azul tão azul tinha
Ali o azul do céu!
Se eu não era a rainha,
Porque era tudo meu?
(Filha, quem o adivinha?).
E o jardim tinha flores
De que não me sei lembrar...
Flores de tantas cores...
Penso e fico a chorar...
(Filha, os sonhos são dores...).
Qualquer dia viria
Qualquer coisa a fazer
Toda aquela alegria
Mais alegria nascer
(Filha, o resto é morrer...).
Conta-me contos, ama...
Todos os contos são
Esse dia, e jardim e a dama
Que eu fui nessa solidão.
Até um dia destes
Maria
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Natália Correia em casa de Amália
Maria
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
David Mourão Ferreira e de novo Amália
Amália
(David Mourão-Ferreira / Alan Oulman)
Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar
Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.
Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.
Apreciem, vale a pena.
Até um dia destes
Maria
sábado, 20 de agosto de 2011
Retrato de Amália feito por Ary dos Santos
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Manuel Alegre em Nambuangongo
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Mãezinha
Deixo-vos com ele e Gedeão.
Eu vou almoçar com o meu irmão. Vamos festejar uma data que nos diz muito, apesar da ausência dos nossos pais.
Até um dia destes
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Não tenho tempo
sábado, 6 de agosto de 2011
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Hoje Avó, sou eu que conto a história

Minha Avó
Quando era pequena, gostava que tu me contasses histórias. As das princesas que casavam com príncipes, tinham muitos meninos, moravam em belos palácios e, viviam felizes para sempre.
Quando já mais crescida te pedia histórias, a resposta era, às vezes: “Minha neta, queria que casasses com um homem bom, que tivesses meninos, que tivesses a tua casinha e, fosses feliz.”
A vida deu-me um marido bom (tu sabes), três meninos, dos quais tu ainda conheceste dois, uma casa alugada e quase vazia. Fui feliz mesmo assim. Agora, Avó querida, outra parte do teu desejo realizou-se: a casa é minha. Paguei-a ontem.
Já tenho a casa cheia, mais dois meninos, os meus lindos netos, só falta “ser feliz para sempre”. Ninguém é inteiramente feliz, nem feliz para sempre. Mas estou contente Avó.
Olha Avó, tudo o que me desejaste se cumpriu. Esta é a tua prenda de anos.
A tua benção, minha Avó.
Tua
Neta.
Kim, amigo
Beijinho pelo dia.
Até um dia destes
Maria
segunda-feira, 18 de julho de 2011
A minha Pátria é a língua portuguesa

“Não chóro por nada que a vida traga ou leve. Há porém paginas de prosa me teem feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noute em que, ainda creança, li pela primeira vez numa selecta, o passo celebre de Vieira sobre o Rei Salomão, "Fabricou Salomão um palacio..." E fui lendo, até ao fim, tremulo, confuso; depois rompi em lagrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquelle movimento hieratico da nossa clara lingua majestosa, aquelle exprimir das idéas nas palavras inevitaveis, correr de agua porque ha declive, aquelle assombro vocalico em que os sons são cores ideaes - tudo isso me toldou de instincto como uma grande emoção politica. E, disse, chorei; hoje ia relembrando, ainda chóro. Não é - não - a saudade da infancia, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção d'aquelle momento a magua de não poder já ler pela primeira vez aquella grande certeza symphonica.
Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriotico.- a minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente, Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio minhaque sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem nãosabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a orthographia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-m'a do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.”
(Transcrito da Wikipédia )
Fernando Pessoa
Isto disse Fernando Pessoa. Eu concordo.
Que diria o poeta agora, vendo a língua portuguesa tratada da maneira que é? Talvez o estudioso do ocultismo, tivesse a premonição de que Pátria ia ficar no estado da língua. Isto é: Um verdadeiro caos.
Mantive de propósito a escrita de Pessoa, sem correcção.
Até um dia destes.
Maria
terça-feira, 5 de julho de 2011
Madalena, minha irmã Madalena

Relendo um livro da Alice Vieira, lembrei-me de nós.
Claro que há diferenças. Ela tinha 10 anos quando a irmã nasceu, eu tinha 2 quando nasceste. Esperava pelo “meu bebé” com ansiedade. Já tinha um mano que adorava, tinha tido uma irmã que não conheci. Aquele bebé que me tinham prometido, era um sonho.
Mexia, chorava, comia, chuchava no dedo polegar e, era linda! Olhos grandes e lindos, nariz arrebitado, careca ( depois vieram os caracóis que te faziam parecer uma bonequinha). Eu, do alto dos meus 2 anos, tomei-te sob a minha protecção e, não gostava que te tocassem. O bebé era meu. Conhecias-me bem. Mais tarde, chamavas-me “mãesinha pequenina”.
Crescemos os três. Eras esperta, ladina, alegre e senhora do teu nariz.
Às vezes, eu e o mano, armávamos a casinha das bonecas debaixo da mesa e, pedíamos a Deus que dormisses uma grande sesta. Quando acordavas, começava a revolução. Enquanto nós te tentávamos convencer a ser a filha, tu decretavas que eras a “criada” e, tomavas conta de tudo.
Crescemos lado a lado, dormimos no mesmo quarto, partilhámos brincadeiras e bulhas. Sempre juntas, sempre irmãs.
Depois, a vida levou uma para cada lado, estamos separadas pelo mar mas, eu continuo a ver-te da mesma forma: o meu bebé, a minha irmã, a minha companheira de menina.
Estamos velhotas, filhos criados, cada uma para seu lado mas, irmãs.
Madalena, minha irmã Madalena, como tenho saudades de nós antigamente!
Madalena, minha irmã Madalena, como tenho saudades tuas!
Beijos, muitos beijos da tua irmã.
Maria
Até um dia destes.
Maria
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Aznavour et nous
Por isso, com todo o meu amor:
Bon anniversaire
Charles Aznavour
Até sempre, meu amor.
Até um dia destes, amigos.
domingo, 29 de maio de 2011
Elegia
Hoje dia 29, seria o teu dia de anos. Já te falei tanto, já te disse tanta coisa que, não sabia do que falar. Vi uma fotografia minhas de tranças e, lembrei-me das horas que passavas a fazê-las. Levantavamo-nos, as duas cedo. As tranças de noite soltavam-se, ficando uma massa de cabelo longo e embaraçado. Cheio de ninhos, dizias tu. Com a cabeça pousada nos teus joelhos, as tuas mãos brandas e macias tentavam desenlear, aquela meada embaraçada de cabelo longo, fino e basto. Quando acabava esta operação, pontuada aqui e ali, por um grito de dor e uma festa tua, era altura de dividir ao meio e, fazer as tranças. Um laçarote branco ou de cor, rematava-as. Era longo, doloroso, o trabalho. Mas quando me via ao espelho, gostava de ver o meu rosto emoldurado por elas. O pai só dava ordem para as cortar aos 15 anos.
Eram as minhas companheiras predilectas. Saltavam, voavam, batiam-me na cara, quando estava vento. Quando me lavavas o cabelo, com chá de camomila, para não escurecer, adorava dormir com aquele cheirinho na cabeça. Chamavam-me a “Trancinhas”.
Quando fomos para o Porto, as aulas eram mais cedo, o liceu mais longe. Tantas voltas deste ao pai que ele acabou por dar ordem para as cortar. Foi um dia triste, mãe. Quando aparaste as minhas tranças, já cortadas nas mãos, tinhas os olhos rasos de água. Eu chorava, olhando o rosto desconhecido, no espelho. Guardaste-as na mala e, voltámos a casa. Quando o pai chegou, deste-lhe as tranças que, ele guardou até ao dia em que as deu ao João. Olhou para mim triste. Para os três fora o início do meu crescimento. A trancinhas morrera. Nascera a adolescente, a pré-mulher. Acho que nesse dia, se convenceram que eu estava a crescer. Eu convenci-me. Foi um fim de infância triste. Faziam-me falta as tranças, as tuas mãos nos meus cabelos, os laçarotes que pareciam borboletas.
Hoje sinto mais ainda a tua falta. Dói cada vez mais a tua ausência.
Adeus mãe.
Beijos e saudades da tua trancinhas.
Nós amigos, até um dia destes.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Sérgio Godinho – Sempre actual

Tu precisas tanto de amor e de sossego
- Eu preciso dum emprego
Se mo arranjares eu dou-te o que é preciso
- Por exemplo o Paraíso
Ando ao Deus-dará, perdido nestas ruas
Vou ser mais sincero, sinto que ando às arrecuas
Preciso de galgar as escadas do sucesso
E por isso é que eu te peço
Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego
Se meto os pés para dentro, a partir de agora
Eu meto-os para fora
Se dizia o que penso, eu posso estar atento
E pensar para dentro
Se queres que seja duro, muito bem eu serei duro
Se queres que seja doce, serei doce, ai isso juro
Eu quero é ser o tal
E como o tal reconhecido
Assim, digo-te ao ouvido
Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego
Sabendo que as minhas intenções são das mais sérias
Partamos para férias
Mas para ter férias é preciso ter emprego
- Espera aí que eu já lá chego
Agora pensa numa casa com o mar ali ao pé
E nós os dois a brindarmos com rosé
Esqueço-me de tudo com um por-do-sol assim
- Chega aqui ao pé de mim
Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego
Se eu mandasse neles, os teus trabalhadores
Seriam uns amores
Greves era só das seis e meia às sete
Em frente ao cacetete
Primeiro de Maio só de quinze em quinze anos
Feriado em Abril só no dia dos enganos
Reivindicações quanto baste mas non tropo
- Anda beber mais um copo
Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego
domingo, 1 de maio de 2011
Dia de todas as mães

No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade
Todos nós vamos com as aves. Deixemos as rosas brancas para as Mães.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Receber uma carta à moda antiga

No meio de contas para pagar, foi agradável. Dentro do envelope vinha o Postal acima.
O Corvo foi a Tomar e mandou-me um postal da minha terra. Foi bom voltar ao antigamente.
Reproduzo-a tal e qual ma mandou:
Tomar, 22 de Abril de 2011-04-28
Pai e Mãe,
Naturalmente recebem este postal já depois de eu ter chegado.
Mas, em todo o caso, aqui vai um postalinho para vos fazer saudades.
Aqui, a Igreja de Stª Maria dos Olivais, onde ainda não fui. Só fui à de S. João Baptista, à de Stª Iria e à Ermida da Srª da Piedade.
Hoje senti medo de subir aquelas escadas. Depois mostro-vos as fotos para verem aquela miséria.
De resto, aparentemente, Tomar não está muito destruída.
O Nabão está sujo.
O União está no mesmo sítio.
Beijinhos para vocês e para o outro Nabão.
Vasco
Que saudades de receber uma carta pelo correio! Abrir o envelope, ver o que tem dentro... Obrigada filho.
Até um dia destes.
segunda-feira, 25 de abril de 2011
25 de Abril

Podia vir El-Rei Sebastião.
Havia alegria, havia cravos,
E havia em cada alma a interrogação:
Será hoje que deixamos de ser escravos?
Ou voltará tudo a ser cinzento?
Vai acabar a guerra de verdade?
Quando saem os presos da prisão?
O sol abriu e, a esperança foi certeza.
Já se ouviam hinos à Santa Liberdade,
Já qualquer um era amigo, irmão.
E eu berrei bem alto a Portuguesa.
Durou pouco a ilusão de Liberdade.
Continuou a haver pobres sem pão.
E hoje resta apenas a saudade
De a todo o mundo se chamar irmão.
Maria
25 de Abril de 2011
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Torga, Galafura, um Duriense e eu

À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.
Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!
Miguel Torga
Uma tarde em Lamego, depois de me ouvir dizer que, no dia seguinte iria a Galafura, um cunhado de meu filho, homem do Douro até à medula, deu-me um conselho: “Quando lá chegar, antes de olhar a paisagem, procure uma pedra onde estão uns versos do Torga. Leia-os bem e, depois olhe. Verá a beleza da paisagem através dos olhos dele”.
Fiz exactamente o que ele me dissera. Meu Deus! A beleza que vi!
Sem querer gabar-me, André e Osvaldo, vi com os olhos que vocês o vêem, aquele Douro e, senti que podia ser ali a minha terra.
Cada vez que volto lá, é com os versos e os olhos de Torga que o vejo. Lindo, majestoso, duro, verde. E amo-o porque Torga me ensinou a amá-lo. E entendo o vosso amor por toda aquela beleza, regada a sangue, suor e lágrimas dos homens que a fizeram mais linda, do que a Natureza já a tinha feito.
Boa Páscoa para todos.
Até um dia destes.
Maria
domingo, 3 de abril de 2011
Era uma vez cinco irmãs...
sexta-feira, 25 de março de 2011
Carta a minha Mãe
Era assim que começavam todas as cartas que te escrevi.
Hoje não posso ir ao cemitério como é costume. Não vou limpar a tua casa pequenina, não vou embalar a tua urna contra o peito, não vou deixá-la cheia de flores, como nos outros anos. Estou doente, Mãe. Por isso resolvi escrever-te.
Há trinta e nove anos que partiste. Trinta e nove anos de saudade, de mágoa, de factos que aconteceram e, tu não viste.
Deixaste três netos, nasceram mais três. Os três que te conheceram, lembram-te com saudade. O meu Vasco sabe de ti tudo o que eu e o meu Pai lhe contámos. Para os meus netos és a “Mãe da Avó” que já partiu há muito.
Estou a ouvir Chopin, o teu Chopin. Depois, vou ler um poema de Florbela, outro do Pedro Homem de Mello, um do António Nobre. Os teus poetas, Mãe. Vou encher de flores o teu retrato, vou lembrar os dias felizes que vivemos juntas.
Ouvindo Chopin, lembro-me de nós as duas. Tu sentada na cadeira, eu no chão, com a cabeça nos teus joelhos, sentindo as tuas mãos no meu cabelo numa carícia terna.
Os manos já me telefonaram. Já trocamos o beijo da saudade. O João foi comprar as flores. Tem tomado bem conta de mim, como lhe pediste.
Beijos e saudades de todos.
Um beijo e a saudade imensa da tua
Filha
Até um dia destes.
quarta-feira, 16 de março de 2011
Torga de novo
Farta de escrever disparates, sem inspiração, lembrei-me de um poema de Torga. Ficam os meus amigos mais bem servidos e, dou a conhecer mais uma poesia linda, triste e, atrevo-me a dizer actual.
Em 1515 era governador da Índia D. Afonso de Albuquerque. Depois de muito lutar, ferido e doente, ainda quis deixar uma carta a El-Rei D. Manuel uma carta.
A carta é esta:
“"Senhor. - Eu nam escrevo a vos alteza per minha mão, porque, quando esta faço, tenho muito grande saluço, que he sinal de morrer: eu, senhor, deixo quá ese filho per minha memória, a que deixo toda minha fazemda, que he assaz de pouca, mas deixo lhe a obrigaçam de todos meus seruiços, que he mui grande: as cousas da india ellas falarám por mim e por elle: deixo a india com as principaes cabeças tomadas em voso poder, sem nela ficar outra pendença senam cerrar se e mui bem a porta do estreito; isto he o que me vosa alteza encomendou: eu, senhor, vos dey sempre por comselho, pera segurar de lá india, irdes vos tirando de despesas: peçoa vos alteza por mercee que se lembre de tudo isto, e que me faça meu filho grande, e lhe dè toda satisfaçam de meu seruiço: todas minhas confianças pus nas mãs de vos alteza e da senhora Rainha, a elles m emcomemdo, que façam minhas cousas grandes, pois acabo em cousas de voso seruiço, e por elles vollo tenho merecido; e as minhas tenças, as quaes comprey pela maior parte, como vossa alteza sabe, beijar lh ey as mãos pollas em meu filho: escrita no mar a 6 dias de dezembro de 1515. Afomso dalboquerque" carta de Afonso de Albuqerque ao rei D. Manuel I[“.
Inspirado nela, escreveu Miguel Torga um dos seus melhores poemas.
Afonso de Albuquerque de Miguel Torga
“Quando esta escrevo a Vossa Alteza
Estou com um soluço que é sinal de morte.
Morro à vista de Goa, a fortaleza
Que deixo à índia a defender-lhe a sorte.
Morro de mal com todos que servi,
Porque eu servi o rei e o povo todo.
Morro quase sem mancha, que não vi
Alma sem mancha à tona deste lodo.
De Oeste a Leste a índia fica vossa;
De Oeste a Leste o vento da traição
Sopra com força para que não possa
O rei de Portugal tê-la na mão.
Em Deus e em mim o império tem raízes
Que nem um furacão pode arrancar...
Em Deus e em mim, que temos cicatrizes
Da mesma lança que nos fez lutar.
Em mais alguém, Senhor, em mais ninguém
O meu sonho cresceu e avassalou
A semente daninha que de além
A tua mão, Senhor, lhe semeou.
Por isso a índia há de acabar em fumo
Nesses doiros paços de Lisboa;
Por isso a pátria há de perder o rumo
Das muralhas de Goa.
Por isso o Nilo há de correr no Egito
E Meca há de guardar o muçulmano
Corpo dum moiro que gerou meu grito
De cristão lusitano.
Por isso melhor é que chegue a hora
E outra vida comece neste fim...
Do que fiz não cuido agora:
A índia inteira falará por mim.”
Leiam e pensem.
Até um dia destes
Maria
quinta-feira, 3 de março de 2011
Sou do Benfica

É claro, que a esta hora, já todos estão a pensar porquê sinto necessidade de falar de uma coisa que nada me diz.
Passo a explicar: Sou do Benfica porque quase toda a minha família o foi ou é. Alguns foram fundadores. Outros houve que, foram adeptos furiosos. Meu Pai tinha um primo que inscreveu o filho no Benfica, ainda antes de o registar. Vinha à bola com o puto, ficando a mulher e as filhas em casa a ouvir o relato. Não que a bola lhes interessasse muito mas, se o Benfica ganhasse, iam jantar fora, se o Benfica perdesse, iam para a cama, para não aturarem o Benfiquista doente. Meu Pai, pouco aficcionado mas, Benfiquista, dizia sempre a velha frase: “ O Benfica ganha, vivó Benfica, o Benfica perde, viva o Benfica”. Vibrou quando ganhámos as taças da Europa. Se o jogo era com o Porto ou, Sporting, torcia pelo Benfica, mas não fazia grande alarido.
Porque sou Benfiquista? Por tradição. Talvez porque gosto de “papoilas saltitantes”, embora nunca tenha visto nenhuma, talvez porque gosto de vermelho e de águias.
Ontem, mais uma vez, o Benfica ganhou contra o Sporting. Desculpem meus queridos Sportinguistas, mas gostei. Desejo muito que o Sporting volte ao que já foi.
Vivó Benfica!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Até um dia destes.
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Cheiros e cheirinhos
Hoje senti um leve perfume que me lembrou a minha Mãe. O cheiro dela está sempre presente mas, foi um leve cheiro a rosa que me despertou. Ela fazia uma água de rosas com folhas delas, álcool, tintura de benjoim e água. Era o seu perfume, misturado com o do creme Nívea e o Pó de arroz Thaber e, claro, o cheiro a mãe, esse cheiro que nós nunca esquecemos, porque é único.
Depois, lembrei-me de outros aromas: o cheiro a pinhal, a Ria, a moliço. A casa da quinta que cheirava a lenha a arder, a comida, a bolos, a camas com colchões de palha de milho, lençóis cheirando a lavado e alfazema, grossos cobertores de papa. Quartos cheirando a cera, aos perfumes e pós das tias, o cheiro de cada uma. De manhã o perfume dos sabonetes Confiança, que todas usavam, enchia a casa de mistura com cheiro a manteiga acabada de fazer, pão quente, café e chá. Era bom.
Lembro o cheiro da Maria do Céu, a empregada que fazia a manteiga, cheiro a leite, a avental branco muito limpo, onde às vezes me encostava quando estava triste ou me ralhavam.
A minha Avó cheirava a lavanda. O meu Pai a sabão e Pó Avelar para os dentes. Perfume não era para homens, dizia. Cheirava a tabaco e a Pai.
O meu marido, antes de se tornar num anti-tabagista chato, cheirava a Clan ou a Negritas. É raro pôr perfume mas gosto do cheiro dele e conheço-o a léguas.
Ficava aqui o dia todo a falar dos cheiros que gosto e, dos que não gosto
Só falta dizer que sou infiel aos perfumes que uso. Há três que são imutáveis: “L’Air du Temps” de Nina Ricci, “Calèche” de Hermès e “Intuition” de Estée Lauder. Depende do dia e da disposição.
Tenho-os sempre. O fornecedor? O meu marido, claro.
Até um dia destes.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Carta Anónima
Esta tem que ser assim por várias razões: Não quero magoar ninguém, nem ser mal entendida.
Não é uma carta de amor nem ódio, não é saudade, é lembrança.
Quando tinha desasseis anos, conheci alguém por quem me apaixonei ou julguei apaixonar-me. Era um rapaz bonito, tipo galã de cinema, com dezanove anos. Ao princípio fiquei deslumbrada. Ir pela rua com ele dava-me orgulho, sentia a inveja das outras mocinhas e, gostava. As conversas dele eram um pouco ocas mas, vestia bem e, como já disse, era bonito. Um dia, no intervalo de um filme de Cantinflas, ouvi-o a falar com a moça que nos acompanhava e, fiquei perplexa. Não falavam do filme nem de nada de interesse. Simplesmente, discutiam o número de camisolas, calças, camisas, casacos, sobretudos, sapatos... só faltou enumerarem as cuecas e peúgas. Na minha cabeça fez-se um grande ponto de interrogação. Eu que tinha pouca roupa e ligava pouco a essas coisas, ali, feita parva, a olhar os cartazes do cinema e, pensando com os meus botões: “Serei capaz de viver uma vida com alguém assim?” As conversas em casa eram outras. Literatura, História, Política... Felizmente ou infelizmente, a campainha do cinema tocou.
Entretanto a minha Mãe adoeceu. Foram nove meses de medo, angústia, terror de a perder. Ele foi impecável. Sempre presente, sempre paciente para me ouvir e limpar as lágrimas. Isso lhe devo e agradeço.
Os anos passaram, os meus pais conheciam-no, o namoro era oficial. Às vezes pensava se era aquilo que eu queria, mas deixava andar por comodismo. Sabia que não queria ser apenas a “esposa” de um senhor. Queria ser mulher de um homem. Queria caminhar ao lado e não atrás desse homem.
Um dia recebi uma carta do dito cujo, dizendo gostar muito de mim mas, por motivos vários, ter-se casado com outra. Não senti grande desgosto. Despeito, sim. Acima de tudo uma sensação de liberdade enorme. Quando soube que os tais motivos se resumiam num carro de luxo e uma vivenda mobilada, a minha primeira reacção foi rir. “O tal grande amor” custara um carro e uma casa. Fiz as contas e achei que valia mais. Esqueci e esperei. Hoje, ao fim de cinquenta anos, lembrei-me desta história e, pensei que devia agradecer-lhe a oportunidade que me deu. Nem sei se é vivo ou morto. Não lerá isto de certeza. Mas agradeço da mesma maneira que lho diria cara a cara. Afinal, eu fiquei com a melhor parte. Encontrei um homem a sério, tive três filhos, dois netos, tenho a minha casa, um carro e, acima de tudo, sou feliz. E tu, anónimo? Foste feliz? Valeu a pena?
Tens muitas roupas de marca, muitos carros, chegaste onde querias? Espero sinceramente que sim. Nunca te quis mal. Melhor, raramente penso que exististe, que passaste um dia pela minha vida. E se alguma vez pensares em mim, não tenhas remorsos (sabes o que isso é?). Fizeste-me um grande favor. Por isso, de novo te agradeço.
Até nunca anónimo.
Até um dia destes, meus amigos.
sábado, 1 de janeiro de 2011
Tomar Sempre
Claro que tenho outros desejos. Saúde para os meus doentes, Paz para os mortos e vivos, entendimento neste mundo desavindo.
É só isto que desejo.
Para todos vós, meus amigos, que tudo vos corra como desejam.
Um grande abraço para todos.
Até um dia destes.
Maria